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domingo, 16 de janeiro de 2011

Revolução num país árabe

A revolta tunisiana, chamada de A Revolução do Jasmin, lembra a iraniana contra o Xá, revolta frustrada que levou ao fundamentalismo religioso. Mesmo sendo o mais liberal dos países árabes, essa hipótese teocrática pode ocorrer na Tunísia, se não for rapidamente restituída a liberdade aos partidos da oposição, aos jornais e ao povo, com a preparação de uma agênda para eleições livres.


Por Rui Martins (*)

Berna (Suiça)Nunca foi tão verdadeiro aquele slogan « o povo unido derruba a ditadura ». O ditador tunisiano Ben Ali, depois de 24 anos de poder, após um golpe de Estado no presidente vitalício Burguiba, foi derrubado pela força do povo, que vinha exigindo nas ruas, nestas últimas semanas, sua partida. A revolta popular começou dia 17 de dezembro, quando um camelô, desesperado, se imolou pelo fogo. Durante as agtações, houve outras cinco imolações voluntárias pelo fogo, praticadas por jovens desesperados e desempregados.



A revolução popular e espontânea na Tunísia foi a primeira registrada num país árabe, cuja população anseiava por liberdade e democracia. Ela certamente servirá de referência para as populações do Egito, Jordânia, Argélia e outros países árabes, que, além de viverem em regimes fechados, enfrentam a pobreza, desemprego e corrupção. Até agora, só o coronel Kadhafi, da Líbia, se pronunciou a respeito no mundo árabe, e de maneira surpreendente, pois lamentou a queda de Ben Ali.

Embora a Tunísia tenha sido nestes anos Ben Ali, um muro contra o fundamentalismo islamita, o que valia o apoio dos ocidentais ao ditador, era igualmente um ditadura marcada pela corrupção, onde os intelectuais e jornalistas opositores ao regime eram presos , submetidos à tortura ou obrigados a se exilar, geralmente na França.

A França, que sempre apoiou o governo Ben Ali, a ponto de praticamente oferecer ajuda, ainda na semana passada, ao ditador, mudou totalmente de posição. De nada adiantou a Ben Ali a velha amizade com o neocolonialismo francês. Tanto ele, como sua família, tiveram negada a possibilidade de viverem em Paris seu exílio. Sua segunda esposa, Leila Trabelsi e filha, que vieram da Tunísia para um hotel em Eurodisney, foram obrigadas a retomar o jato privado com direção à Arábia Saudita, onde está o ex-ditador.

Ben Ali tinha tentado, em último recurso depois das violências policiais, acalmar o povo, pela televisão, prometendo criar empregos, num país onde metade da juventude é desempregada, e deixar o poder ao fim do seu mandato, em 2014, sem tentar nova reeleição, mas já era tarde demais e o povo tunisiano não aceitou.

Durante essas duas décadas de ditadura, o medo, a repressão, a delação, o reforço do controle da população por agentes secretos tinham transformado os tunisianos num povo submisso, incapaz de fazer críticas ao seu presidente-ditador. Foi a crise econômica, a corrupção instaurada no governo pela segunda esposa do ditador, favorecendo as famílias de ambos que atearam o estopim.

A maneira como os populares, desesperados, sem emprego muitos deles com diplomas universitários, enfrentavam os policiais e militares mostrou a transformação de um povo cordeiro numa população revoltada, incapaz de ser dominada mesmo com tiros de balas reais, causadores de mais de 60 mortes em números oficiais, que, na realidade, poderão ser muito mais.

A revolta levou às pilhagens de armazens, supermercados, lojas, pertencentes à família do ditador, e mesmo concessionárias de automóveis, como a do genro do ditador, logo depois de anunciada a fuga de Ben Ali. Durante o fim-de-semana, notícias do sul da Tunísia falavam num clima de caos, marcado por ataques e pilhagens, temendo-se que a situação social seja difícil de controlar. Em Tunis, foi imposto o toque de recolher.

Um líder da oposição, alertou em Paris quanto à necessidade da formação de um governo provisório, com a participação da oposição, mas temendo já ser tarde, dado o risco de uma guerra civil ou de um novo golpe, impedindo que a Tunísia tenha a possibilidade de conhecer a democracia. Esse apelo teria sido ouvido em parte pelo presidente interino, que convocou eleições livres para dentro de 60 dias.

A revolta tunisiana, chamada de A Revolução do Jasmin, lembra a iraniana contra o Xá, revolta frustrada que levou ao fundamentalismo religioso. Mesmo sendo o mais liberal dos países árabes, essa hipótese teocrática pode ocorrer na Tunísia, se não for rapidamente restituída a liberdade aos partidos da oposição, aos jornais e ao povo, com a preparação de uma agênda para eleições livres.

A queda de Ben Ali, lembra igualmente o fim do ditador Ceausescu na Romênia. Talvez Ben Ali tenha sentido o perigo de ser também morto como Nicolau Ceausescu, preferindo fugir o país ao perceber ser impossível restabelecer a ordem e a calma, na Tunísia, sem um massacre.

A ditadura de Ben Ali gozava do apoio da França neocolonialista, que ainda há uma semana, oferecia a Ben Ali sua experiência em termos de contenção de desordens públicas. Entretanto, tão logo se anunciou a fuga de Ben Ali, o governo francês anunciou não ser desejada sua presença como exilado, talvez devido à presença, na França, de uma enorme população imigrante tunisiana e dos líderes da oposição a Ben Ali.

Diante disso, Ben Ali preferiu se exilar na Arábia Saudita com sua esposa Leila, considerada pela oposição como uma das grandes responsáveis pela corrupção que favorecia seus familiares.


*Rui Martins é jornalista. Foi correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. É autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criador dos "Brasileirinhos Apátridas" e da proposta de um Estado dos Emigrantes. É colunista do site "Direto da Redação" e vive em Berna, na Suíça, de onde colabora com o blog "Quem tem medo do Lula?".


=> Artigo publicado originalmente no site "Direto da Redação".

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