O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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domingo, 1 de agosto de 2010

Israel já se meteu pela União Europeia adentro... e ninguém viu!

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Robert Fisk, The Independent, UK,

A morte de cinco soldados israelenses num acidente de helicóptero na Romênia, essa semana, praticamente nem foi noticiada.

Estava em curso um exercício militar conjunto OTAN-Israel. Ah, sim, então está entendido. Sim, mas... imaginem o que aconteceria se morressem cinco militantes do Hamás num acidente de helicóptero na Romênia, essa semana. Todos ainda estaríamos investigando tão extraordinário evento. Atenção! Não estou comparando Israel e Hamás. Israel é o exército que, muito justificadamente, massacrou mais de 1.300 palestinos em Gaza há 19 meses – mais de 300 dos quais, crianças. Enquanto os sanguinários terroristas do Hamás mataram 13 israelenses (três dos quais soldados que, já se sabe, atiraram uns nos outros, por engano).

Mas, num detalhe, podem ser comparados. O juiz Richard Goldstone, eminente juiz judeu sul-africano, decidiu, em inquérito de 575 páginas sobre o massacre de Gaza, que os dois lados cometeram crimes de guerra. E, sim, claro, foi corretamente declarado “do mal” por todos os tipos de muito justos e justificados ofendidos apoiadores de Israel nos EUA. E seu excelente trabalho foi rejeitado por sete governos de países da União Europeia – e, assim sendo, a pergunta impõe-se.

O que a OTAN está fazendo, brincando de guerra, ao lado de um exército acusado de ter cometido crimes de guerra?

Ou, mais diretamente ao ponto, o que, diabos, a União Europeia faz, exibindo-se em termos tão amigáveis com os israelenses?

Em livro notável, detalhado – embora um pouco furioso demais – que será publicado em novembro, o infatigável David Cronin oferecerá análise microscópica de “nossas” relações com Israel. Acabo de ler o manuscrito. Estou sem ar.

Como Cronin diz no prefácio, “Israel desenvolveu laços políticos e econômicos tão poderosos com a União Europeia, na última década, que se tornou estado-membro de fato, da União Europeia, em todos os sentidos, exceto formalmente.”

A verdade é que Javier Solana, o imundo cão líder da matilha da política externa da União Europeia (ex-secretário geral da OTAN), disse, de fato, ano passado, que “Israel, permitam-me que diga, é membro da União Europeia, embora sem ser membro da instituição".

Com licença, mas... ele já sabia? Já sabíamos? Votamos e aprovamos a inclusão de Israel? Quem permitiu que acontecesse? David Cameron – hoje tão empenhado em ‘marketar’ a entrada da Turquia na União Europeia – concorda com isso? É possível que sim, dado que continuou a apresentar-se como “amigo de Israel” depois de Israel ter sido apanhado com os bolsos cheios de excelentes passaportes britânicos adulterados para permitir que assassinos israelenses entrassem sem ser importunados em Dubai.

Como escreve Cronin, “a covardia da União Europeia ante Israel faz espantoso contraste com a firme posição que a instituição adotou quando ocorreram grandes atrocidades em outros conflitos”. Depois da guerra Rússia-Geórgia em 2008, por exemplo, a União Europeia criou missão independente para determinar quando houver a infração a leis internacionais; e exigiu investigação detalhada de suspeita de crimes contra os direitos humanos depois da guerra do Sri Lanka contra os Tigres do Tamil. Cronin não evita a questão da responsabilidade da Europa no Holocausto de judeus, e concorda com que os governos europeus tenham “um dever moral” de assegurar que não se repita (mas observei que Cameron esqueceu-se de mencionar o Holocausto de armênios, essa semana, quando bajulava os turcos).

Mas não se trata disso, agora. Em 1999, as vendas de armas a Israel – que ocupa a Cisjordânia (e também Gaza) e está construindo colônias ilegais exclusivas para judeus em terra que pertence a árabes – chegaram a 11,5 milhões de libras; em dois anos, as vendas já praticamente duplicaram, e chegam a 22,5 milhões de libras. Foram vendidas armas leves, kits para fabricação de granadas e equipamentos para jatos bombardeiros e tanques. Houve alguns empecilhos depois que Israel usou tanques Centurion modificados contra os palestinos em 2002, mas em 2006, no ano em que Israel massacrou outros 1.300 libaneses, quase todos civis, em outra cruzada contra o chamado “mundo do terror” do Hizbollah, a Grã-Bretanha licenciou mais de 200 armas e equipamento bélico.

Algumas das armas fabricadas na Grã-Bretanha, é claro, chegam a Israel via os EUA. Em 2002, a Grã-Bretanha forneceu “head-up displays”[1] fabricados pela BAE Systems para a Lockheed Martin, que prontamente os instalou nos caça-bombardeiros F-16 destinados a Israel. A União Europeia não fez objeção alguma. No mesmo ano, é bom que se diga, os britânicos admitiram para treinamento 13 militares israelenses. Os aviões norte-americanos de transporte de armas para Israel, quando da Guerra do Líbano em 2006, eram reabastecidos em aeroportos britânicos (e, infelizmente, parece que também em aeroportos irlandeses). Nos três primeiros meses de 2008, os britânicos licenciamos mais 20 milhões de libras em armas para Israel – bem a tempo de serem usadas no massacre de palestinos em Gaza. Os helicópteros Apache usados contra os palestinos, diz Cronin, incluíam partes fabricadas pela SPS Aerostructures em Nottinghamshire, Smiths Industries em Cheltenham, Page Aerospace em Middlesex e Meggit Avionics em Hampshire.

Preciso explicar mais? Israel, aliás, foi elogiada pelo apoio “logístico” que deu à OTAN no Afeganistão – onde os britânicos matamos anualmente mais afegãos que os israelenses matam palestinos – o que não deve surpreender ninguém, porque o chefão militar israelense Gabi Ashkenazi visitou o quartel-general da OTAN em Bruxelas, para construir laços mais íntimos com a OTAN.

Cronin também expõe, com bons argumentos, um extraordinário – quase obscenamente belo – arranjo financeiro vigente na “Palestina”. A União Europeia financia projetos de milhões de libras em Gaza. Imediatamente, tudo o que é construído é regularmente destruído pelas armas israelenses-norte-americanas. E assim vão. Os contribuintes europeus pagam pelos projetos. Os contribuintes norte-americanos pagam pelas armas que Israel usa para destruir os projetos. Então, os contribuintes europeus pagam outra vez para reconstruir tudo. Então, os contribuintes norte-americanos... Ok. Vocês já entenderam.

Israel, além do mais, já tem também um “programa de cooperação individual” diretamente com a OTAN, que serve para manter Israel nas redes de computadores da OTAN.

Em resumo, parece ser bom ter ao nosso lado aliado tão valente quanto Israel, por mais que o exército israelense seja um bando desorganizado e alguns daqueles homens sejam criminosos de guerra. Aliás, falando nisso, por que não convidam o Hizbollah a trabalhar com a OTAN? As táticas de guerrilha do Hizbollah seriam utilíssimas aos nossos camaradinhas britânicos em Helmand. E, dado que os helicópteros Apache seguidamente matam civis libaneses – como, em 1996, mataram uma ambulância cheia de mulheres e crianças, que voaram aos pedaços pelos ares, atingidas por um míssil ar-terra Boeing Hellfire AGM 114C – tomara que os libaneses lembrem-se de mandar um cartão de agradecimento ao pessoal de Nottinghamshire, Middlesex, Hampshire e, claro, de Cheltenham.

[1] Para saber o que são, ver em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Head_up_display

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

Agência Assaz Atroz

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Serra: mais um filhote de Bush

Qualquer semelhança não é mera coincidência

Reproduzo texto do Comitê Bolivariano de São Paulo

Agora, não há mais dúvida. O candidato Serra é um filhote de Bush. Tem a mesma ideologia e a estratégia de criar “eixos do mal”. Usa a linguagem da Guerra Fria para satanizar Chávez e outros líderes da América Latina. Vê-os como expressões da maldição, ervas daninhas que devem ser extirpadas. Como Bush, acha que o caso Irã não deve ser resolvido por meios diplomáticos, mas sim pela simples condenação do governo iraniano. Na verdade, defende que o Brasil se subordine à orientação norte-americana ao tratar de conflitos ou crises políticas internacionais. Assim, na prática, ainda que não confesse, defende o ato criminoso de Uribe de ter invadido militarmente o Equador, em nome do combate às FARCs. E tem a insolência de dizer-se de esquerda, querendo, de fato, passar a idéia de que ser de esquerda é ser de direita.

Serra usa o terrorismo ideológico para confundir, partindo da visão de que há uma grande despolitização. Por isso, o povo brasileiro tende a cair na sua armadilha.

Serra, não se tenha dúvida, quer ser uma nova referência da ultradireita na América do Sul, devendo, portanto, ser visto como membro dos grupos direitistas do nosso continente, em constante ameaça aos avanços democráticos dos povos latino-americanos. Com certeza, para ele a derrota do golpe de estado contra Hugo Chávez deve ser lamentada, e a vitória golpista contra o governo eleito da Honduras deve ser comemorada. Apenas, não tem coragem política de confessar tal preferência. Prefere incubar suas opções. Contudo, sua adesão ao bushismo o desmascara, conseguindo enganar somente os ingênuos.

O novo filhote de Bush, ao atacar o MST, deixa claro como pretende tratar as lutas dos trabalhadores em geral. Para ele, está claro que manifestações de lutas, por melhores condições de vida e pelo avanço político e democrático do país, são casos de polícia, como agiu quando era governador.

Destarte, derrotar Serra e seu grupo passou a ser um ato de patriotismo e de defesa da democracia, buscando evitar o retrocesso, evitando que o Brasil se torne subalterno à política externa dos EUA, afeita a agressões militares, como se deu com o Iraque e o Afeganistão. Derrotar Serra é derrotar o que existe de mais retrógrado no Brasil e na América do Sul, expressão de forças golpistas, de ontem e de hoje, que tantos danos nos têm causado, política, social e economicamente. É derrotar os herdeiros de todas as ditaduras militares, dos filhinhos de Pinochet, de Carmona, chefe golpista da Venezuela, e de tantos genocidas que destruíram milhares de vidas em nossa América Latina.

Charge: Carlos Latuff.

Apedrejamento, lapidação e outras atrocidades

Apedrejamento, lapidação e outras atrocidades

Por Carlos Alberto Lungarzo (*)

Os jornais do sábado informam uma mudança na posição do governo brasileiro sobre a condenação a lapidação de Sakineh Ashtiani, no Irã. Após ter manifestado à mídia a conveniência de respeitar “regras” e “leis” de outros países, o Presidente informou que intercederia pela vítima e ofereceria asilo a Sakineh. (Vide)

O Contexto dos Fatos
Sakineh foi condenada pela justiça islâmica a morrer por lapidação, sob a alegação de ter “traído” o marido. Desde meados de julho, por causa do repúdio internacional, as autoridades teológicas e jurídicas iranianas suspenderam o apedrejamento sem estabelecer se ele poderia ser retomado, ou se Sakineh seria morta por enforcamento.

Muito antes disso, em 2006, ela recebeu 99 chibatadas que lhe foram aplicadas na presença de seu filho. Isso foi por causa de um princípio da lei islâmica: “ninguém pode ser apedrejado sem confissão e/ou testemunhas!”. Isto pode parecer um problema, mas o próprio Al-Qu’ran dá uma receita para que o sábio julgador encontre as provas: Aplicar 100 chicotadas n@ indiciad@.

Muito antes do número final de “caricias”, feitas por homens muito fortes que usam um látego de couro de camelo, qualquer um confessa. A pessoa que está sendo torturada não pode preocupar-se pelos fatos futuros, e quer que o tormento acabe logo. No entanto, mesmo se o réu ou a ré confessam, as chibatadas devem ser continuadas até contar 100, com cuidado para não matar a vítima.

Na Sharia [Lei] se legaliza o açoitamento da pessoa adúltera:

O homem e a mulher culpável de adultério ou fornicação serão punidos com 100 chibatadas. Você (o carrasco) não deve ser movido a compaixão, porque este é um assunto prescrito por Deus, e você deve provar que acredita em Ele. [Quran. 24-2]

De acordo com Al-Hadīth (=palavras sagradas, leis orais atribuídas ao profeta complementárias do Quram), o apedrejamento deve ser aplicado a homens e mulheres infiéis. Na prática, porém, a maior parte das vítimas são mulheres.

Contrariamente ao que usualmente se pensa, o costume ordena que as pedras não sejam muito grandes, porque o réu (ou a ré) deve sofrer o suficiente para purgar parte de sua ofensa a Allah. Uma pedra enorme poderia afundar o crânio e matar a pessoa em alguns minutos. Mas tampouco pode ser muito pequena porque os lapidadores demorariam muito.

Sakineh confessou sob o chicote em 2006, quando foi presa, mas por especial senso humanitário do juiz, foi poupada da última chicotada: recebeu apenas 99. Desde essa data está presa no cárcere de Evin, uma das masmorras mais desumanas do planeta. O presídio é também chamado de “universidade de Evin”, por causa do enorme número de professores, escritores, cientistas e outros intelectuais que foram enfiados em seus porões por diversos “delitos de opinião” ou por presunção de tê-los cometido.

Apesar de Internet e da TV digital, algumas pessoas se recusam a acreditar que isto está acontecendo, pois, nos estados ocidentais, as torturas sistemáticas, aprovadas pelos tribunais religiosos e pelo estado, foram eliminadas totalmente, salvo na Espanha e suas colônias, no século 17. A lapidação propriamente dita extinguiu-se muito antes. Ela foi aplicada por última vez pelas tribos hebraicas na Mesopotâmia. O Cristianismo primitivo manifestou repúdio pela lapidação, expresso na frase: “Quem esteja livre de culpa, que atire a primeira pedra”.

Após a conquista romana, os judeus se tornaram cada vez mais urbanos, e a lapidação nunca mais foi mencionada. No atual estado de Israel existe pena de morte por enforcamento, mas desde sua fundação só foi aplicada uma vez, em junho de 1962, contra Karl Adolf Eichmann, o coordenador do holocausto. Em alguns países muçulmanos, porém, esta prática foi renovada pelo Profeta por volta de 630, numa síntese das antigas tradições judaicas e as praxes tribais subjacentes ao Islã.

As fontes sobre estes assuntos são tão diversificadas e abundantes, que ninguém poderia falsificar todas as notícias. Além disso, as próprias agências oficiais iranianas comunicam às vezes alguns apedrejamentos, pois eles não são motivo de vergonha para o país. (V)

O interesse de alguns governos em formar blocos estratégicos com Irã estimulou a divulgação e notícias ridículas. A mais bizarra é que o responsável pelas mortes não seria o estado iraniano, mas os chefes tribais. Outros argumentam que a Constituição Iraniana não prescreve a lapidação em seu texto. Isso não tem nada a ver: uma constituição não é um código penal.

Note que, o Artigo 83 do Código Penal do Irã (Lei de Hodoud) prescreve a lapidação por adultério. Os homens devem ser enterrados até a cintura, mas a mulher até o pescoço, o que, segundo dizem alguns assistentes, torna mais angustiosa a morte.

Um ponto importante, que é mal conhecido por causa de preconceitos racistas de Ocidente, é que as pessoas normais, inclusos religiosos devotos, tem horror e repugnância a esta infame prática, e os lapidadores voluntários são poucos. A sociedade é tolerante com esta truculência porque qualquer oposição é reprimida sangrentamente. Muitas pessoas se recusam a comparecer às execuções, e até os próprios jornalistas iranianos preferem não assistir o monstruoso ritual. Recentemente, comprovou-se que uma estatística da Indonésia (onde não existe lapidação) estava feita com dados forjados. Nela, um 30% de pessoas aprovava essa tortura.

Não existe pedra de misericórdia, como nos fuzilamentos. Quando a pessoa lapidada entra em agonia, o chefe pode suspender o processo e deixar a vítima morrer lentamente.

Mas, Sakineh não é um caso isolado. Esta atroz prática faz parte de crimes de estado de extrema barbárie, que incluem os assessinatos de mulheres e homens, a tortura e execução de crianças, e a fratura dos braços de meninos que cometem roubos, mesmo famélicos, tudo isso em nome de desvairadas mitologias. Essas ações tinham sido desterradas há vários séculos, mas foram restauradas pela Revolução Islâmica de fevereiro de 1979, que implantou a velha forma de execução em 1983. (V)

Um detalhe interessante para as novas “ondas” que se autoconsideram de esquerda e acham Irã um paladino contra o imperialismo: o Sharia atual também condena a morte os marxistas. É verdade que não são apedrejados, mas apenas enforcados. Talvez isto não seja problema, porque essa “esquerda” está a infinita distância do marxismo.

Aliás, Irã não é o único país a aplicar a lapidação, embora seja o recordista. Elas acontecem com muita frequência na Somália, Arábia Saudita, Sudão e de maneira mais isolada, nos Emiratos Árabes, e alguns outros estados muçulmanos. Há 6 repúblicas com maioria absoluta islâmica onde não se aplica nenhuma pena de morte, e alguns outros estados onde se usam meios menos cruéis.

Como o Irã entrou na moda e é bajulado por pessoas que se beneficiam dos acordos econômicos do governo brasileiro, alguns afirmam que a lapidação não se aplica atualmente e que o establishment iraniano é caluniado pela mídia americano-israelense. Cabe perguntar se os vários sites em farsi que levam o carimbo do governo iraniano são editados por espiões tão eficientes que as autoridades persas não conseguem identificar.

É verdade, porém, que este diagnóstico de Irã não pode aplicar-se a todos os estados islâmicos. Em alguns países, como no Iraque, os executores da lapidação são os patriarcas de tribos, e não possuem o apoio do estado. A culpa do estado radica em sua incapacidade ou falta de interesse em punir estes assassinatos. Já Paquistão é um caso misto, pois a realização de crimes cruéis (como lapidação ou deformação do rosto com ácidos) é defendida por setores parestatais, embora o governo central não as estimule.

No Irã atual e no Afeganistão do Talibã, a pratica não é apenas tribal, mas está autorizada pelo Supremo Tribunal Islâmico. O Conselho Islâmico aprovou a lapidação em Irã recentemente, e a considerou compatível com a Constituição.

É irrealista a versão de que existem conflitos entre os poderes de estado sobre a lapidação, pois Irã não é uma república no sentido europeu: o presidente, os comandantes da guarda islâmica e os quadee (desembargadores) podem ser removidos ou vetados pelo chefe dos aiatolás, mesmo que alguns cargos sejam eletivos. Além disso, se a lapidação for apenas iniciativa de chefes tribais primitivos, poderia o caso ganhar tanta notoriedade internacional? Se o estado iraniano não apoiasse estes crimes, será que as tribos poderiam continuar os aplicando a despeito da repulsa internacional? Por que, se o estado não é responsável, a comunidade internacional se dirige pedindo a anulação ao Aiatolá e não aos chefes de tribo?

Lapidação: Desaparecendo
Pessoas interessadas nos novos negócios que oferece a sociedade iraniana (petróleo e tecnologia nuclear), muito úteis para um país como Brasil, insistem em propagar a absurda versão de que a lapidação “foi abandonada no Irã”. É possível que sua taxa tenha caído na última década, mas os casos que as cortes iranianas informam (sem falar das não reveladas) são significativos:

1. Uma mulher conhecida apenas pelo 1º nome, Masoumeh, de 33 anos, foi condenada a lapidação e a 15 anos de prisão por adultério. (Jornal Qods)

2. No dia 13/07/1997, Changiz Rahimi foi condenada a lapidação e pagamento de multa(!) (Jornal Kayhan.)

3. Seis pessoas: Fatemeh Danesh, Masoumeh Eini, Marzieh Fallah, Ali Mokhtarpour, Parviz Hasanzadeh and Kheirollah Javanmard, idades desconhecidas, foram lapidados em Sari (região norte), em 26/10/1997. (Jornal Salaam)

4. Em 08/06/1996, uma mulher e um homem foram lapidados por adultério na cidade de Oroumieh. (Hamshahri > AFP)

5. Em 04/07/, duas Mulheres, Saba Abdali, 30, e Zeinab Heidary, 38, foram apedrejadas em Ilam Gharb. (Amnesty International)

6. No 11/11/1995, um homem foi apedrejado em Hamedan. (Jomhouri Islami > AFP)

7. Em julho de 1994, um homem e uma mulher foram lapidados em Ramhormouz acusados de adultério.. (Hamshahri > AFP)

8. Em 16/11/1994, 3 mulheres e um homem foram lapidados em Sari, por adultério, em sentença passada pelo Tribunal Islâmico Local (Abrar > AFP)

9. 10/08/1994, em Arak, uma mulher foi sentenciada a apedrejamento.

10. 7/12/1994, uma mulher casada lapidada até morrer em Ramhormouz. (Hamshahri > Reuters)

11. 01/03/1994. Mulher apedrejada em Qom. (Jornal Ressalat)

12. 01/02/1994, Mina Kolvat foi apedrejada a morte em Teerã por transar com o primo (consensualmente). Kayhan.

13. 01/11/1992, Fatima Bani foi lapidada a morte em Isfahan. (Alto Comissionado da ONU para os DH)

14. 05/11/1991. Uma mulher acusada de relações sexuais sem estar casada, foi lapidada a morte em Qom.. (Abrar)

15. 21/08/1991, uma mulher de nome Kobra foi sentenciada a 70 chicotadas e apedrejamento. O Julgamento foi público. (Kayhan)

16. 11/03/1991, na cidade de Rasht (Norte), Bamani Fekri, acusada de cumplicidade com seu pai, Mohammad-Issa, em atos de adultério, foi sentenciada a lapidação, esvaziamento de ambos os olhos, e pagamento de multa de 100 dinares. Dentro do terrível quadro, Bamani teve a sorte de poder suicidar-se na prisão. ( Jomhouri Islami)

17. 16/01/1990, mulher lapidada a morte em Bandar Anzali (Norte) (Ressalat)

18. 05/01/1990. Duas Mulheres publicamente apedrejadas em Lahijan, Norte. (Ettela'at)

19. 02/01/1990: Duas Mulheres apedrejadas em Langrood (Norte). (Jomhouri Islami)

20. 31/07/1989: 6 mulheres apedrejadas a morte publicamente in Kermanshah por adultério e luxúria. (Kayhan)

21. 17/04/1989, DEZ Mulheres sentenciadas a lapidação a morte, pelo juiz religioso Farsi, por prostituição (Kayhan)

22. 10/1989. Uma mulher lapidada a morte em Qom.

23. 06/03/1989. Mulher lapidada por adultério em Karaj (Rádio Teerã)

24. 04/10/1986, Mulher, de nome Nosrat, 25, lapidada a morte em Qom. (Morreu após uma hora) (Kayhan)

25. 17/04/1986. Mulher chicotada em público e lapidada em Qom.

26. 07/1980. QUATRO Mulheres simultaneamente lapidadas a morte na cidade de Kerman.

A Reação Internacional
Os interesses comerciais dos países influentes (petróleo, energia atômica, vantagens econômicas e estratégicas) têm conduzido aos seus governos a uma profunda indiferença em relação com a morte aberrante e sádica de milhares de pessoas em Irão, Sudão, e outros lugares do planeta.

Em particular, a reação contra os crimes dos aiatolás tem sido mínima, e provocou apenas a condena de alguns governos. Aliás, os Estados Unidos manifestam preocupação por um arsenal atômico que ainda não foi construído (e que deve demorar muito em se tornar uma ameaça mundial), mas os crimes contra a humanidade da ditadura dos aiatolás parece não ter nenhum peso na política internacional dos países desenvolvidos.

A Posição do Brasil
É uma velha tradição do estado brasileiro, e não apenas da atual administração, a absoluta indiferença e até animosidade contra os DH. Os padrões internacionais, que são os mais evidentes, impressionam: o país está no lugar 132, em ordem descendente de países que oferecem asilo político. Aliás, os programas de refúgio estão totalmente controlados pela Igreja.

O país tem sido generoso em acolher ditadores da região, e criminosos de Guerra como o fracassado homicida de Charles De Gaulle, mas nega acesso a seu enorme território à população famélica da África, que deve enfrentar graves problemas para se amontoar na Europa. Embora não seja responsabilidade do governo, as autoridades não fizeram nenhum esforço para evitar que o STF anulasse o asilo de Cesare Battisti, o que cria um precedente gravíssimo: fica ao arbítrio do judiciário decidir sobre o direito dos perseguidos que chegam ao país. O governo poderia ter apresentado queixa á Corte de Costa Rica contra o STF, mas os interesses corporativos e a cumplicidade entre poderes foram mais fortes.

Inversamente, o estado brasileiro demonstrou sua “energia” ao negar-se a entregar militares autores de crimes de lesa humanidade, que a própria Itália reclamou por causa da desaparição de vários cidadãos dessa nacionalidade.

Várias vezes, o chanceler brasileiro se irritou com a mídia, quando foi interrogado sobre as contradições em matéria de DH: estes aparecem como fundamentais na Constituição, e os governos assinam desde há 15 anos, todos os compromissos e convenções internacionais, mas quase nenhuma se cumpre. Em 2005, o Brasil objetou o que chama “parcialidade do Conselho de Direitos Humanos da ONU” e, por essa razão, votou pela abstenção no caso da condenação de Cuba, o que é uma atitude coerente. Entretanto, ao mesmo tempo, votou contra a condenação a China, cujas violações aos DH são muito mais cruéis, frequentes e estendidas que as de Cuba.

O governo mostrou apenas “preocupação” pela liberação dos assassinos da irmã Dorothy Stang no Pará, quando poderia ter entrado como acusador junto a tribunais nacionais ou internacionais. No ano passado, o pitoresco empresário que atua como vice-presidente, declarou abertamente, com a cumplicidade dos militares, seu apoio à construção de uma bomba nuclear.

Tanto no caso de dissidentes em diversos países, como nos genocídios truculentos do Sudão, como agora, no caso dos criminais métodos do estado iraniano, o Brasil tem aduzido o direito a autonomia dos governos (chamada, erradamente, “autonomia dos povos”). No entanto, essa autodeterminação foi pisada quando o governo de Equador decidiu punir as empresas brasileiras que espoliaram a ecologia, a mão de obra e a economia durante décadas. Aí teve que se enfrentar a reações desproporcionais de Itamaraty (como convocar seu embaixador). Também, em menor medida, Evo Morales foi sutilmente ameaçado quando denunciou os atropelos da Petrobrás, e até se argumentou, desde Brasil, algo que parecia ser a “extraterritorialidade” de empresas brasileiras, um privilégio que só têm as embaixadas. (Nem os consulados possuem.)

No caso do Irã, o governo foi mais longe. Não aduziu apenas o direito de Irã para apedrejar quem quiser, com base na teoria da autodeterminação. Seu argumento foi mais explícito. Simplificando: desobedecer ordens e regras poderia conduzir a uma avacalhação.

Ou seja, leis criminosas e sádicas devem ser respeitadas. Isso valeria, então, com maior razão, para a antiga ditadura Brasileira. Afinal, uma análise objetiva mostra que o número de vítimas de tratamentos cruéis que a ditadura produziu em 21 anos, o estado iraniano produz em alguns meses (já há mais de 150 executados horrivelmente durante 2010). Deve ser por isso que não se cogita punir os algozes da ditadura.

O principal objetivo agora é salvar a vida de Sakineh, mas, em seguida, deve intensificar-se a luta contra as brutais práticas daquele estado homicida. Neste sentido, foi afortunada a mudança de ponto de vista do Presidente do Brasil, com independência dos motivos que possam ter conduzido a essa nova atitude.

Petições
Há um mês abrimos uma página no site Petition OnLine para colher petições em favor de Sakineh. Entretanto, penso que neste momento é melhor que os leitores assinem nos sites mais representativos, para multiplicar esforços. Passo os URLs dos principais lugares onde assinar essas petições:

www.freesakineh.org

www.petitiononline.com/Ashtiani/petition.html

http://www.facebook.com/pages/Save-Sakineh-Mohammadi-Ashtiani-from-being-Stoned-to-Death-in-Iran-by-Donya-Jam/123908540984923



*Carlos Alberto Lungarzo é graduado em matemática e doutor em filosofia. É professor aposentado e escritor, autor do livro “Os Cenários Invisíveis do Caso Battisti”. Para fazer o download de um resumo do livro clique aqui. Ex-exilado político, residente atualmente em São Paulo, é membro da Anistia Internacional (registro: 2152711) e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.

Espiritualidade, Economia e o mundo dos negócios

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O português Paulo Vieira de Castro, consultor de empresas e diretor do Centro de Estudos Aplicados em Marketing do Instituto Superior de Administração e Gestão (Porto) e o economista brasileiro, Marcus Eduardo de Oliveira, professor e especialista em Política Internacional, dialogam sobre espiritualidade, economia social e humana e o mundo dos negócios.

Paulo Vieira de Castro (*)

Marcus Eduardo de Oliveira (**)

O português Paulo Vieira de Castro, consultor de empresas e diretor do Centro de Estudos Aplicados em Marketing do Instituto Superior de Administração e Gestão (Porto) e o economista brasileiro, Marcus Eduardo de Oliveira, professor e especialista em Política Internacional, dialogam sobre espiritualidade, economia social e humana e o mundo dos negócios.

Na essência, ambos os especialistas conversam sobre a necessidade de integrar o ser humano numa visão mais abrangente, tanto no contexto da economia, quanto dos negócios, envolvendo desde a busca da felicidade à realização plena de cada um, comungando, nesse aspecto, a vida humana e a espiritualidade.

MEO – Eu creio que a mais desafiadora tarefa que cabe ao mundo da economia nos dias de hoje é romper, sistematicamente, com a visão que predomina na teoria econômica tradicional que insiste em ignorar o ser humano e centralizar ações apenas nos mercados e, por conseguinte, nas mercadorias. A economia (enquanto ciência) é muito mais que meros gráficos e índices, taxas e projeções matemáticas. Sendo as ciências econômicas uma ciência puramente social, nada mais justo que priorizar e colocar as pessoas em primeiro lugar. Para tanto, é necessário afirmar algo mais: faz-se imprescindível, nesse intento, despertar nos economistas modernos, que são vistos, em geral, como sendo de natureza estreita e egoísta, um sentimento de sensibilidade às dimensões éticas e sociais da economia.

PVC – Aqui na Europa existe a idéia que esta crise vai durar mais um ou dois anos.. A questão é: enquanto não mudarmos o sistema econômico esta crise vai durar! Como poderá a crise ser datada se ela é estrutural.

A lógica dos mercados terá deixar de se basear na expectativa, ela terá de ter como outrora lastro.. a economia baseada na especulação chegou ao seu término, afinal não é correto vender aquilo que não se tem.

Acredito numa economia que, enquanto disciplina intelectual, possa ser diferente da estudada nas universidades portuguesas, onde falta uma concepção de justiça económica baseada em algo mais elevado que o dinheiro , longe da especulação de um mercado que tantas vezes vai por si mesmo , colocando-se, por isso mesmo, longe de compromissos profissionais, morais, éticos, espirituais.

Teremos de abandonar a perspectiva que atribui um poder sobrenatural ao dinheiro . O dinheiro não é o “Deus do Mundo”. O dinheiro, assim como a felicidade, o sucesso.., não é uma estação de partida, ou mesmo de chegada.. Ele poderá ser uma ponte para algo maior..

O enfoque terá de ser na empresa humana! Certo é que a empresa humana chegou a um ponto em que terá de abandonar o ideal de crescimento para amadurecer, encontrando – finalmente - um sentido mais amplo para tudo o que faz ou diz. Esta idéia aplica-se ao que é realização humana, pelo que também a economia, a política, a religião, os negócios,.., terão de amadurecer.

Este é um esforço que não depende de estratégias de guerra, muito menos de um qualquer enigma, nem tão pouco dos mercados financeiros,.., apenas do recentrar em torno desta idéia de o mundo muda se eu mudar.

Lembro que a crise presente, em especial a econômica é, mais que qualquer outra, resultado do nosso desamor. Aliás, cuidar tornou-se a palavra mais esquecida do competitivo mundo das empresas e, talvez por isso, das nossas vidas.

Também nas empresas, cuidar é poder existir, ter novamente esperança, promovendo condições de reciprocidade, cooperação e aceitação plena. Esta transformação será um elemento de distinção na construção de uma nova forma de ver o mundo com base em novos questionamentos. Para isso teremos de deixar de nos ver a nós próprios desde o exterior, voltando à espiritualidade como centro de vida. Para que isso aconteça no ambiente empresarial talvez seja necessária uma nova transparência de propósitos, novos valores e expectativas, um novo enfoque relacional.., refiro-me à criação de verdadeiras comunidades de proximidade real.

Relembro que será necessário voltar à verdadeira dimensão da transformação interior, deixando partir o que tem de partir. Para simplesmente – ser humano, porque não começar por aí?!


MEO – Há certa pobreza de raciocínio dentro das ciências econômicas em torno da questão social. Mesmo a questão da ética e do discurso sobre a liberdade do homem. Muitas coisas relevantes, nesses aspectos, não são discutidas a fundo. É impossível aceitarmos, por exemplo, de forma pacifica, sem uma reflexão mais calorosa que, num país como o Brasil, com todas as potencialidades para ser uma das maiores economias do mundo, com mais de 600 milhões de hectares agricultáveis, com clima bom o ano inteiro e com muita gente disposta a trabalhar na terra, ainda tenhamos mais de 30 milhões de pessoas passando fome diuturnamente e uma produção agrícola de menos de 160 milhões de toneladas de grãos ao ano. Isso nada mais é que uma verdadeira patologia econômica. O que falta é justamente incutirmos nas políticas públicas, e na cabeça de quem as faz, esse “compromisso” com o social.

PVC – As revoluções não acontecem pela fome nem pela miséria, elas são sempre fruto de uma nova consciência. O medo e o sofrimento de uns, o ego de outros,.., são forças que – tantas vezes - contaminam a nossa realidade, impedindo-nos de expressar a consciência de nós próprios em tudo o que realizamos. E, esta é, sem margem para dúvidas, a maior de todas as crises! E como o mundo se cria a partir das nossas próprias razões, alguns entre nós iremos até onde os pensamentos os deixarem, outros até onde os pensamentos os levaram. . Acredito que o retorno a nós próprios, assumindo definitivamente a espiritualidade como o mais alto patamar ético, poderá ser a solução para quase tudo. Freqüentemente encontro pessoas que me dizem estar à espera de um sinal do lado espiritual,.., algo que lhes diga onde ou como mudar.. Perante esta inquietação, geralmente respondo: estás enganado! O mundo espiritual é que está à espera de um sinal teu, por isso te deixou livre, por isso te deu total liberdade para escolheres o teu próprio caminho.

Preocupa-me pensar que há quem gaste uma vida inteira nesta expectativa de ser tocado pela espiritualidade. Pela minha parte acredito que o mundo só muda se eu mudar, não tenho por que ou por quem esperar.. É, pois nessa escolha de caminho que reside a honra de ser humano e, conseqüentemente, a atitude de cuidar, não havendo nada que melhor defina uma pessoa que aquilo que ela faz quando tem total liberdade de escolha..

E porque aquilo que faço e o que me acontece são uma e a mesma coisa, a espiritualidade não poderá ser um mero momento de contemplação; a espiritualidade é ação! A transformação, a mudança, a verdadeira revolução começará por esta tomada de consciência.

MEO – No entanto, me parece clara a idéia de que a mudança reside em nós mesmos. Concordo contigo Paulo Vieira quando afirma, em um de seus textos, que “ninguém é vítima do mundo, mas sim da forma como o percebe”. E mais ainda: que é necessário, primeiro, procurar um caminho e deixar, a seguir, surgir a solução.

PVC – Feliz o nômade que, sem questionar a sua sorte, sem hesitar perante o seu destino, percebe o caminho em tudo o que faz, em todas as coisas, pois só assim se tornará caminho. Esta é a mais antiga de todas as leis.

Na realidade é neste confundir entre o futuro e o caminho que nos perdemos vulgarmente. É que todos queremos ir para o céu, mas nem todos queremos ir por onde se vai para o céu. Tantas vezes estamos unidos quanto ao destino, mas não quanto ao método que nos leva até ele..

O problema do Homem contemporâneo é que parte – quase sempre – de meio do caminho.. Há que despertar a certeza ética da conquista de resultados com sentido para todos, permitindo elevar o nível de auto-realização de cada um através d o desenvolvimento de afetos verdadeiros, propiciando deste modo o vôo espiritual, facilitador de uma comunidade de valores centrais à responsabilidade de ser humano.

Ao contrário da idéia avançada pela sociedade da informação e do conhecimento, onde se mostrava central conhecer, a proposta será a de auto-realizar integralmente o que se diz saber. Não é suficiente conhecer a responsabilidade como caminho para um mundo mais justo, é necessário cumpri-la, experimentando-a diretamente.

Lembro que conhecer o caminho não é a mesma coisa que trilhá-lo até ao seu termo. Garanto-lhe que no final da caminhada estará alguém, muito importante, à sua espera: você! Sinto que, a todos os níveis, existe uma emergente necessidade de assumir novos vínculos relacionais, assim será o seu mais elevado desígnio, expressão maior da intencionalidade e propósito da existência humana.

Certo é que a perda de um centro de valores robusto colocou, muitos entre nós, á espera de “algo”, perdendo-se neste emaranhado de coisa nenhuma.. Esta é uma postura que condiciona, irremediavelmente, a nossa atitude em todos os projetos, afetando vida profissional, afetiva, familiar..


MEO – Escrevi recentemente que a Economia e a Teologia precisam se “conhecer” melhor uma a outra, afinal, há um discurso de ambas as formas de pensar na mesma linha: qual seja, a valorização da vida humana (pelo lado da economia social e humana, e não da economia tradicional) e, pelo lado da teologia, quando resgata seu preceito mais importante: promover a libertação do homem. Nesse pormenor, urge entendermos que a qualidade de vida, que a ciência econômica tradicional estuda com certo desdém, é medida no eixo da liberdade.

PVC – Existe uma prece védica, samatwa, que nos fala do que fazer para trazer de volta a liberdade de ser humano. Para que tal seja possível a muito ajudará a leitura deste pequeno trecho:

Senhor, dá-me serenidade para aceitar o que não pode ser mudado, dá-me coragem para mudar aquilo que pode ser mudado. E principalmente, dá-me sabedoria para discernir aquilo que pode ser mudado daquilo que não pode ser mudado.

Concordo que necessitamos de devolver ao Homem o seu verdadeiro lugar, e esse não se compadesse com o fazer o papel de Deus. Nem tão pouco nenhum de nós será a mensagem; apenas o mensageiro.

Claro que se faz habitualmente alguma confusão entre religião e espiritualidade. De uma forma muito simplista diria que religiões há muitas, enquanto espiritualidade há só uma, aquela que reside em todos nós, sendo muitas às vezes em que ambas andam de mãos dadas.

A teologia e a economia só se poderão encontrar através dos Homens. Na prática, antes de poder alinhar as minhas crenças pessoais com os valores de uma equipa, deverei refletir em torno dos vários níveis de consciência que estão a ser jogados, só depois disto poderei assumir um compromisso para algo maior. Por exemplo, nenhum de nós poderá almejar desenvolver a sua espiritualidade sem antes ter ultrapassado a responsabilidade de ser íntegro, ético, responsável perante os outros. A religião, a espiritualidade são compromissos consigo mesmo, em nada dependente da vontade dos outros..


MEO – O “Dharma Marketing”, cujo princípio essencial é o de criar a auto-liderança tem alguma relação com a economia quando se pensa especificamente nos atores econômicos que interagem na atividade produtiva?

PVC – Certo é que a competência organizacional, não depende exclusivamente de um conjunto de formalidades, de motivações externas ou materiais, existindo um grupo alargado de padrões não convencionais/inconscientes que constantemente interferem nas decisões empresariais, tornando-se, também por isso, necessário agir a um nível mais íntimo, muito especialmente quando pretendemos fundar-nos em valores tão profundos quanto os espirituais.

Assim, também nas empresas encontramos o potencial do princípio animador ou vital do ser humano (a espiritualidade), afirmando-se, deste modo, a existência de uma identidade supra-humana, através de uma imperceptível teia organizacional, pelo que o mundo das empresas deverá ser visto como um todo, em constante relacionamento, e conseqüentemente, em transformação.

Costumo explicar esta idéia dando como exemplo o momento em que nos deparamos com alguém. Deste encontro nasce uma terceira entidade que é a alma da relação; porque seria diferente nas relações empresariais? Por estranho que pareça, esta é a única dimensão que perdura para além do tempo e do espaço, sendo a este nível - mais subtil - que se funda o inconsciente organizacional. E, se a espiritualidade tem a ver com ação logo é produção, então porque não administrar este capital relacional? A liderança para o terceiro milênio vai nessa direção.

Para que tal seja possível será necessário assumir um novo regime de serviço e de transparência, só concebível pela abertura dos canais intuitivo-anímicos da relação: o inconsciente organizacional.

Ao imaginarmos o Dharma Marketing propomos um conceito que se inscreve dentro da linha de entendimento do marketing relacional, não esquecendo que as organizações deverão estar focadas em valores, em estratégias,.., dependentes de hábeis negociadores, criativos, empreendedores, que saibam trabalhar sob pressão. Mas, ser-lhes-á isso possível na ausência da consciência e si mesmo?! Partindo desta questão surge um novo conceito de marketing que se propõe chegar a mais inconsciente dimensão do psiquismo humano, antecipando o caminho para um marketing de proximidade real.

Se a consciência da oferta e da procura se altera, porque não mudaria o marketing?! Este tem vindo a evoluir na sua orientação, indo para além do produto, da venda, do mercado, do cliente,.., assim, depois do marketing massificado, do marketing de segmentação, do marketing one to one,.., surge igualmente o marketing orientado para a perspectiva holística da relação: o inconsciente organizacional.

Habitualmente explico a mudança de focus estratégico proporcionado pelo Dharma Marketing utilizando a parábola da terceira margem do rio. Do rio que tudo arrasta, dizemos que é violento, esquecendo-nos o quão arrebatadoras são as margens que o comprimem. A violência do rio enquanto questão estratégica não está nele próprio, mas sim nas suas margens, ou seja, no constrangimento imperceptível que tudo condiciona. Ao transportamos este modelo para as relações humanas em contexto empresarial surgem novos desafios e, com estes, um renovado marketing: a quarta vaga do marketing relacional.

MEO – Talvez seja necessário, ademais, reforçarmos a idéia de que a vida humana e a espiritualidade jamais poderão ser separadas. Há que enfatizar-se, no entanto, que a espiritualidade – e não as diversas formas de religiões – têm muito a ajudar na construção de uma nova sociedade, à medida que faz também surgir um “novo homem”, despido de velhos vícios. Afinal, a espiritualidade está dentro de cada um de nós. O Reino de Deus não está no mercado e nem nas prateleiras de algum shopping center, mas sim dentro de nós.

PVC – Tem uma história - que conheço como sendo brasileira - onde um homem por ser tão apaixonado pelas estrelas inventou a luneta para vê-las melhor. Certo dia formou-se uma escola para estudar a s ua luneta. Desmontaram a luneta, a nalisaram-na por dentro e por fora, o bservaram os seus encaixes mediram as suas lentes e estudaram a suas características ópticas. Sobre a luneta de ver as estrelas escreveram -se muitas teses de doutoramento , assim como muitos congressos aconteceram para investigar a luneta. Toda a gente estava encantada,.., tão fascinados ficaram pela luneta que nunca mais olharam para as estrelas. Do mesmo modo, os humanos especializaram-se no acessório esquecendo o essencial, o estruturante à vida.. Infelizmente, há muito que deixamos de nos encantar com as estrelas..

Pretendendo explicar esta afirmação coloco uma simples questão: porque é que a vaca está feliz no pasto? A resposta é simples; porque lhe pedem - simplesmente - para ser vaca..O ser humano distraiu-se do devir de viver a sua verdadeira natureza, a sua realidade primeira. E aqui o problema não está na economia.. Acontece que no mundo dos conceitos, muitos são os que andam enredados numa vida que não é a deles.. O despertar espiritual ajuda ao entendimento que todos os caminhos vêm do centro e voltam para o centro.

Nós somos os únicos seres da natureza capazes de nos imaginarmos fora dela, vivendo num mundo fora do mundo onde tudo são conceitos. Para isso em muito tem contribuído o marketing, e em especial a publicidade ao passar de um registo lingüístico de denotação, para outro de conotação. Esta mesma lógica foi-se estendendo à felicidade, ao sofrimento, ao sucesso ou à falta dele..

Por exemplo, se perguntarmos a um operário fabril, há 30 anos funcionário da mais famosa marca de roupa intima feminina: o que é que você faz? Ele vai responder soutiens, slips,.. Se colocarmos essa mesma pergunta ao responsável pelo marketing, a resposta será: SONHOS! Ou, dependendo do posicionamento estratégico da empresa: EROTISMO!

Então, parece que o grande pecado das empresas terá sido querer dar às pessoas o que elas tanto desejavam, colocando-se novamente a responsabilidade do lado dos consumidores. Por exemplo, muitas vezes ouvimos comentários pouco elogiosos á programação televisiva e eu pergunto, porque é que à noite só passam telenovelas? A resposta é simples: porque as pessoas só querem ver telenovelas.. Eu sei que isto é cruel, mas é real!

Para, além disso, o Homem tornou-se um ser de convicções, animado pelo desejo de convencer. Aliás, persuadir é uma experiência específica do gênero humano. Os restantes seres da natureza informam e exprimem, nunca assumindo a postura do convencer, pelo que só o ser humano pode fantasiar a respeito de si mesmo e dos outros. É aqui que um novo Homem terá de aprender mais com a Natureza, e menos com a Civilização.

Para o desnorte dos consumidores muito terá contribuído o ideal neoliberal, associado à concepção de “um mundo que vai por si mesmo”. O mercado torna-se, deste modo, uma entidade não controlável, afetando irremediavelmente o comportamento do homem moderno, transformando-se a exaltação do consumo de tal modo presente no indivíduo que a Organização Mundial da Saúde se viu forçada a atribuir à Oniomania (febre das compras) a referência IM-10 da classificação internacional das doenças, sendo-lhe, ainda, atribuída a menção DSM-IV na Statistical Manual of Mental Disorder. A minha apreensão a este respeito tem sido, essencialmente, ao nível da responsabilidade e da ética nas empresas. Aqui nenhuma organização poderá ser maior que o horizonte espiritual dos seus lideres. O mesmo se aplicará aos países, mas também às famílias, logo a todos nós.

MEO – Certo é que não dá mais para negar a natureza social da economia. Assim como não se pode ocultar – ainda que os tradicionais queiram - que há mecanismos econômicos que “geram” e perpetuam a pobreza.

PVC – A noção de interdependência econômica tem de ser ajustada a outros vínculos. Certo é que o ser humano sai altamente prejudicado pela forma redutora como tem entendido o mundo como algo que pode ser só de alguns, em especial no contexto da economia e dos negócios. Mas de que mundo falo eu?

Marcus, imagine a sua vida representada por uma velha cabana construída em madeira. As dificuldades que vão surgindo ao longo da sua existência deixam vestígios, estes são aqui representados por fendas que a marcam, mais ou menos, violentamente.

Agora que está lá dentro olhe o enegrecido telhado. Se eu lhe der a escolher um dos buracos e lhe pedir para o descrever, como é que o referiria? Preto? Castanho? Azul..? Ou limitar-se-ia a ver o contorno, isto é a parte do telhado à volta do buraco?

Sem que nos apercebamos disso, esta é uma escolha que temos de fazer todos os dias, cometendo, invariavelmente, o mesmo erro. Não é possível separar o buraco do telhado e vice-versa. Afinal, a sua vida e a dos outros são uma mesma tela; inseparáveis.

Pela mesma ordem de razões vida humana e a espiritualidade jamais poderão ser separadas, assim como o conhecimento não poderá ser separado de quem conhece, acontecendo o mesmo na relação professor aluno, ou entre o dançarino e a dança.. É isto que se passa com a nossa vida, não sendo, por isso mesmo, possível separar nenhum momento de uma existência, onde problemas e soluções são duas faces de uma mesma moeda. Este entendimento traz-nos outro horizonte sempre que tomamos decisões, pelo que para além de partirmos das questões certas, teremos de seguir o caminho menos trilhado: a via interior dos negócios. A economia terá de estar – definitivamente - ao serviço de uma visão integral do ser humano.

MEO - Pergunto-lhe se, no mundo dos negócios, é possível estabelecer laços de sociabilidade repletos de comunhão e solidariedade? E que tipo de sucesso se deve perseguir nas empresas? Afinal, os economistas, em geral, confundem sucesso e prosperidade com aquisição e acúmulo de bens materiais.

PVC – A palavra central na resposta à sua pergunta é: felicidade! Tenho para mim que a felicidade não repousa em grandes posses, mas sim em grandes anseios. Esta é, afinal, a única grande riqueza da vida humana; ser lembrado pela nossa generosidade, pela nossa gentileza,..Como acontece com o bem, a felicidade é pré-existente à natureza do mundo, pelo que é algo que está desde sempre em nós, isto ao contrário da infelicidade. Esta última é uma criação exclusiva dos Homens. Isto acontece porque existe uma resistência inconsciente que nos obriga a procurar sempre fora de nós, levando-nos a seguir pensamentos dos outros, o sucesso dos outros ,. . , a felicidade dos outros..

Aquilo que não custa dinheiro será o que mais nos poderá inspirar. Veja; para si qual é o valor real de um sorriso, ou de um abraço sincero? Refiro-me, ainda, a outros recursos infinitos de sentido, patrimônio de todos os homens e mulheres, valores como a bondade, a compaixão, o desapego, etc..

Certo é que todos viemos ao mundo de mãos vazias, regressando de mãos vazias; sem exceção..

Tendo como intenção gerar felicidade aos outros e a si mesmo, dar é a mais profunda das formas de purificação. Só o que você der será eternamente seu; o que não der tiram-lhe; acredite!

Mas, porque será que quando falamos em dar tendemos a pensar em dinheiro? Essa é uma resposta que facilmente encontramos em cada um de nós..

No futuro teremos de valorizar essencialmente o dar responsável, relegando para um segundo plano a solidariedade meramente material.

Aceitar a importância de tais dimensões da existência humana, obriga a que cada um de nós seja um cientista interior, cuja maior valência será a de experimentar a (sua) própria realidade interdependente.

Tratando-se de uma terra sem caminho, viver nesta convicção será assumir a maior responsabilidade das nossas vidas: ter como missão o confiar que é possível um mundo melhor para todos. Para que isso aconteça já hoje faça o que é necessário, amanhã o que é possível, e de repente estará a realizar o impossível.. Lembre-se que os milagres não acontecem em contradição com a natureza, mas sim com o que dela conhecemos. Certo é que nas organizações, como em tudo na vida, existem unicamente duas escolhas para todos os problemas. A primeira é aceitar as condições que existem, a outra é aceitar a responsabilidade de as mudar.

(*) Consultor de empresas português, professor e diretor do Centro de Estudos Aplicados em Marketing (Porto).

Contato: geral@paulovieiradecastro.com

(**) Economista brasileiro, professor de Teoria Econômica e especialista em Política Internacional.

Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br




PRAVDA
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

Copiado de Breve História Ilustrada da Humanidade, revista digital NovaE

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PressAA

Agência Assaz Atroz

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O Serra que assumiu as vozes das trevas e da intolerância

Nessa, ele tem muito mais a perder, porque a direita sentimental já é anti-Dilma

"Todo mundo sabe, até as árvores da floresta amazônica. Elas são as principais testemunhas de que as Farc se abrigam na Venezuela."


José Serra (foto), em almoço com empresários do Grupo de Líderes Empresariais: a fina flor da plutocracia multinacional paulista.


Meu Deus! Onde fui amarrar meu cavalo?

Por Pedro Porfirio*

Sinceramente, esse Serra desses últimos dias me faz lembrar os torturadores que me submeteram a sevícias por 16 dias seguidos nos porões do Cenimar, na Ilha das Flores.



É um Serra ao avesso do nosso tempo, alguém saído do sarcófago da intolerância, do atraso e da guerra fratricida que tanto prejuízo nos causou.



Sua insistência em atacar governantes que desagradam o império não vai lhe render um único voto a mais. Em compensação reacende os piores sentimentos obscurantistas que a aragem já varreu, reduzindo a ditadura paranóica a uma péssima lembrança, evitada até pelos que delas se serviram ou graças a ela aumentaram suas fortunas.



Esse discurso soa como filho temporão daqueles idos em que se matava, prendia e arrebentava pessoas que eram apontadas como "agentes de Moscou" forjados na guerra santa que precisava fabricar inimigos externos para justificar sua barbárie.



Primeiro, Serra cometeu o desatino de culpar o governo boliviano pelo consumo de drogas no Brasil. Ao querer atingir Evo Morales, o mais legítimo representante do povo boliviano, cuja integridade moral é reconhecida no mundo inteiro, o candidato do PSDB imaginou alcançar o Sr. Luiz Inácio e sua adversária por tabela.



Existem traficante porque existem compradores



Demonstrou, ao mesmo tempo, que subestima a inteligência do cidadão brasileiro. Nessa questão das drogas, ele preferiu um caminho diferente do seu líder, Fernando Henrique Cardoso, que abriu os olhos e hoje tem uma compreensão mais lúcida a respeito.



E vai mais além: desconhece a lógica mais cristalina: há traficantes porque há consumidores. E muitos desses compradores de cocaína vivem lá, em Ipanema e nos jardins da elite paulista, onde as festas mais badaladas não dispensam a "branquinha".



Tenta tapar o sol com a peneira. Desconhece a própria crise da família e todos os fatores que incrementam a proliferação das drogas.



Tenho quatro filhos - os mais novos de 22 e 18 anos - e nunca eles se deixaram seduzir por amigos cujos pais não lhes dedicam a atenção devida. Estes, então, nem cigarro põem na boca.

Todo mundo sabe que esse vício macabro atinge a muitas famílias. Pais desesperados correm atrás de bodes expiatórios e clamam por mais intervenção policial para resolver o que eles não conseguiram resolver. Esse é um grande drama que o Sr. José Serra, numa precipitada irresponsabilidade, debita ao presidente Evo Moraes - um delírio, que só pode ser entendido como uma agressão gratuita e insana.



Chávez como alvo para agradar ao império



Agora, resolveu alvejar o presidente Hugo Chávez, a quem apontou levianamente como uma "ameaça à paz na América Latina". E ofereceu a cobertura do seu manto aos belicistas da Colômbia, esta, sim, uma cabeça de ponte dos interesses norte-americanos, totalmente minada por três grandes bases instaladas em Malambo, Palanquero e Apiay (esta a 400 km de nossa fronteira) para assegurar a obediência vil dos países da América do Sul ao império decadente.



Serra decidiu seguir as pegadas do milionário Sebastián Piñera, que chegou à presidência do Chile numa aliança de direita (que agora, por pragmatismo, começa a renegar, negando-se a conceder indulto aos assassinos da ditadura de Pinochet, pedido pela Igreja católica de lá).



Ao invés de oferecer um projeto de avanço, uma alternativa para frente, o candidato oposicionista embarcou na parola da plutocracia paulista. Com vasta experiência, José Serra não pode alegar que desconhece a articulação dos norte-americanos para derrubar Chávez (como já tentaram em 2002) e que a Colômbia é peça chave nesse projeto, no qual o sistema internacional não quer passar pelos mesmos vexames sofridos ao longo dos últimos 50 anos, em suas quase 400 tentativas de assassinar Fidel Castro, invadir Cuba e acabar com a revolução.



Como nos velhos tempos



Essa história sobre o acolhimento de guerrilheiros das FARC pelo governo venezuelano não é nem um pouco diferente dos "informes" sobre a existência de armas químicas no Iraque, pretexto para a invasão do país árabe, amplamente desmascarado pelos fatos.,



Não é diferente também de outras montagens, como o incêndio do Reichstag, forjado por Hitler, em 1933, para assumir o poder na Alemanha e iniciar uma brutal perseguição política.



Contra uma política externa correta



Assessorado por algum primata, Serra ataca a política externa do sr. Luiz Inácio, reconheçamos, a forma mais lúcída de fortalecer o Brasil como nação soberana e assegurar ganhos excepcionais para o país. Sob esse aspecto, só sendo um grande mau caráter, um asno ou um cego, ou as três coisas juntas, para negar o que significou a presença de Lula em todo o mundo: ele deve ter feito mais visitas a outros países do que todos os presidentes que o antecederam. E isso foi altamente positivo, refletindo-se na afirmação do prestígio internacional do Brasil.



Serra está vestindo a carapuça da volta ao passado mais traumático, mais primário, ao reino da intolerância e da indústria da guerra fria, no que revela mais do que interesse eleitoral. É lícito imaginar que ele esteja agindo assim por por insegurança ou, o que é mais lamentável, por querer ganhar o apoio e a ajuda dos trilionários internacionais, que se consideram os donos do mundo.



Com esses pronunciamentos ao gosto da pior direita, ele vai acabar jogando nas mãos de sua adversária as pessoas de opinião, as que não querem ver o país alinhado incondicionalmente ao sistema internacional e curtem uma política externa com identidade própria.



Nessa, ele vai ficar perdido no espaço da história, festejado somente pela meia dúzia de nostálgicos da ditadura. E não arrumará um voto sequer: a direita sentimental já está contra Dilma pelos seus arroubos juvenis.



E vai acabar alimentando o discurso amplamente difundido de que ele seria dos males o pior.



*FONTE: http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=d41d8cd98f00b204e9800998ecf8427e&cod=5931

Serra e Índio: qual o apito?

Ao afirmar que “o PT é chavista, que mantém relação com as Farc, e prima por desrespeitar direitos humanos”, Serra incorporou a visão de mundo da nova direita. Um estrato que, ameaçado pela abrangente emergência social promovida nos últimos oito anos, destila raiva e ressentimento.

Por Gilson Caroni Filho (*)

E finalmente descortinou-se – sob os estarrecidos olhares dos eternos ingênuos – a verdade que todos, há muito tempo, já conheciam. A fluidez do processo político brasileiro, suas clivagens e crises que podem decorrer da percepção de resultados eleitorais adversos, levaram o candidato José Serra a revelar sua verdadeira natureza de classe. Reativando um surrado discurso udenista, o ex-presidente da UNE passou a endossar o protofascismo de sua base de sustentação. Mais que assegurar a adesão de eleitores da direita, pôs por terra uma tese que ganhava espaço na grande mídia e em conhecidos círculos acadêmicos.

A caracterização simplória do cenário político definia as próximas eleições mais como uma disputa por espaço eleitoral do que como polarização ideológica de projeto de país. Ressurgia, com endosso de algumas lideranças esquerdistas, a visão dos dois partidos hegemônicos (PT e PSDB) como agrupamentos politicamente inautênticos, sem verdadeiras raízes na estrutura social e sem diferenciação ideológicas nítida. A distinção se daria apenas na maior ou menor capacidade de conseguir recursos, ganhos incrementais que ignoram modificações substantivas nos programas públicos. Nada mais falacioso. Nada mais revelador da fragilidade analítica dos que vêem no governo Lula uma continuidade pura e simples da gestão FHC. As sobejas dificuldades do candidato da direita, sua necessidade de marcar posição, desmentiram os estudos de encomenda.

Ao afirmar que “o PT é chavista, que mantém relação com as Farc, e prima por desrespeitar direitos humanos”, Serra incorporou a visão de mundo da nova direita. Um estrato que, ameaçado pela abrangente emergência social promovida nos últimos oito anos, destila raiva e ressentimento; típicos da intolerância retórica que o distingue. Impossibilitada de construir sua identidade pela inserção no processo produtivo, essa parcela da classe média forja a auto-imagem por diferenciação das classes fundamentais. Sabe que não é o que mira, mas não sobrevive sem o sentimento subjetivo de pertencer a uma elite idealizada. É nesse aspecto da nossa estrutura social que Índio e Serra passam a querer o mesmo apito. E a falar o mesmo dialeto.

As diatribes recentes do candidato tucano têm uma imensa serventia para os setores progressistas. Ao criticar as relações do governo petista com países sul-americanos e com a China, assegurando que “estamos fazendo filantropia com Paraguai e Uruguai e concessões excessivas ao país asiático”, Serra sinaliza que, no caso de uma eventual vitória em outubro, retomaria a política externa de subalternidade aos interesses estadunidenses. A volta da "diplomacia de pé de meia” não é uma questão menor nem uma mudança de rota desprezível.

A própria capacidade de o país de decidir soberanamente sobre seus destinos estará novamente em jogo. A orientação tendente a beneficiar o diálogo com os países vizinhos, superando assimetrias e promovendo uma autêntica integração, para ter continuidade e ser aprofundada, não pode conviver com a submissão vergonhosa ao imperialismo. O que está em jogo, neste momento, é a verdadeira segurança nacional.

Os inimigos dos reais interesses do país, ao contrário do que pretende a oposição e seu braço midiático, não são os governos de Evo Morales e de Hugo Chávez, a quem Serra, repetindo Uribe, acusa de "abrigar as Farc". O que ameaça a nação brasileira é a humilhante prostração aos ditames de Washington. Em um país com instituições minimamente democráticas, Serra e seu vice têm como lugar certo a lata de lixo da história.

Quanto mais nos aproximamos de outubro, aumenta a urgência de ampla mobilização dos trabalhadores e demais setores populares em defesa das suas conquistas sociais e econômicas, alcançadas nos dois mandatos do presidente Lula. É bom lembrar que não se deve esperar da nova direita, que sustenta Serra, uma análise serena de um governo popular. Para ela é imperdoável que tenha havido um período tão rico em cidadania, tão pródigo em participação nos debates sobre problemas nacionais.

Jonathan Swift escreveu, certa vez, que se pode identificar um gênio pelo número de imbecis que lhe atravancam o caminho. Se o criador de Gulliver tiver razão, Lula e sua candidata, a ex-ministra Dilma Roussef, têm excelentes títulos para exigir que lhes reconheçam a genialidade. Com inveja, com rancor, com incompreensão, mobiliza-se contra eles o que há de pior na sociedade brasileira. E ainda há quem não veja diferença entre os atores.

*Gilson Caroni Filho é sociólogo e mestre em ciências políticas. Nascido e residente no Rio de Janeiro, onde é professor titular de sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). É colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do blog "Quem tem medo do Lula?".

As charges são uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".
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