Gustavo Arja Castañon
ENTERRO DOS OSSOS ELEITORAIS 2
Meu segundo artigo para exorcizar esta campanha é sobre o rumo do derrotado. O discurso de derrota do candidato José Serra, no dia 31 de outubro, foi um dos episódios mais mesquinhos e delirantes da história política brasileira. Falou em forças terríveis, cavar trincheiras, construir fortalezas, começo de luta, enquanto a presidente eleita falava em conciliação. A guerra que ele começou nesta eleição, para ele, está apenas começando.
Mas ele tem 68 anos, está sem mandato e inviável politicamente. Isso poderia ser simplesmente motivo de piada, mas há algumas coisas naquele discurso sombrio e medíocre que não permitem a um espectador atento o luxo do riso. É sobre o perigo que estes sinais representam que se trata este artigo.
Serra costumava a encerrar seus horários gratuitos e debates com uma ladainha marqueteira que repetia, com variações: “Eu vou com as mãos limpas, cabeça erguida e coração leve para o dia da vitória”. No dia da derrota, lá estava ele, com as mãos imundas, o coração pesado com o chumbo do rancor, mas indubitavelmente de cabeça erguida. Ele não sente culpa.
Outras expressões repetidas exaustivamente por Serra durante a campanha foram “Vamos juntos”, “verde e amarelo no peito”, “fé em Deus”, “nossos valores” e, é claro, “Serra é do Bem” seu slogan. Hoje, na política eleitoral dominada por marqueteiros, a senha é: se um candidato repete uma expressão à exaustão é porque ele precisa fixar ou mudar uma imagem. Que imagens Serra precisava mudar ou fixar?