O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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Peço que, quem queira continuar acompanhando o meu trabalho, siga o novo blog.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Jefferson e Estadão: “JN ajudou Serra”


Do blog Escrevinhador

Não é nenhum blogueiro que afirma. É o analista (e bom jornalista) do “Estadão”, João Bosco Rabello, quem analisa a forma como Bonner e Fatima trataram Serra na sabatina do “JN”:

“Foi o candidato que passou menos tensão (…) Teve espaço para desenvolver sua gestão e suas ideias na saúde e foi contemplado pelos apresentadores com o bônus de discorrer sobre as vantagens de um sistema de pedágio que premia os resultados das rodovias estaduais. Não foi pressionado nos temas mais delicados. Foi mais fácil para ele que para seus antecessores os 12 minutos na bancada do Jornal Nacional.”

E não é nenhum deputado do PT que reforça, mas o Roberto Jefferson, hoje aliado de Serra:

“William Bonner e Fátima Bernardes facilitaram para o meu candidato. Foram mais amenos com ele.”

Preciso dizer algo mais?

Preciso.

Como já afirmei aqui, a blogosfera talvez tenha força para oferecer um contraponto à velha mídia impressa. Mas a Globo, sozinha, ainda faz estrago. Por hora, vai agir como na sabatina dos candidatos. Finge que trata todo mundo igual, mas vai empurrando Serra.

Ah, mas a maioria percebe que Serra foi favorecido. Quem percebe essas sutilezas é o povo que acompanha política. O povão dos rincões, da periferia, fica com a imagem geral: Serra pareceu mais calmo que Dilma. Pouco importa o que ele disse. A imagem final foi levemente favorável a ele.

Ah, mas Dilma foi maltratada e mesmo assim manteve-se relativamente centrada. Ótimo. Mas para o povão isso não é mais que obrigação.

A tática é dar a ele a chance de chegar à reta final com cerca de 30% dos votos. O “DataFolha” também deve colaborar para isso. Vocês verão a próxima pesquisa… Anotem aí.

Mantendo Serra nesse patamar, e desde que Marina e Plinio fiquem com cerca de 10%, Dilma deve se manter em algo em torno de 45% dos votos.

Se ficar assim, Serra tem chance de forçar um segundo turno. (Dilma 45% x 40% para outros candidatos). E, aí, vocês verão do que a Globo é capaz: ´mudar 3% a 5% dos votos na reta final, é o que basta.

O Lula pode receber o Marinho (não sei qual deles, João, Roberto, José?) no Palácio. A Dilma pode fazer pose de boazinha. Do outro lado, os pitbulls estão prontos para atacar. Não precisam assumir o ônus de uma campanha aberta pró-Serra. Pra isso, há a “Veja”. Basta à Globo, na última semana antes do primeiro turno, “repercutir” alguma denúncia pesada contra Dilma.

Uma semana de repercussão, dez minutos por dia no JN. A Globo já não fala sozinha como há vinte anos. Ok. Mas o JN ainda tem o triplo de audiência do segundo jornal mais visto durante a noite.

Acreditem: faz efeito. Talvez, a Globo já não ganhe eleição. Mas pode empurrar pro segundo turno, como em 2006.

Para contrapor a força (não menosprezem essa força) da Globo, só há um elemento: Lula. Ele vai comprar a briga de frente? Vai dizer, olho no olho do eleitor durante o horário político, que a televisão mais poderosa do país favorece um candidato – por isso o eleitor precisa ter um pé atrás com o noticiário?

Não sei. Não tem sido o estilo de Lula.

Mas é preciso disseminar desde agora essa idéia – de resto, absolutamente verdadeira – de que a Globo tem lado. Não adianta dizer isso na reta final. Aí, será tarde. E a Globo já estará “repercutindo” as denúncias da “Veja” e da “Folha” – sob a coordenação de Ratzinger, o príncipe das sombras do jornalismo global.

À pupila, com carinho: a renomada economista Maria da Conceição Tavares, ex-professora de Serra e Dilma, declara voto na petista



Lembrando ainda que Serra se diz formado, mas ninguém sabe onde anda o diploma...

De mulheres e de morte

De mulheres e de morte

Espantoso é que ainda haja quem defenda o agressor. Eliza, cujo corpo ainda não foi encontrado, ganhou pecha de “Maria Chuteira”. Maristela foi taxada de adúltera, e o marido já era ex, há dois anos. São inesquecíveis as palavras do sogro, criminalista de renome: "se não matasse, não comia na minha mesa".

Por Sulamita Esteliam (*)

No aniversário de quatro anos da sanção da Lei Maria da Penha, dia 06 de agosto, Pernambuco e sua capital, Recife, registram queda nos índices de violência doméstica letal contra a mulher. São ligeiros os recuos, mas, num país onde se mata uma mulher a cada duas horas, segundo pesquisa recentemente divulgada pelo Instituto Sangari, de Brasília, qualquer redução é avanço. Afinal, é de vidas que se trata. Nesta contagem, o “Leão do Norte” figura em 5º lugar, com taxa de 6,5 em 100 mil e a capital pernambucana em 40º, com 10,6 dentre os municípios com mais de 10 mil mulheres. Pelo critério, Alto Alegre, em Roraima, é o mais violento, com índice de 22,0. A média nacional é de 4,2. O levantamento foi realizado com base nos dados do SIM – Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde. De 2003 a 2007, foram assassinadas, em média, 4 mil mulheres por ano, num total de 19.440 no quinquênio. Agregados os cinco anos anteriores, a matança atinge 41.532 mulheres.

Como se vê, os números do recorte de gênero feminino no Mapa da Violência 2010, do Instituto Sangari, são assustadores. Apontam o Espírito Santo e Vitória como estado e capital mais violentos para com a mulher, no período 2003/2007. A média de homicídios femininos naquelas hostes é de, respectivamente, 10,3 e 13,3 em 100 mil. Quando a classificação leva em conta as capitais, Recife, está na segunda posição. Em terceiro, vem Belo Horizonte, a cidade cordial, com 7,8. Aracaju, João Pessoa, Rio de Janeiro e Porto Alegre ocupam as posições subsequentes, com o mesmo índice: 5,4 em 100 mil. Brasília está em 9º lugar, com 4,9 e São Paulo vem em 10º, com 4,7. O cálculo, obviamente, é proporcional à população-alvo.

O mapa falha, todavia, quando não apresenta o quesito raça, nos homicídios femininos, como faz com as taxas globais e de assassinatos dentre os jovens. Se o fizesse, muito provavelmente, concluiria que boa parte das vítimas é negra, além de pobre, e suas mortes não viram manchetes de jornal.

Cerca de 40% das mulheres assassinadas estão na faixa etária de 18 a 30 anos. Jovens como a paranaense Eliza Samúdio, que segundo apurou a polícia, foi sequestrada no Rio de Janeiro, levada para Minas Gerais, onde teria sido estrangulada, esquartejada e seus restos jogados aos cães, num sítio nas proximidades de Beagá. O caso ganhou notoriedade, não pela barbaridade do crime, ou não só. Mas, principalmente, porque o mandante teria sido o goleiro Bruno, do Flamengo, com quem Eliza teve um caso - e que seria o pai do filho ainda bebê, a quem ele se recusa a dar o nome. Bastava um simples exame de DNA para dirimir dúvidas e querelas.

As crianças, destaque-se, assistem às agressões. É o que dizem 68% dos casos relatados ao 180, número do disque-denúncia da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres. Não raro, 15%, são também alvos da violência. A exemplo do casal de filhos de Maristela Just, a pernambucana de 25 anos assassinada com cinco tiros pelo marido, no bairro de Candeias, Jaboatão dos Guararapes. Sobrou bala e sequelas – físicas e psicológicas - para a menina, de cinco anos, e o menino, de dois anos e meio. Adultos, ambos foram testemunhas-chave no julgamento do pai, 21 anos depois do crime, em junho último.

Bruno e alguns de seus cúmplices estão presos, preventivamente, enquanto aguardam julgamento. José Ramos Lopes Neto foi condenado a mais de 90 anos de cadeia, por homicídio qualificado, mais tentativa de parricídio. À revelia, pois nem o assassino confesso nem o advogado compareceram à sessão, pela segunda vez, em menos de dois meses. Continua foragido. A diferença entre os dois casos não está nas circunstâncias. Nem tampouco se deve ao tempo decorrido entre um e outro episódio. A diferença é a Lei Maria da Penha. É ela que dá instrumentos para enfrentar a impunidade, ao prever rigor no trato desse tipo de violência, mesmo quando não desagua em morte.

Faltam estudos que tracem o perfil do agressor. Sabe-se, contudo, que assim como o homem que reprime, oprime e/ou espanca, o assassino é, quase sempre, velho conhecido: marido, namorado, ex-companheiro ou parente; por isso, violência doméstica. Em geral, o homem rejeitado, ou amado, por ela ou de quem teve a desventura de parir descendente. O motivo pode ser nenhum - se é que possa haver razão ou cultura que justifique a desumanidade. Seguramente envolve machismo, baixa autoestima, sentimento de posse ou misogenia - desprezo pelas mulheres. Travestidos em macheza e arroubos de valentia. A palavra talvez seja desamor. Covardia, com certeza.

Espantoso é que ainda haja quem defenda o agressor. Eliza, cujo corpo ainda não foi encontrado, ganhou pecha de “Maria Chuteira”. Maristela foi taxada de adúltera, e o marido já era ex, há dois anos. São inesquecíveis as palavras do sogro, avô dos filhos que ela gerou com o homem que se transformou em seu inimigo fatal. Criminalista de renome, às vésperas do júri popular - que seu conhecimento das artimanhas jurídicas conseguiu protelar por duas décadas -, não se furtou em pregar, nas páginas dos jornais e ondas de rádios: “Se não matasse, não comia na minha mesa”. A OAB-PE o está processando por apologia ao crime.

Talvez o tal senhor não tenha atentado para o sinal dos tempos. De fato, homens com pensamento semelhante continuam na contramão. E os dados do Mapa da Violência 2010, são prova disso. O mesmo Pernambuco que se esforça para fazer valer seu Pacto pela Vida, programa do governo estadual para redução da violência, ainda está muito longe de poder comemorar vitórias, tanto no geral quanto no particular. No que diz respeito ao sexo feminino, que ora é a nossa pauta, a situação continua grave, sim: até o dia 4 de julho, por exemplo – as estatísticas oficiais não acompanham ritmo e frequência das mortes – 121 mulheres e meninas haviam sido assassinadas.

Entretanto, o Departamento de Polícia da Mulher, da Secretaria de Defesa Social no estado, garante que os números se mantém decrescentes, sobretudo no último ano. Um dos motivos, reconhece, é a força da Lei Maria da Penha, que obrigou o Estado a se estruturar para tirá-la do papel. O outro é o vigor dos movimentos de mulheres, um dos mais organizados e criativos do país. Passeatas e apitaços para cobrar providências das autoridades e sacudir a leniência da sociedade, fazem parte da paisagem da “Veneza Brasileira”. Unem militantes feministas e políticas, intelectuais e mulheres de terreiro, artistas e lideranças populares. As performances das Loucas da Pedra Lilás, por exemplo, grupo de teatro de rua que denuncia a violência sexista no Recife, agregam arte à repercussão do drama.

No concreto, a busca de mais agilidade no atendimento começa na descentralização e interiorização das delegacias e centros de referências de mulheres. Já são sete o número de Delegacias de Polícia de Prevenção e Repressão de Crimes contra a Mulher – Recife, Jaboatão dos Guararapes, Paulista e Ipojuca, na área metropolitana; Caruaru, no Agreste, Petrolina e Surubim, no Sertão. Há previsão de mais seis em diferentes regiões do estado. E há uma Delegacia de Polícia de Plantão para Crimes contra a Mulher, que funciona com quatro turmas, em regime de 24 horas, na capital.

O trabalho ganha efetividade na adoção de medidas protetivas para garantir a integridade física e moral das vítimas potenciais, asseguram os responsáveis. O afastamento imediato da mulher de sua casa, quando ela sofre violência no seu convívio familiar é uma das práticas-padrão. A outra é o encaminhamento do pedido ao Judiciário, em 48 horas, impreterivelmente. Segundo a delegada Lenise Valentim, gestora do Departamento de Polícia da Mulher foram expedidas mais de 4 mil medidas protetivas nos últimos quatro anos, e efetuadas algumas prisões de agressores que as desrespeitaram.

O esforço no combate à violência, explica Lenise Valentim, passa pela capacitação dos agentes da lei para receber e atender bem a mulher agredida, e tomar as providências necessárias para se evitar o mal maior. O foco, entretanto, é a prevenção, através de campanhas educativas de mulheres e homens, num trabalho conjunto de governo e sociedade, de todos e de cada um. Nas palavras da delegada Valentim: “É preciso conversar com o homem, porque é ele quem bate, é ele quem mata. Convocar os homens a serem machos de verdade”.

(*) Sulamita Esteliam é jornalista e escritora. Autora dos livros Estação Ferrugem, romance-reportagem que resgata a história da região operária de Belo Horizonte-Contagem, Vozes, 1998; Em Nome da Filha – A História de Mônica e Gercina, sobre violência contra mulher em Pernambuco; e o infantil Para que Serve Um Irmão, os dois últimos ainda inéditos. Apresenta, nas manhãs de sábado, o programa Violência Zero pela Rádio Olinda AM – 1030. Colabora com o blog "Quem tem medo do Lula?".

A HISTÓRIA REAL DO BRASIL

A HISTÓRIA REAL DO BRASIL


Laerte Braga


Em pleno funcionamento do Congresso Nacional Constituinte (não tivemos Assembléia Nacional Constituinte) e ainda sob a tutela de setores das forças armadas, pior, sendo presidente da República José Sarney (aliado incondicional da ditadura militar), o trêfego Pimenta da Veiga, deputado eleito pelo PMDB de Minas, buscava assinaturas para propor emenda ao anteprojeto de Constituição que determinava a liberação de documentos secretos do governo federal após vinte e cinco anos e em casos extremos, após cinqüenta anos, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos.

Um dos deputados procurados por Pimenta da Veiga foi Amaral Neto, oriundo do lacerdismo e figura fundamental para a ditadura em seus primeiros momentos. A resposta do deputado carioca foi fulminante – “você está louco, quer por fogo no Brasil?”

Pimenta da Veiga, bem ao seu estilo tucano (é anterior à fundação do PSDB) respondeu que aquilo não era para valer, era apenas para fazer média com seu eleitorado.

Não prosperou como era fácil de prever. E Amaral Neto não assinou.

A candidatura do general Ernesto Geisel à presidência da República em 1974 foi imposta por seu irmão, Orlando Geisel, todo poderoso ministro do Exército, do famigerado governo de Garrastazu Medice.

Geisel fora chefe do Gabinete Militar de Tancredo Neves, no breve período parlamentarista no governo de João Goulart, historicamente era ligado ao marechal Lott – falo de Ernesto – e tido como militar anti-americano entre seus pares. Escapou do processo de degola nas forças armadas após o golpe de 1964 por conta de dois fatores. O primeiro deles Castelo Branco. Foi o presidente que abriu a temporada de barbárie e era amigo íntimo do Geisel que viria a ser o futuro presidente. Segundo, seu próprio irmão, Orlando.

De qualquer forma foi jogado em escaninhos das forças armadas. Primeiro na PETROBRAS e em seguida no STM (Superior Tribunal Militar), uma espécie de velório para militares incômodos ou então prêmio para amigos dos donos do poder.

O principal mentor político de Geisel, ou oráculo do ex-presidente, era Tancredo Neves, então deputado federal do PMDB. E foi de Geisel que partiram as primeiras articulações dentro das forças armadas para levar Tancredo a ser o primeiro presidente civil no pós ditadura.

Entre o golpe de 1964 e sua candidatura presidencial Ernesto Geisel dedicou-se ao exercício de não falar nada, entrar na muda como dizem em Minas, para evitar ser estraçalhado pela chamada linha dura – extrema direita – do Exército brasileiro.

A própria escolha de Garrastazu Medice se deu após o golpe dentro do golpe em 1968, com a incapacidade do presidente Costa e Silva, num processo eleitoral interno, dentro das forças armadas. Disputou a indicação e venceu o general Afonso de Albuquerque Lima, que acabou ministro do Interior.

Medice era o preferido dos grupos de repressão e as eleições nos quartéis quase que repetiram o sistema de votação anterior à revolução de 1930. Voto aberto e sob vigilância dos setores que detinham os comandos. Era uma época em que a tal hierarquia se fundava na maior vocação para a barbárie. Vale dizer que em determinados momentos sargentos mandavam mais que majores, capitães, por aí afora.

Contava o número de escalpos de presos políticos torturados, presas estupradas, assassinatos, o de sempre em regimes dessa natureza e com essa característica.

Sem julgamento de mérito, Ernesto Geisel equilibrou-se entre concessões à linha dura e atitudes como a mandar Delfim Neto para ser embaixador em Paris, numa espécie de exílio dourado, mas longe do Brasil, conhecida a extraordinária capacidade do ex todo poderoso ministro para articulações de bastidores (fofocas para ser mais direto).

A cada passo numa direção Geisel dava outro noutra direção.

O assassinato de Wladimir Herzog foi um desafio à determinação do general presidente de colocar um fim à tortura. Mas só conseguiu demitir o comandante do antigo II Exército, com a segunda morte, a do operário Manuel Fial Filho. Geisel, dentro de seu Ministério, tinha um adversário, Sílvio Frota, ministro do Exército e ligado à linha dura.

A vitória final de Geisel só veio quando da indicação do general João Baptista de Oliveira Figueiredo para seu sucessor. Com apoio do chefe do Gabinete Militar Hugo de Andrade Abreu o presidente deu um contra golpe às manobras de Sílvio Frota. O ministro pretendia ser ele o indicado para concorrer à sucessão presidencial.

A rigor, Frota, que tinha como certo o apoio da maioria da tropa, foi pego de surpresa e praticamente ficou detido no chamado Forte Apache – Brasília – enquanto Hugo Abreu anulava suas forças principalmente dentro do Exército.

O golpe militar de 1964 promoveu o maior expurgo na história das forças armadas brasileiras. Mais de dois mil e quinhentos oficiais, suboficiais e sargentos foram reformados ou demitidos, muitos deles presos e assassinados, caso do capitão Lamarca e do major Cerveira, por exemplo. Ou do brigadeiro Rui Moreira Lima, de larga tradição legalista dentro da força aérea, vivo até hoje e exemplo de brasilidade em todos os sentidos.

O próprio Eduardo Gomes, fundador e patrono da Aeronáutica brasileira foi colocado numa geladeira ao dar apoio ao capitão Sérgio Macaco punido por ter denunciado o plano terrorista do brigadeiro Burnier. Esse queria explodir o gasômetro no Rio de Janeiro e colocar a culpa do atentado nos comunistas, aumentando o tom da repressão. Anulando os chamados setores moderados do golpe.

Há dúvidas sobre as circunstâncias da morte de Castelo Branco, como resta como última tentativa visível de sobrevivência das forças de extrema direita, o fracassado atentado do Rio Centro, no Rio, durante um show de música popular brasileira. No governo Figueiredo. A bomba explodiu no colo de um sargento que estava a bordo de um karmanghia com um capitão, ambos encarregados do atentado. Os culpados seriam os comunistas.

O sargento morreu e o capitão terminou coronel. Valeu a saída de Golbery do Couto e Silva, ligado a Geisel e que defendeu a punição dos culpados com inquérito público.
O processo democrático, numa boa medida, implica em reconstrução das forças armadas brasileiras. A imensa maioria dos chefes militares continua batendo continência para a bandeira e os interesses dos Estados Unidos e enxergando a presença de comunistas debaixo de cada cama de cada brasileiro.

Não há um compromisso explícito dos militares brasileiros com o País, mas com empresas multinacionais, latifúndio e a política imperialista dos EUA. Vivem ainda na pré-história, no tempo da guerra fria.

Uma das atitudes de Geisel quando presidente foi romper o acordo militar Brasil – EUA. Uma das concessões mais perigosas do governo Lula na sua política de uma no cravo e outra na ferradura foi o de reatar esse acordo.

Outra atitude de Geisel foi fortalecer a IMBEL (INDÚSTRIA BRASILEIRA DE MATERIAL BÉLICO) e a ENGESA (ENGENHEIROS ESPECIALIZADOS S/A). Num dado momento os veículos militares brasileiros, produzidos por essas empresas estatais, OSÓRIO e URUTU se mostraram superiores aos produzidos pela indústria bélica dos EUA, da França, da Grã Bretanha, da Bélgica e ganharam mundo afora sobretudo países árabes como a Líbia e o Iraque.

A EMBRAER, ainda estatal, começou a desenvolver em parceria com setores da construção aeronáutica da Itália, um projeto de caça bombardeio com tecnologia brasileira e italiana.

Quando citei acima a questão dos documentos secretos tinha em mente a história até agora secreta, das pressões e ações (de guerra inclusive) do governo dos EUA, contra a exportação de equipamentos bélicos produzidos por empresas estatais brasileiras para outros países.

O sucateamento da ENGESA e da IMBEL começou no governo Figueiredo e foi acentuado nos seus sucessores civis. A EMBRAER estatal, capaz de colocar a indústria aeronáutica brasileira entre as melhores do mundo, foi privatizada no governo de FHC.

Nada por acaso, tudo deliberado em Washington. Militares e governos subordinados aos interesses norte-americanos.

É recente a decisão do governo do ex-presidente Bush de vetar a venda de aviões de treinamento tucano da EMBRAER para a Venezuela. Por deterem tecnologia norte-americana em determinados componentes e pela participação acionária de grupos dos EUA.

Essas concessões, perigosas e que ferem a nossa soberania, plenas a absolutas no governo de FHC, cederam, por exemplo, no primeiro escândalo daquele governo (por si só um escândalo), o controle da Amazônia, no projeto SIVAM – SISTEMA DE VIGILÂNCIA DA AMAZÔNIA –, operado por uma “empresa” dos EUA e militares brasileiros, ou supostamente brasileiros.

FHC só não cedeu a base de Alcântara, no Maranhão, por força da pressão popular e da reação de setores nacionalistas das forças armadas.

A hipótese da eleição do candidato José Arruda Serra abre a possibilidade tão sonhada pelos norte-americanos no campo militar. Bases no Brasil. Na Amazônia, no Nordeste e no Sul.

Várias tentativas já foram feitas e refugadas.

Como dizia Nixon, “para onde se inclinar o Brasil, vai se inclinar a América Latina”, logo, é fundamental ter o controle do Brasil.

Num momento em que os EUA assumem o controle de praticamente todo o mundo a partir de uma “uma embriaguês pelo poder militar” (definição de Hans Blinx, inspetor da ONU no Iraque à época que precedeu a invasão - 2003 – e constatou a mentira das armas químicas e biológicas) o Brasil ganha contornos vitais para a política capitalista e imperialista norte-americana.

A presença de governos independentes e com projetos de integração latino-americana como o da Venezuela, da Bolívia, da Nicarágua, Cuba, a própria Argentina e o Brasil noutra dimensão – uma no cravo outra na ferradura – ou o “capitalismo a brasileira” como bem definiu Ivan Pinheiro, secretário geral do PCB – Partido Comunista Brasileiro – e candidato à presidente da República, transforma o processo eleitoral brasileiro num jogo decisivo para as políticas norte-americanas.

Lula reativou o acordo militar com os EUA e com isso abriu espaços para os militares que vestem fardas brasileiras e pensam e prestam obediência a Washington e em seus quase oito anos, não foi capaz de resolver o problema de novos caças bombardeios para a FAB – FORÇA AÉREA BRASILEIRA -, tamanhas as pressões dos EUA, tanto quanto, retardou a construção de submarinos nucleares, indispensáveis à nossa soberania. A compra de dois desses submarinos à França foi paliativo, temos tecnologia nacional para construir essas belonaves.

Se uma no cravo e outra na ferradura é uma forma de buscar avanços compensatórios em outros setores, é algo a se discutir. As concessões muitas vezes, ou todas as vezes, são maiores que os ganhos. A própria política de alianças é complicada quando se tem setores do latifúndio próximos do governo.

O agronegócio é uma das formas de dominação econômica e estratégica. Está todo ele em mãos estrangeiras. Cria um nível de dependência absoluto na agricultura.

É claro que retrocesso é José Arruda Serra. Não significa que Dilma Roussef seja avanço lato senso. Significa que uma volta aos tempos de FHC liquida qualquer perspectiva a curto e médio prazo de nos transformamos numa potência livre, soberana e justa em todos os sentidos.

E isso, como disseram Ivan Pinheiro em entrevista a RECORDNEWS e Plínio de Arruda Sampaio no debate da BANDEIRANTES, vai depender basicamente dos movimentos populares. Da formação e organização. São a força motriz da real independência do Brasil.

Se não temos bases militares dos EUA no Brasil, temos boa parte de nossas forças armadas colonizadas e subordinadas aos EUA.

E o maior de todos os desafios em tempos atuais. O da Comunicação. A grande mídia em nosso País é tudo menos brasileira. Controlada por grupos econômicos estrangeiros, submissa a interesses de potências outras. Concentrada em poucas mãos, poucas famílias (mafiosas), tenta moldar o pensamento do brasileiro de tal forma que num dado momento, por exemplo, saci pererê some para dar lugar ao haloween. Nossas escolas, tanto privadas como públicas, já incorporaram essa data ao seu calendário. É só um exemplo.

A história real do Brasil precisa ser conhecida. Precisa ser pública. E um desafio, dentre tantos para o próximo governo, o Poder Legislativo, é acabar com os segredos de Estado.

Exibir a barbárie nua e crua da ditadura militar que hoje permite a torturadores como Torres de Melo se arvorarem em patriotas defensores da honra nacional. Mas pior que ele, pau mandado, na junção de grandes empresas, latifúndio, banqueiros e boa parte das nossas forças armadas, transformados em uma realidade de espetáculo, alienar o cidadão comum, as classes médias (come arroz e feijão e arrota maionese e está sempre pronta a dizer sim senhor), impedir que o movimento popular ganhe força, criminalizando-o (a recente CPI do MST não encontrou nenhuma irregularidade no uso de financiamentos para agricultores e a GLOBO sequer tocou no assunto), enfim, uma espécie de FANTÁSTICO SHOW DA VIDA, onde o principal problema do Brasil é o goleiro do Flamengo, Bruno.

Não se trata só de abrir os baús da ditadura. Mostrar a face real dos governos militares. Mas colocar a nu também os que hoje se escondem sob o manto da democracia e conspiram para que sejamos apenas um sonho emasculado em colônia do capitalismo selvagem dos norte-americanos e tudo o que representam.

Gente padrão Jarbas Vasconcelos, Roberto Freire, Alberto Goldman, etc, etc.

Aviões militares fabricados por Israel estão, dois deles, na região de Santa Cruz do Sul, com presença de técnicos de Israel, fazendo demonstrações de vôos não tripulados e podem vir a se incorporar a FAB.

São vinte toneladas de equipamentos no aeroporto Luís Beck da Silva. São dois “HERMES 450” fabricados pela empresa israelense ELBIT SYSTEMS e perto de quarenta homens acompanham os exercícios da Base Aérea de Santa Maria, entre eles representantes da empresa fabricante e seus credenciados no Brasil, a AEROELETRÔNICA.

Esses aviões são usados no Oriente Médio para monitorar o povo palestino, despejar bombas, monitorar o sul do Líbano e a eventualidade de uso deles pelo Brasil implica em dependência tecnológica – não há transferência de tecnologia para o Brasil -, naquilo que somos capazes de fazer.

Segundo o tenente coronel Paulo Ricardo Laux, gerente do grupo de trabalho os aviões vão se exibir até o dia vinte de agosto.

Por coincidência ou não, a grande colônia palestina no Brasil está naquela região, no Sul do País. Onde Bush queria colocar uma base para controlar o “terrorismo”. E também o Aquífero Guarani, a quinta maior reserva de água subterrânea do mundo.

É hora de encarar o desafio de expor as histórias secretas que são, na verdade, as histórias reais dos que controlam o Brasil e querem-no colônia de interesses estrangeiros. E de enfrentar o desafio da Comunicação. Romper a barreira imposta pela grande mídia corrupta, venal e dominada igualmente por esses mesmos grupos.

AS ENTREVISTAS, OS DEBATES, SENHORAS E SENHORES HOJE TEM ESPETÁCULO

AS ENTREVISTAS, OS DEBATES, SENHORAS E SENHORES HOJE TEM ESPETÁCULO


Por Laerte Braga(*)


Eu tenho a sensação que quando William Bonner acorda deve fazê-lo imaginando quem um coro celestial desceu dos céus para despertá-lo e a partir daí dar início à missão diária de iluminar o mundo.

Deve ir ao twitter e colocar a clássica pergunta, ansiosamente desejada pelos mortais comuns, “quem quer bom dia?” Acredita, lógico, que isso soa como bênção de um papa aos fiéis na Praça de São Pedro. No caso, chega via computador e telinhas.

Marcelo Rossi, Fábio Melo, Edir Macedo, o cara que escapou dos tubarões e hoje cura AIDS, todas as doenças existentes ou que virão a existir por mandato divino, nada disso se compara a Bonner na pista do aeroporto de Congonhas –devidamente vacinado para não morder a equipe – esbravejando em tom patético e dramático, que faltam ranhuras na pista.

As entrevistas com os candidatos Dilma Roussef, Marina da Silva e José Arruda Serra, além da que vai ao ar hoje, quinta-feira, dia 12, com Plínio de Arruda Sampaio são pauta do show.

No Brasil, o principal oráculo do deus mercado é a GLOBO e Bonner é quem dá a sentença. Fátima Bernardes é como uma assistente de mágico de circo, fica segurando o casaco brilhante e ao final estende a mão para sugerir os aplausos.

Bonner tentou de todas as formas colocar a candidata Dilma Roussef contra as cordas. Desqualificar a candidatura Marina da Silva (sem necessidade, a própria candidata se desqualifica) e por pouco não convocou os anjos que o assessoram para ungir a candidatura de José Arruda Serra.

É o supremo sacerdote da comunicação no Brasil.

Pelo que sei, a não ser que haja mudança de última hora, a entrevista de Plínio de Arruda Sampaio não será ao vivo, no estúdio do JORNAL DA MENTIRA, o que chamam de JORNAL NACIONAL, mas gravada em São Paulo, ou no estúdio de São Paulo.

Plínio não tem compromisso que esse culto à rede GLOBO. Pelo contrário.

Nem vai ajoelhar-se ao entrar no PROJAC e rezar o Pai Nosso versão Roberto Marinho.

Como não o fariam Ivan Pinheiro e José Maria, respectivamente candidatos do PCB e do PSTU ignorados pela corte celestial global (até rimou).

Nas três entrevistas – Dilma, Marina e Arruda Serra – faltou a orquestra. É possível que no debate entre os candidatos um desses homens foguete venha direto de Washington e suba em direção aos céus para desfraldar uma faixa, “nós podemos mais”.

Quem? A GLOBO, ou o marionete tucano que atende pelo nome de José Arruda Serra?

Desde a aprovação da lei Adauto Lúcio Cardoso, em 1958 e até 1974, quando a ditadura introduziu o modelo santinho, candidato mudo, o debate se dava nos horários reservados aos partidos e ao vivo.

Da drástica mudança feita pelo general Geisel e a perspectiva de derrota avassaladora em 1978 para a ditadura (como aconteceu em 1974) chegamos ao ápice no estilo show das eleições, espetáculo das eleições.

Quem tira mancha melhor.

Vai chegar um dia que o voto vai ser dispensado. Vão fazer uma edição especial do programa de Fausto Silva, formar um júri, sortear provas especiais para os candidatos, tipo dança com um trabalhador, dança com um camponês, plantar uma árvore, coisas assim e o júri, ungido pelo sacerdote supremo decidir qual dos candidatos é o mais apto para o exercício da presidência da República.

A forma como a GLOBO, a grande mídia no seu todo, conduz o noticiário do processo eleitoral tem esse formato, esse feitio, de espetáculo e com o objetivo de atender aos interesses dos patrocinadores.

José Arruda Serra é apenas o marionete escolhido para representar esses interesses. Dão corda antes e colocam para dormir ao fim do dia. Dizem que ele não dorme, deve ser por isso, marionete, não é de carne e osso, foi montado pelos cenógrafos da GLOBO para atender aos interesses de bancos, latifundiários, grandes empresários e Washington.

Neste final de semana tudo indica que o INSTITUTO DATA FOLHA deve divulgar pesquisa montada em laboratórios desse paraíso – cheio de comerciais de desinfetantes mais inteligentes que você – tentando equilibrar o estrago feito pelas outras pesquisas que mostram o vampiro paulista em processo acelerado de anemia eleitoral, votos.

Tentar dar fôlego, gás e esperar os esquemas de todas as eleições, onde o show substitui o debate democrático, a participação popular, resumir tudo à dança com famosos e ao trambique do Criança Esperança (aliás, deve ser maldição, o São Paulo Futebol Clube jogou o primeiro jogo com o Internacional, semi-final da Libertadores com a camisa Criança Esperança e foi para o beleléu).

Nessa história não é só o São Paulo que dançou não, as crianças dançam também, o Brasil então...

Tem espetáculo sim, com direito a mágicas de Bonner e sua corte de anjos. Pelo menos até outubro, na tentativa de exorcizar essa mania de brasileiros de sonhar um País livre, soberano, justo, vale dizer, sem o show global.

Senhores proprietários de companhias aéreas, por favor, não deixem seus aviões caírem antes das eleições. Podem atrapalhar as manobras da GLOBO para transformar o esquema FIESP/DASLU em grande sonegação nacional através de José Arruda Serra.

O menino de ouro da GLOBO.

José Arruda Serra o criador de tudo. Lembra um amigo dono de um antigo armarinho no interior de Minas. Quando o freguês pedia um produto que não tinha estoque, respondia assim – “não se preocupe, o que não tem está chegando”.

No duro mesmo é aquele mail cretino que circula na internet sobre senadores que mortos, têm o direito de escolher entre o céu e o inferno. A propaganda do capeta é de tal ordem que escolhem o inferno. Quando chegam, de mala e cuia, só encontram um deserto pleno e absoluto. Não adiantou a reclamação. O Bonner de lá avisa, “ontem era campanha eleitoral”.

O programa de Arruda Serra é isso aí, a prática é outra.

*Laerte Braga, jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no “Estado de Minas” e no “Diário Mercantil”. É colaborador e co-editor do blog “Quem tem medo do Lula?

BÁRBAROS EMPEDERNIDOS E CRUÉIS ASSASSINOS

Por Celso Lungaretti (*)

Quando saí dos cárceres da ditadura militar, com uma lesão física permanente, muitos problemas psicológicos e terríveis danos morais, havia aclarado meu conceito sobre ditaduras.

Antes já repudiava as de direita, claro, mas me deixara iludir pelos textos que impingiam, como mal necessário, uma ditadura do proletariado, atenuada nas ressalvas: seria tão cirúrgica quanto possível, durando apenas o tempo necessário para se criarem os pré-requisitos de sua abolição.

A experiência vivida falou mais alto do que qualquer argumento: decidi que nada, absolutamente nada, justificava que um indivíduo fosse colocado na condição de vítima indefesa do Estado, qualquer que fosse o Estado.

Meus algozes podiam me torturar como e quando bem entendessem.

Privar-me do sono, de roupas, de alimentos, de higiene, de assistência médica e até da luz solar.

Ameaçar-me de estupro (com as mulheres, muitas vezes iam às vias de fato).

Simular roletas russas e fuzilamentos.

Emitir comunicados mentirosos a meu respeito.

E me matar, seja por excessos involuntários nas sessões de tortura, seja por tédio.

Aos 19 anos, estive próximo de um enfarte no terceiro dia de prisão, quando, após medirem minha pressão, suspenderam as torturas e me encheram de calmantes.

Ao contrário do que aconteceria a partir de 1971, ainda não haviam partido para a matança indiscriminada -- não por respeito à vida humana, mas porque as mortes chocantes davam ensejo a campanhas humanitárias exortando governos estrangeiros a suspenderem linhas de crédito para o Brasil.

A partir do quarto diplomata trocado por presos políticos, no entanto, os tiranos decidiram absorver os prejuízos de ordem econômica, de preferência a exilar militantes que pudessem depois voltar e contribuir para a libertação do povo brasileiro.

Então, ao invés de oficializar suas prisões, passaram a sequestrá-los, levá-los para centros de tortura clandestinos, submetê-los aos piores suplícios, executá-los e dar sumiço nos cadáveres.

Mesmo quando a ordem ainda não era matar, contudo, houve oficial que me incentivou a tentar a fuga, "agora que ninguém está olhando", para me fuzilar pelas costas e depois apresentar seu ato como necessário. Por quê? Porque havia tido um mau dia e estava enfastiado...

A PRIMEIRA BRECHA

Enfim, percebi que jamais se deveria conceder ao Estado tamanho poder sobre o cidadão, por não haver garantia nenhuma de que, mesmo sendo fixados limites, estes não seriam ultrapassados ao sabor dos acontecimentos.

Os textos marxistas sobre ditadura do proletariado e, p. ex., nem de longe justificam os massacres de camponeses durante a coletivização forçada na URSS ou os genocídios de Pol Pot no Camboja. No entanto, estes decorreram daqueles.

Vale lembrar uma frase antológica do filme O Julgamento de Nuremberg (d. Stanley Kramer, 1961).

Face ao desabafo de um magistrado alemão, estupefato por as coisas terem saído tanto do controle durante a era nazista, um membro do tribunal explica:
"Esses horrores todos começaram quando o primeiro juiz condenou o primeiro réu que ele sabia ser inocente".
Então, não se pode deixar que seja aberta a primeira brecha, ainda que ínfima, pois haverá sempre os que a alargarão.

Quem luta para criar a sociedade perfeita, com a concretização plena da liberdade e da justiça social, não deve transigir com nenhuma ditadura e nenhuma forma de desigualdade, seja em que ponto for da caminhada. Caso contrário, não chegará aonde pretendia, mas a lugar bem pior.

FARSA CONTRA SAKINEH

Foram as reflexões que me vieram à mente após ler que as autoridades iranianas exibiram na TV um vídeo com uma suposta Sakineh Ashanti, em fala ademais dublada, praticamente admitindo a cumplicidade jamais provada no assassinato do seu marido.

Foi condenada a ser apedrejada até a morte por adultério, só por adultério.

Como isso teve a pior repercussão possível junto às pessoas civilizadas do mundo inteiro, armaram uma farsa para justificar a sentença hedionda.

E o fizeram depois de privarem sakineh do seu advogado, com abusos grotescos, inclusive o de aprisionar-lhe os entes queridos para usá-los como reféns.

Assim como quando Stalin fazia condenarem dignos revolucionários sob pretextos os mais falaciosos e ridículos, depois de triturados em seus cárceres, não existe condescendência possível com tais práticas por parte de quem pretende sinceramente transformar o mundo.

Há que se defender, sim, o Irã das ameaças de intervenção armada dos EUA, como represália por seu programa nuclear.

Mas, isto não pode -- jamais!!! -- implicar nossa conivência com o estupro sistemático dos direitos humanos por parte das autoridades iranianas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu oficialmente asilo a Sakineh, dando aos aloprados do Irã uma saída honrosa neste episódio, ao menos.

Então, o assassinato com requintes de extrema crueldade que tramam só servirá à propaganda dos EUA enquanto eles mantiverem sua postura de fanática/asnática intransigência.

E enquanto a mantiverem, não merecem a simpatia de ninguém. São bárbaros empedernidos e cruéis assassinos. Nada mais.

*Celso Lungaretti, jornalista e escritor. Autor do livro "Náufrago da Utopia" (sobre sua experiência durante a ditadura militar) e mantém blog homônimo. É colaborador e co-editor do "Quem tem medo do Lula?".

Lula daqui para a frente

Lula daqui para a frente

Por Carlos José Marques
, diretor editorial da revista ISTOÉ

Já dá para afirmar, o presidente Lula é o governante mais popular da história do País. Sai do posto daqui a alguns meses com a maior aprovação jamais registrada na República. Na corrida presidencial que se desenrola rumo à eleição de outubro, todos querem ser Lula. Candidatos e partidos tentam vincular sua imagem à dele. Afinal, Lula vai embora do Planalto deixando um legado de avanços sociais e resultados econômicos que nenhum dos aspirantes a sucedê-lo contesta. Em campanha não ousam sequer atacá-lo. Talvez por entenderem ser esta uma estratégia inócua. Lula parece ter mesmo incorporado o já lendário efeito teflon e contra ele, dizem, nada cola. Às vésperas de terminar o mandato, Lula está à vontade. Se diz tranquilo. Talvez ciente de que a saída do cargo não necessariamente signifique, no seu caso, a retirada do poder. Lula carrega consigo vários planos. O de um instituto de ideias para irradiar sua influência. O de caravanas internacionais, nos moldes das que fez Brasil afora, arrebanhando simpatizantes e seguidores.

E, talvez por que não? , o da construção de uma ampla aliança suprapartidária que lá na frente desenhe grandes rumos para o País. Só descarta o de um posto em organismos multilaterais como a ONU, para o qual, se convidado, dirá não. De uma maneira ou de outra, sabe, milhões ainda vão querer ouvi-lo. Aqui e no mundo. Apesar de bater um pouco de saudosismo quem está no governo acha oito anos pouco, quem está na oposição acha uma eternidade , Lula está animado com a nova etapa. Se entusiasma em especial quando fala da possibilidade de fazer um sucessor. E de que esse sucessor seja uma mulher. A primeira com reais chances de comandar o País. Lula concebeu a candidatura de Dilma à sua imagem e semelhança, muito embora faltem à ex-ministra o carisma e o traquejo político do seu mentor. Para Lula, não é um problema. Ele acredita piamente na continuidade de seu trabalho na Presidência. Com Dilma. Na longa entrevista exclusiva que concedeu à ISTOÉ, na tarde da quinta-feira 5, no gabinete improvisado montado no Centro Cultural Banco do Brasil, de onde despacha desde que o Planalto entrou em reforma há mais de um ano, Lula manda um recado: Minha relação com a sociedade ninguém pode destruir.

PSDB monta estratégia para enfrentar Lula na TV

Por Raquel Ulhôa, de Brasília
Para o Valor Econômico de 12/08/2010

O PSDB está preocupado com o impacto da participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no programa eleitoral gratuito de televisão da candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff. É o que um dirigente tucano chama de "Lula na veia". Para minimizar o estrago, aliados do candidato do PSDB, José Serra, avaliam que ele precisa ser mais "humanizado" em seu próprio programa eleitoral.

O foco da propaganda eleitoral de Serra será a apresentação do candidato e de suas propostas. Seus coordenadores gostariam de estimular no eleitor a comparação entre Serra e Dilma. A aposta é que, no conteúdo, a vantagem seria do tucano. No entanto, a expectativa é que o programa de Dilma venha com muita produção e emoção, despertada pela participação de Lula.

Envolvidos na campanha de Serra acreditam que a emoção pode causar grande impacto nos primeiros programas eleitorais, mas deve se diluir ao longo dos 45 dias do horário gratuito. Com o tempo, a comparação de conteúdo deve prevalecer, favorecendo a candidatura tucana.

Aliados de Serra no PSDB e no DEM ficaram apreensivos após o debate entre os presidenciáveis na televisão, realizado pela Band no dia 5. Havia muita confiança na experiência do candidato tucano e na falta de traquejo de Dilma. Avaliam, no entanto, que Serra "não foi decisivo" e não soube explorar os pontos fracos de Dilma. Como resultado, a candidata do PT, apesar do visível nervosismo, acabou saindo-se melhor do que era esperado pelos tucanos e temido pelos petistas.

Além do programa eleitoral, o PSDB está preocupado em reforçar a campanha em Minas e no Rio, Estados que devem decidir a eleição, na avaliação do partido. A razão é a falta de "solidez" nas intenções de voto até agora registradas pelas pesquisas nos dois Estados.

No caso de Minas, Serra tem mais votos que o governador Antonio Anastasia (PSDB), candidato à reeleição apoiado pelo ex-governador Aécio Neves. Há margem paracrescimento do governador e, à medida que ele conquistar fatia maior do eleitorado, consequentemente aumenta as intenções de voto em Serra. Para isso, a campanha estadual precisa ser mais compartilhada com a nacional. A avaliação é que, por enquanto, a preocupação dos mineiros é com a eleição de governador, senadores e deputados, havendo pouca integração com a disputa nacional.

O caso do Rio é diferente. Sem candidato a governador dos partidos da aliança (PSDB, DEM e PPS), a coordenação da campanha aposta na "independência" do eleitorado fluminense. O objetivo é que Serra adote um discurso que o aproxime do eleitor, sem depender da campanha do candidato a governador do PV, deputado Fernando Gabeira.

Há, ainda, o objetivo de aumentar a diferença de intenção de voto para Serra em São Paulo. Na avaliação dos tucanos, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) está pouco empenhado em fazer campanha, já que lidera as pesquisas. Como sua intenção de voto é maior do que a que Serra tem no Estado, a conclusão é que o presidenciável precisa colar mais em Alckmin - que, por sua vez, precisaria ir mais para a rua.

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