O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Serra estaria louco?

Serra estaria louco?

Por Urariano Mota (*)

Recife (PE) - Em Serra, olhem bem para os olhos. Eles vagam, fitam distante, como se pensassem em coisa diferente do que a boca fala. Quando dão presença, oscilam da fúria, arregalados, à retração nas órbitas fundas, com íris apagadas, parecendo reclamar de insônia permanente. O candidato não deve dormir bem nos últimos tempos, parece. Mesmo quando sorri, sorri só com a boca, fazendo com os olhos fixos uma composição de máscara. A quem sorri assim, só com os dentes, maxilar colado a maxilar, “com os dentes fechados”, o povo nordestino chama de gente falsa.

Mas não pensem que ele, apesar da própria cara, não se preocupe com uma boa feição. No Recife, durante uma entrevista coletiva, ao tossir muitas vezes, reclamou da garganta e pediu para não ser filmado nesse aperto: “Eu acho que os meus olhos ficam esbugalhados”. Será? Em sua imagem mais conhecida na web, bem humorado, ele “brinca” com um fuzil de mira telescópica, apontado para o fotógrafo, vale dizer, para todos nós. Aí vem bala, e nos baixamos, como se a imagem viesse com a desgraça de um projétil em três dimensões. No entanto, não precisamos de um novo Lombroso para ver no candidato ares de louco, de um indivíduo com os mais claros sinais de desequilíbrio mental. Basta ir ao que ele declara, de norte a sul do Brasil. Pior que seus olhos e expressões faciais, Serra é aquilo que ele declara.

Abrem-se as cortinas. Fala, Serra.

“Vou criar o Ministério do Acarajé”, ele falou, disse, e acrescentamos um futuro do pretérito, teria dito em Salvador. Inacreditável. Será mesmo verdade tal fala e ministério? Qualquer brasileiro pode imaginá-lo, melhor, esperá-lo a prometer um Ministério da Tapioca em Pernambuco, um do Tucupi, no Pará, e outro de Dois Pastel, em São Paulo. Em Goiânia, para não mencionar o Ministério do Pastelão, chegou a afirmar que construir um aeroporto é "como fazer um shopping center", assim, sem qualquer controlador de bobagem ou biruta. Na ocasião, ele ainda reclamou do sotaque local da repórter goiana. Como falam engraçado as pessoas que não são paulistas! Mais próximo de sua base, no Rio, entre oito promessas feitas em menos de dez minutos, como um louco rapidíssimo, assegurou mutirões para prevenir a hipertensão... Será possível que não exista um só fotógrafo para registrar a cara dos acompanhantes quando ele fala tais delírios?

Antes do Acarajé na Bahia, em Curitiba prometeu dar enxoval às grávidas. E se possível, acreditamos, assumir a paternidade também. De quantas mulheres no Brasil? De todas, fôlego e saliva no candidato não sobram. Há loucos que babam, dizem. Mas não se espantem de tamanha potência e generosidade varonil. Em matéria de paternidade, antes dos filhos de todo o Brasil, ele andou furtando paternidades de outros que não foram seus, como os projetos de lei dos remédios genéricos e do Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Observo agora que escrevi acima que no Rio ele estava mais próximo de sua base. Mil e um perdões, porque o candidato José Serra é, pelo que fala, pelo que procura fazer crer, natural de qualquer estado brasileiro ou cidade por onde ande. Entendam, não é só um em Roma como os romanos. Em Pernambuco ele é pernambucano. “Cresci na política aqui em Pernambuco”. Logo... Quando ele viaja para outros estados do Nordeste, tem até um genérico de naturalização, tipo, como dizem os adolescentes, tipo ninguém é mais nordestino: “O político que mais fez pelo Nordeste fui eu”. Um autêntico filho de uma mãe nordestina, poderíamos dizer.

Os sintomas do mal não apareceram agora, é claro. Lembram-se do conselho do mago médico Serra, quando se anunciou a gripe suína? Um primor: "Ela, a gripe suína, é transmitida dos porquinhos para as pessoas só quando eles espirram. Portanto, a providência elementar é não ficar perto de porquinho nenhum". Viva. A esta altura, há quem diga que o candidato, submetido a fortes pressões, de partido, projetos e destinos, pirou de vez. Daí os sucessivos desvarios, dizem, os olhos que perambulam, imigrantes e fugidios. Especula-se até de tratamentos secretos a que ele se submeteu, com remédios prescritos pela medicina mais confiável, nas últimas semanas.

Eu, do meu canto, sem ser alienista, penso que a realidade do mal é mais simples. Serra, o nordestino, nortista, sulista, mineiro, criador de ministérios para todos os gostos do mundo, apenas afundou o juízo nas órbitas diante da última pesquisa Vox Populi: Dilma Rousseff tem 43%, Serra, 37%. Em queda, não há lucidez que aguente.


*Urariano Mota é jornalista e escritor. Autor do livro “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do Cabo Anselmo, executada pela equipe de Fleury com o auxílio de Anselmo. Urariano é pernambucano, nascido em Água Fria e residente em Recife. É colunista do site “Direto da redação” e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”

As charges são uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

Carta de João Ubaldo Ribeiro ao ex-presidente FHC

Reproduzido do blog "Com texto livre". A carta é IMPERDÍVEL!

No momento em que Fernando Henrique Cardoso pleiteia uma vaga na Academia Brasileira de Letras, vem à tona esta bela carta redigida pelo escritor João Ubaldo Ribeiro em 1998.

25 de outubro de 1998
Senhor Presidente,
Antes de mais nada, quero tornar a parabenizá-lo pela sua vitória estrondosa nas urnas. Eu não gostei do resultado, como, aliás, não gosto do senhor, embora afirme isto com respeito. Explicito este meu respeito em dois motivos, por ordem de importância. O primeiro deles é que, como qualquer semelhante nosso, inclusive os milhões de miseráveis que o senhor volta a presidir, o senhor merece intrinsecamente o meu respeito. O segundo motivo é que o senhor incorpora uma instituição basilar de nosso sistema político, que é a Presidência da República, e eu devo respeito a essa instituição e jamais a insultaria, fosse o senhor ou qualquer outro seu ocupante legítimo. Talvez o senhor nem leia o que agora escrevo e, certamente, estará se lixando para um besta de um assim chamado intelectual, mero autor de uns pares de livros e de uns milhares de crônicas que jamais lhe causarão mossa. Mas eu quero dar meu recadinho.
Respeito também o senhor porque sei que meu respeito, ainda que talvez seja relutante privadamente, me é retribuído e não o faria abdicar de alguns compromissos com que, justiça seja feita, o senhor há mantido em sua vida pública – o mais importante dos quais é com a liberdade de expressão e opinião. O senhor, contudo, em quem antes votei, me traiu, assim como traiu muitos outros como eu. Ainda que obscuramente, sou do mesmo ramo profissional que o senhor, pois ensinei ciência política em universidades da Bahia e sei que o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico. Mas, como dizia antigo personagem de Jô Soares, eu acreditei.
O senhor entrou para a História não só como nosso presidente, como o primeiro a ser reeleito. Parabéns, outra vez, mas o senhor nos traiu. O senhor era admirado por gente como eu, em função de uma postura ética e política que o levou ao exílio e ao sofrimento em nome de causas em que acreditávamos, ou pelo menos nós pensávamos que o senhor acreditava, da mesma forma que hoje acha mais conveniente professar crença em Deus do que negá-la, como antes. Em determinados momentos de seu governo, o senhor chegou a fazer críticas, às vezes acirradas, a seu próprio governo, como se não fosse o senhor seu mandatário principal. O senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo. Político competente é Antônio Carlos Magalhães, que manda no Brasil e, como já disse aqui, se ele fosse candidato, votaria nele e lhe continuaria a fazer oposição, mas pelo menos ele seria um presidente bem mais macho que o senhor.
Não gosto do senhor, mas não tenho ódio, é apenas uma divergência histórico-glandular. O senhor assumiu o governo em cima de um plano financeiro que o senhor sabe que não é seu, até porque lhe falta competência até para entendê-lo em sua inteireza e hoje, levado em grande parte por esse plano, nos governa novamente. Como já disse na semana passada, não lhe quero mal, desejo até grande sucesso para o senhor em sua próxima gestão, não, claro, por sua causa, mas por causa do povo brasileiro, pelo qual tenho tanto amor que agora mesmo, enquanto escrevo, estou chorando.
Eu ouso lembrar ao senhor, que tanto brilha, ao falar francês ou espanhol (inglês eu falo melhor, pode crer) em suas idas e vindas pelo mundo, à nossa custa, que o senhor é o presidente de um povo miserável, com umas das mais iníquas distribuições de renda do planeta. Ouso lembrar que um dos feitos mais memoráveis de seu governo, que ora se passa para que outro se inicie, foi o socorro, igualmente a nossa custa, a bancos ladrões, cujos responsáveis permanecem e permanecerão impunes. Ouso dizer que o senhor não fez nada que o engrandeça junto aos corações de muitos compatriotas, como eu. Ouso recordar que o senhor, numa demonstração inacreditável de insensibilidade, aconselhou a todos os brasileiros que fizessem check-ups médicos regulares. Ouso rememorar o senhor chamando os aposentados brasileiros de vagabundos. Claro, o senhor foi consagrado nas urnas pelo povo e não serei eu que terei a arrogância de dizer que estou certo e o povo está errado. Como já pedi na semana passada, Deus o assista, presidente. Paradoxal como pareça, eu torço pelo senhor, porque torço pelo povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados, com o qual o senhor, em seu palácio, não convive, mas eu, que inclusive sou nordestino, conheço muito bem. E ouso recear que, depois de novamente empossado, o senhor minta outra vez e traga tantas ou mais desditas à classe média do que seu antecessor que hoje vive em Miami.
Já trocamos duas ou três palavras, quando nos vimos em solenidades da Academia Brasileira de Letras. Se o senhor, ao por acaso estar lá outra vez, dignar-se a me estender a mão, eu a apertarei deferentemente, pois não desacato o presidente de meu país. Mas não é necessário que o senhor passe por esse constrangimento, pois, do mesmo jeito que o senhor pode fingir que não me vê, a mesma coisa posso eu fazer. E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais.
João Ubaldo Ribeiro
By: Seja Dita Verdade

O direito humano à água inunda a ONU

O direito humano à água inunda a ONU

Por Thalif Deen,
IPS e Unisinos

A proposta de reconhecer o acesso à água como um direito universal básico poderia distanciar as nações ricas das pobres na Organização das Nações Unidas (ONU). A principal oposição parte das nações ocidentais, disse Maude Barlow, ativista e fundadora da Blue Planet Project, com sede no Canadá. “Esse país é o pior. Mas Austrália, Estados Unidos e Grã-Bretanha também entorpecem o processo”, afirmou. “Resisto a ver isto como uma questão Norte-Sul, mas começa a parecer muito que é”, acrescentou à IPS. Se a Assembleia Geral, de 192 membros, adotar a resolução, “será uma das coisas mais importantes já feitas pela ONU desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos”, afirmou Maude.

O rascunho de duas páginas, promovido pela Bolívia, reconhece “o direito humano a água e saneamento”. A versão final será apresentada ao presidente da Assembleia Geral, o líbio Ali Abdussalam Treki, no final deste mês, se superar os obstáculos políticos. “É algo muito importante para as nações em desenvolvimento”, disse à IPS um diplomata que não quis se identificar. É verdade que não há sustento legal para declarar o acesso a água e saneamento como um direito universal básico, ressaltou. “É preciso aperfeiçoar as questões de definição e alcance, mas já há um processo em Genebra para trabalhar a respeito na Assembleia Geral, acrescentou. “São assuntos importantes e devemos obter um consenso para esta resolução. Do contrário será jogado por terra a importância do acordo a que chegamos”, advertiu.

Quase dois bilhões de pessoas vivem em áreas com escassez e três bilhões não têm água corrente no raio de um quilômetro de suas casas, destacou Maude. Quando foi redigida a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, ninguém podia prever que chegaria o dia em que o acesso à água seria um problema, diz uma carta enviada por Maude aos representantes dos 192 membros da ONU. “Em 2010 não é exagerado dizer que a dificuldade de acesso a água potável é uma das piores violações dos direitos humanos”, acrescentou a ativista, que foi assessora do ex-presidente da Assembleia Geral no período 2008/09, o nicaraguense Miguel d’Escoto.

O Canadá freou os passos mais básicos para um reconhecimento internacional do acesso a água como direito universal e trabalhou nos bastidores para desbaratar as iniciativas com vistas à criação de um instrumento vinculante, afirmou Maude. Os funcionários canadenses não explicam sua posição, dizendo apenas que uma convenção desse tipo obrigaria o país a compartilhar seu recurso com os Estados Unidos. Mas é apenas uma desculpa e o governo de Stephen Harper sabe disso, acrescentou. Uma explicação melhor é que uma convenção da ONU atuaria como contrapeso de quem pretende vender a água com fins lucrativos, ressaltou.

Por sua vez, Ann-Mari Karlsson, do Instituto Internacional da Água de Estocolmo (SIWI) disse que a organização concorda “com a posição de especialistas independentes da ONU sobre o direito a água e saneamento serem parte de um padrão de vida adequado, direito já protegido no artigo 11 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais”.

É importante que a resolução das Nações Unidas o deixe bem claro, ressaltou Ann-Mari, “o que não está fazendo”, acrescentou. Além disso, neste contexto, não se pode subestimar a importância do saneamento. O acesso a água e a disponibilidade do saneamento estão estreitamente vinculados, disse. Contudo, no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, se está mais longe de alcançar o primeiro do que o segundo, acrescentou. “Isso deveria se refletir na resolução”, acrescentou.

“Organizações locais e internacionais que lutam por justiça no acesso a água reclamam que as lideranças da ONU claramente reconheçam que se trata de um direito humano, como o saneamento”, disse, por sua vez, Anil Naidoo, também da Blue Planet Project. Anil trabalhou com a China e os 130 integrantes do Grupo dos 77 países em desenvolvimento para promover o rascunho da resolução. “Na medida em que se avança, reclamamos que o texto da resolução seja contundente e não deixe dúvidas a respeito de que a água e o saneamento são direitos humanos”, acrescentou.

“Não estamos contra a privatização como princípio. Nossa principal preocupação é que o Estado assuma sua responsabilidade de regular e supervisionar as atividades do setor privado para que todos tenham água potável e corrente e saneamento”, afirmou Ann-Mari à IPS. Não é relevante se o serviço é fornecido por uma empresa pública ou privada, mas que a água e o saneamento sejam considerados direitos humanos, insistiu.


Aécio Neves: "Filósofos, sociólogos e cientistas políticos virão a analisar Lula como algo que nunca aconteceu nesse país".

Vida, Façanhas e Milagres de Ignazio La Russa (ministro da defesa italiano)


Vida, Façanhas e Milagres de Ignazio La Russa

Por Carlos Alberto Lungarzo (*)

Se você não sabe quem é Ignazio La Russa, não se envergonhe. Ele só ficou conhecido fora da Itália por sua perseguição contra o escritor italiano Cesare Battisti, montando um circo que incluiu cenas tais como se acorrentar às grades da Embaixada Brasileira em Roma, e de proferir enfaticamente a frase: “Sei que não é possível, mas eu adoraria torturar Battisti”. Não sabemos se ele disse que “não é possível” porque Battisti está longe, ou porque pegaria mal que o ministro de defesa da Itália torturasse um prisioneiro. Não é, sem dúvida, por medo da lei, porque a Itália não possui uma legislação que considere que a tortura é crime. É o único país da UE nestas condições. Nem a Turquia, autora do genocídio da Armênia e aplicadora de tratos prisionais brutais, admite a tortura do ponto de vista legal.

Fundador da Juventude Neofascista
Ignazio Benito Maria La Russa nasceu em julho de 1947, em Paternò, uma cidade de 50 mil habitantes (em 2009) da Província de Catania, na região da Sicilia. Seu pai foi o influente senador Antonino La Russa, membro do Movimento Social Italiano (MSI), uma agrupação fascista fundada em 1946 pelos grandes amigos de Mussolini (Giorgio Almirante, Pino Romualdi e Manlio Sargenti) e pelo antigo voluntário do falangismo na Guerra Civil Espanhola, Arturo Michelini.

A criação do MSI foi permitida porque os aliados Ocidentais que libertaram a Itália, não empreenderam uma tarefa de neutralização do fascismo, como foi feita, pelo menos parcialmente, no caso do nazismo. Os Estados Unidos, conscientes de que a experiência dos fascistas seria importante para sua implantação da Operação Gládio (uma operação sistemática de terrorismo de estado destinada a aniquilar a esquerda em todos seus estilos) limitaram-se a proibir ações fascistas deste tipo: tentar restaurar a ditadura explícita no estilo de Mussolini, ameaçar outros países da Europa Ocidental, mostrar falta de cooperação com NATO, e fazer propaganda ostensiva do nazismo alemão (o que poderia irritar os países vítimas do Holocausto). Entretanto, um partido com os mesmos princípios que o Partito Nazionale Fascista seria permitido, desde que respeitasse essas limitações. Inclusive, a propaganda do Fascio (mas não do Terceiro Reich) foi permitida. O MSI convocava atos em locais públicos e especialmente em Igrejas, onde se desfraldavam bandeiras com a águia fascista e a cruz céltica, e se fazia a saudação romana. No entanto, quando os encontros eram mais solenes, como alguns enterros, e a visibilidade menor, também se exibiam algumas suásticas.

O MSI foi exatamente isso: o antigo partido fascista sem pretensões de domínio na Europa. O MSI aliou-se em 1994 com outro partido neofascista, a Destra Nazionale, e finalmente se dissolveu em 1995, após 49 anos de sucessos, deixando passo a uma nova e mais eficiente direita neofascista: Alleanza Nazionale. Ignazio, que na época tinha já grande experiência parlamentar como representante de diversas coalizões fascistas, foi um dos fundadores.

Duas décadas antes, em 1972, La Russa fez parte do grupo que criou o Frente da Juventude, o braço juvenil do MSI, que era tanto um grupo político para que os calouros do fascismo fizessem suas primeiras experiências, como uma esquadra de choque para atacar esquerdistas ou simpatizantes, tanto individualmente, nas ruas e passeatas, como massivamente, em seus locais, atos e encontros.

Nesse mesmo ano, Marco Bellocchio rodou um filme sobre o jornalismo fascista na Itália, chamado Esmaga o Monstro na Primeira Página. A abertura inclui segmentos de um documentário real, onde aparece um comício em Milão da organização anticomunista de extrema direita Maioria Silenciosa. O orador daquele comício é o futuro ministro Ignazio La Russa, que na época estava com 24 ou 25 anos.

Mas, foi em abril de 1973, quando o Frente da Juventude teve sua mais árdua tarefa. Participar de uma passeata do MSI, no dia 12, quando todos os fascistas de Milão se juntariam para fazer uma megaprovocação, da qual culpariam os comunistas.

O fato é antecedido por um frustrado ataque fascista 5 dias antes. Nico Giuseppe Azzi (1951-2007) tentou fazer explodir o trem do circuito Turim-Roma com uma expressiva carga de TNT. Primeiro, passou por vários vagões do comboio, mostrando ostensivamente exemplares da revista do movimento de esquerda independente Luta Contínua, chamando a atenção de vários passageiros. Quando quase todos tinham visto aquele jovem alardeando de sua ideologia, Nico se fechou no banheiro para preparar a detonação da carga de TNT. Para sorte dos passageiros e desgraça sua, o detonante (um pequeno explosivo que deflagra a explosão maior) explodiu em sua mão. Mesmo de baixo impacto, o estouro deixou em seu corpo várias feridas.

Apesar da falha no atentado, o projeto fascista seguia os passos habituais. Aquele grande atentado de Piazza Fontana, também em Milão, tinha sido atribuído aos anarquistas em 1969. Este falho ataque de 1973 seria atribuído a Luta Contínua, já que os passageiros tinham visto aqueles jornais e ninguém reconheceria Nico como fascista, já que ele era um total desconhecido. Tampouco existia o risco de ser denunciado, porque polícia e justiça eram coniventes. Então, o ato de 12 de abril, mostraria a decisão dos fascistas de salvar seu país e as tradições nacionalistas e católicas, e repudiar os comunistas e outros esquerdistas.

Todos os grupos em ação, e especialmente o Frente da Juventude, dirigido na região norte por La Russa, protestavam contra a “violência marxista”. O prefeito de Milão proibiu todas as passeatas (de esquerda e de direita) para evitar o confronto, sob as protestas dos dirigentes fascistas, entre os quais estava o Ignazio. Apesar do veto, os fascistas lançaram a primeira bomba, ferindo um agente e um transeunte. Logo, nova explosão matou o agente Antonio Marino. Além disso, destruíram, entre outros edifícios, a Casa do Estudante e uma Escola, ambas dirigidas por grupos de esquerda. (Vide)

Este fato tem continuação histórica com outro, ocorrido 34 anos depois. Nico Azzi sobreviveu a suas feridas, porém morreu de um ataque ao coração em 2007, sendo velado na linda igreja de Santo Ambrogio, em Milão. O fúnebre ritual teve muitos assistentes, entre os quais destacavam os skin heads, que escoltavam o caixão portando bandeiras fascistas, e o feixe (fascio) típico do movimento, do qual deriva justamente seu nome. Mas, convidados de honra mesmo foram o ministro Ignazio La Russa, junto com seu irmão Romano, que é parlamentar Europeu. Por sinal, este é um assunto para ser pensado pelos que acreditam que a União Europeia é um paraíso de democracia e justiça. Contudo, para sermos sinceros, devemos reconhecer que os fascistas no Parlamento Europeu não passam de 20%, se tanto. (Vide)

Os “Fratelli” do Signore Ministro
Falando em terroristas de grande porte, o ministro tem amigos que não são boas companhias. Um deles, camarada desde a juventude, é Giancarlo Rognoni, envolvido no primeiro grande superatentado, no Banco Agrícola de Milão, em Piazza Fontana (marcando, em 1969, a abertura dos atos ultraterroristas). Giancarlo foi condenado em primeira instância, mas absolvido por tribunais superiores, cheios de juízes fascistas. La Russa esteve, segundo muitas versões, entre os que ajudaram ele a livrar a cara.

Ora, quem afirma isto? Os membros da esquerda alternativa, subversivos e violentos? Não. Os antigos comunistas, moderados e conciliadores, porém “envenenados” pelo espírito marxista? Também não. Aliás, eles denunciam esta amizade, sim, mas não apenas eles. O principal denunciante é nada menos que Vincenzo Vinciguerra, um célebre superterrorista e o único fascista que cumpre prisão. Se ficasse alguma dúvida, veja uma matéria escrita em vivo e a cores pelo mesmo Vincenzo (em espanhol), intitulada Os Reincidentes. (Vide)

Alguns pensam que Vinciguerra está resentido porque é o único que está preso, mas esta conjetura pode beirar o preconceito. Os fascistas têm convicções violentas e desumanas, mas muitos deles realmente acreditam em seus nocivos princípios. Vinciguerra demonstrou várias vezes ser um fascista honesto, ou seja, alguém que não quer tirar vantagem, mas que se orgulha de sua ideologia de ódio, e é capaz de sacrificar-se por ela. Talvez seja por isso que não foi liberado. Ele não tentou colocar a culpa na esquerda, orgulhou-se de seus crimes, e declarou que não queria ser utilizado pelos oportunistas que colaboram com os Estados Unidos. Isso não o torna, obviamente, melhor que os outros!

O Jogo das Cruzes
Todo mundo sabe que os nazistas tornaram tristemente célebre a cruz suástica, um símbolo indostânico que não representava nada de ruim, muito pelo contrário. Em sânscrito, a palavra deriva de su e asti, que juntos significam algo como “amuleto da sorte”, horrível contraste com a imagem dos 20 milhões de vítimas do nazismo..

O atual uso da Cruz Malta já está mais próximo de seu significado inicial, pois sempre esteve associado com intolerância, crueldade e barbárie. Deriva das cruzes dos Cruzados, que a sua vez a tomaram de outros cavalheiros cristãos, e foi usada pelos fascistas de todo o mundo, mas também pelos exércitos não fascistas nas condecorações militares.

O Ministro La Russa é também chegado a uma cruz. Um exemplo é sua defesa da presença de crucifixos nos locais públicos da Itália, recentemente condenada pela Corte Europeia de Direitos Humanos.

[NOTA: Sobre a exposição de símbolos religiosos pode existir, algumas vezes, uma tênue divergência até dentro das grandes OGNS de DH. Por exemplo, o pesquisador de Anistia Internacional para assuntos islâmicos se pronunciou contra a proibição de burca na França. Nossas coincidências são absolutas em assuntos básicos, como tortura, genocídio, racismo, pena de morte, aborto, escolha sexual, etc., mas pode divergir em pontos menores. Faço questão de salientar que minha posição neste escrito é puramente pessoal.]

Em novembro de 2009, a Corte Europeia de DH instou a Itália a tirar os crucifixos das escolas públicas. Estes crucifixos não são simples cruzes, que podem ter um significado cultural e estético, mas são réplicas de cruz católica, com a figura de Cristo submetido à tortura da morte lenta. É bom salientar que a maioria das grandes correntes cristãs repudia a representação completa da morte de Jesus, considerando-a uma idolatria e um espetáculo constrangedor. A Corte alegou que essa proclama pública de tendência religiosa num país teoricamente secular violava o direito de consciência para as crianças que não eram católicas.

Como era natural, a medida provocou a histeria de padres, bispos e carolas de todo gênero e idade, que se referiram ao juiz de Estrasburgo como “porco muçulmano”. Por sinal, esta reação dificulta entender como os católicos reclamam “tolerância religiosa”.

Nos representantes da Igreja era natural esperar esse tipo de atitude, mas não num representante de um poder público, como o Ministro La Russa. Afinal, apesar da cultura fascista, mafiosa e teocrática que infesta Itália, esta teve também o maior movimento humanista e uma das maiores esquerdas do planeta. La Russa não tratou de “porcos” aos juízes; apenas lhes desejou a morte. Esqueceu dizer, se a morte devia ser na santa paz do Senhor. Literalmente:

“Todas as cruzes ficarão penduradas, e os opositores da cruz que morram. Podem morrer, podem morrer, eles junto com esses órgãos internacionais mentirosos, que não valem nada!” (Vide e também)..

Uma reflexão para os inimigos do direito de asilo. Dizem que a União Européia apoia Itália no caso Battisti. Será que as relações entre ambas são tão boas como para isso?

Os “Heróis” do Fascismo
Um ano antes da defesa do crucifixo, La Russa tinha manifestado sua vocação pelo fascismo e pelo obscurantismo de maneira ainda mais categórica. Fechamos nosso artigo com este último feito de nosso ministro.

Em setembro de 2008, num ato público em que estava o presidente Napolitano, ex-comunista e membro da Resistência antifascista durante a Segunda Guerra, La Russa defendeu os soldados fascistas que tentaram impedir a entrada das forças canadenses, americanas e britânicas, que, quaisquer que fossem seus interesses últimos, naquele momento estavam libertando o povo italiano da ditadura de Mussolini. La Russa disse que:

“[Os militares fascistas] combateram acreditando na defesa da pátria, opondo-se aos anglo-americanos e merecendo respeito”. (Vide isto1, isto2 e isto2)

Além de enaltecer o fascismo, o ministro esqueceu que grande parte da população italiana, incluindo um grupo de católicos alternativos, também apoiou a libertação do país. Aliás, percebo uma falta de gratidão. O que teriam feito todos os terroristas de estado nos anos 60, 70, 80, etc., sem o apoio dos americanos?

Bom, esta é uma breve saga, muito resumida do homem que se perfila como o maior inimigo de Cesare Battisti.

*Carlos Alberto Lungarzo é graduado em matemática e doutor em filosofia. É professor aposentado e escritor, autor do livro “Os Cenários Invisíveis do Caso Battisti”. Para fazer o download de um resumo do livro clique aqui. Ex-exilado político, residente atualmente em São Paulo, é membro da Anistia Internacional (registro: 2152711) e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.
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