O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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quarta-feira, 14 de julho de 2010

O fim da surras pedagógicas


O fim da surras pedagógicas

Por Urariano Mota (*)

Recife (PE) - O presidente Lula assinou hoje um projeto de lei revolucionário: as palmadas e surras tidas como educativas, aplicadas há séculos pelos pais aos filhos, poderão ser punidas agora com advertências, encaminhamentos a programas de proteção à família e orientação especializada. E não só os país, os amorosos e exemplares pais, coitados. Os professores e cuidadores (dos quais ninguém cuida) também ficam proibidos de beliscar, empurrar ou mesmo bater em menores de idade.

Até então, a Lei 8.069, que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente, condenava os maus-tratos contra a criança e o adolescente, mas não definia se os maus-tratos seriam físicos ou morais. Com o projeto assinado, o artigo 18 passa a definir "castigo corporal" como "ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente".

Em um país de cotidiana prática de tortura nas delegacias policiais, cometidas sempre contra os delinqüentes de fato ou em potência, a saber, negros e pobres; em um país cuja maior escola, para todo o povo, foi e tem sido a herança da escravidão, que naturalizou a dor contra pessoas como se fossem bestas; em um país que mal saiu de uma ditadura que matou, destruiu e mutilou brasileiros sob o aleijão ideológico de que apagavam terroristas, o projeto assinado pelo presidente é um salto para a civilização.

Pelos comentários que agora correm em toda a web, sabemos bem quem se opõe ao projeto de lei: vêm sempre de indivíduos de extrema-direita ou conservadores de todo gênero. Alguns podem ser tomados como representantes do pensamento de nossa educação pela porrada. Dentre os mais legíveis, excluídos os insultos sórdidos à pessoa do presidente, colho:

“... não aceito interferência do Estado dentro da minha casa, na condução da educação dos meus filhos... Os pais ficam nessa de dialogar e as crianças tomarão conta da casa. Não respeitando mais os pais, não respeitarão nenhum adulto... Não vai ter juiz, desembargador ou presidente, que vai me dizer como educar meus filhos. ...Na minha opinião o ECA veio para estragar ainda mais a ordem em nosso pais, porque amparados por esse estatuto temos centenas de menores com 16, 17 anos praticando crimes e ficando impunes. Na minha opinião a lei mais forte é o direito dos pais de educarem seus filhos”.

Observem que a média de nossos bárbaros ainda nem assimilou o ECA, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que para eles é só eca, porcaria, nojo, nada mais. No entanto, creiam, o projeto de Lula segue uma tendência mundial. Ele cumpre uma recomendação do Comitê da Convenção sobre Direitos da Criança das Nações Unidas, para que os países passem a ter legislação própria referente ao tema. A Suécia nos antecipou em 1979. Depois vieram Áustria, Dinamarca, Noruega e Alemanha. Atualmente 25 países têm legislação para proibir essa prática. Na América do Sul, até então, apenas o Uruguai e a Venezuela possuíam lei semelhante. Agora, vem o Brasil. É tempo, há tempo não somos mais o fim do mundo.

O presidente Lula, do alto de sua cultura extraordinária (sinto que explicar isso exigiria um outro artigo), homem educado na vida política e sindical, traz agora para todos os brasileiros os avanços do resto do mundo. Eu, que fui criado sob o lema paterno de “bato num filho como quem bate num homem”, e que sob tão alto princípio recebi as lições educativas de surras de borracha, mangueira de jardim e socos, bem conheço o alcance do projeto assinado pelo presidente. Salve. Assuntos de desrespeito à pessoa, de brutalidade contra jovens, não são assuntos de foro íntimo, da vida privada, a se resolverem entre quatro paredes. Violência educativa não pode nem deve continuar a ser assunto restrito aos pais e doces educadores.

Com esse projeto, parece que chegou a hora de as crianças brasileiras receberem o mesmo afeto e cuidado que as mulheres e senhores classe média dispensam a seus cachorrinhos. Tão fofos, eles, os cachorrinhos.


*Urariano Mota é jornalista e escritor. Autor do livro “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do Cabo Anselmo, executada pela equipe de Fleury com o auxílio de Anselmo. Urariano é pernambucano, nascido em Água Fria e residente em Recife. É colunista do site “Direto da redação” e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”

A charge é uma cortesia do cartunista Bira Dantas, colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

O CATARINA EIKE BATISTA, O GOVERNO DO ESTADO E NÓS, OS ESTRANGEIROS, NO FAROL DE SANTA MARTA


O CATARINA EIKE BATISTA, O GOVERNO DO ESTADO E NÓS, OS ESTRANGEIROS, NO FAROL DE SANTA MARTA

Por Raul Longo (*)

Acabo de ser anonimamente esculhambado pelo telefone. Ainda não foi uma ameaça, mas do jeito que o sujeito estava irritado, não falta muito. Um dos reclamos, afora os impropérios, foi:



“- É por causa de burgueses estrangeiros que defendem essa ilha de merda como você, que esse estado é tão atrasado!”



Cáspita! E eu que antes nunca imaginei que a Ilha pudesse vir a ser o troço em que a querem transformar! Tampouco que Santa Catarina fosse um estado atrasado. Que se dirá incluído entre os traidores da Revolução Francesa.



Pensei em falar que a culpa não é minha se os catarinenses sempre votam no cafetão errado pra governador, mas achei melhor ficar quieto enquanto lembrava de meu amigo Ito quando uma turba ensandecida e eleitora da Ângela Amin o acusou de estrangeiro por reclamar, num domingo, de um trator derrubando as árvores da entrada do bosque da Ponta da Sambaqui. Área que pertence à Marinha, mas a arma de defesa nacional larga na mão da prefeitura. Não sei se a prefeitura é a dona do trator, mas Ângela era a prefeita.



Hoje Ângela é candidata ao governo, como o são todos os demais que defendem o estaleiro do Eike Batista. Inclusive o que, sem querer, apontei no parágrafo anterior.



Essa boca ainda será meu túmulo!



Dane-se! Sei é que ouvi dizer que é o Eike é baiano, como Daniel Dantas. Também já fui baiano antes do ACM virar moda e, ainda muito antes de virar fantasma a assombrar o Brasil inteiro. E estou na idade, ou na fase, em que a morte é lucro.



Além de que fui -- e sou, porque o viver não se descarta -- baiano com muito orgulho e devoção expressa num livro a ser lançado no Rio de Janeiro. Também sou carioca.



Mas o Ito nasceu no alto da serra catarinense, em São Joaquim. Não entendi a qualificação de estrangeiro a ele. Me senti um ET e imprimi um poema do Facundo Cabral para distribuir pela vizinhança.



Cabral -- cantor, compositor e poeta argentino. Não o descobridor do Brasil. -- ali pede que não o chamem de estrangeiro. Afinal – explica - nasceu entre as mesmas dores de parto que sentem todas as mulheres do mundo.



Também tentei explicar ao anônimo do telefone as razões de minha veneração pela vida, pela Mulher e pela natureza, mas não permitiu argumento. Vociferava me acusando de ser contra o estado e o progresso.



A coisa toda era muito engraçada, mas consegui me conter até que falou: “ – Se a OMX previu estes riscos ambientais todos no RIMA do estaleiro que vai montar em Biguaçu, é porque tem competência e consciência para se responsabilizar pelo que aconteça. E se não tiver, as instituições e o governo de Santa Catarina dão conta do recado.”



Aí eu ri. Confesso que ri.



O sujeito ficou ainda mais nervoso e bateu o telefone na minha cara. Nem me deu tempo de explicar porque estava rindo.



E o chato é que não estava rindo dele. Pior ainda, é que nem sei quem é e não tenho seu endereço para explicar porque ri. Mas posso imaginar que é um da lista de meus correspondentes, ou um de meus correspondentes lhe repassou algum texto que escrevi a respeito do assunto que, a cada dia mais, está nos encabulando com nossos candidatos ao governo do estado e até com reflexos às proposituras à presidência.



Como quero explicar a esse anônimo que não ri de seu anonimato nem de sua pessoa, venho a todos pedir que divulguem os ingentes cuidados de nosso governo de estado com o estado e as coisas públicas de Santa Catarina, através dessa matéria do meu amigo Celso Martins aí no link:

Atenção:
Descaso e especulação no Farol de Santa Marta.

http://sambaquinarede2.blogspot.com/2010/07/blog-post_5387.html

*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis (SC), onde mantém a pousada “Pouso da Poesia“. É colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.

Cid Benjamin: “O Brasil precisa de uma Comissão da Verdade”

Cid Benjamin: “O Brasil precisa de uma Comissão da Verdade”

Por Ana Helena Tavares*, para o site "Outras Palavras", do Le Monde Diplomatique Brasil

Cid de Queiroz Benjamin, militante político de esquerda – um dos participantes do seqüestro ao embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick – foi preso, duramente torturado e passou dez anos em odisseia por diversos exílios. Hoje, alimenta uma trajetória vitoriosa no jornalismo, incluindo um Prêmio Esso, reconhecimento por uma série de reportagens sobre a guerrilha do Araguaia.

Pode ser encontrado na Assessoria de Comunicação Social da OAB-RJ, a qual chefia, e, com menos frequência, nos cursos de jornalismo das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), onde compartilha o muito que sabe com estudantes privilegiados – como eu. Nesta entrevista, ele sustenta que a abertura de processos contra quem torturou durante a ditadura não visa “botar da cadeia senhores que estão cuidando dos netos”, mas “defender a democracia, permitindo que a sociedade crie anticorpos contra a violência política”. Cid também fala as desigualdades sociais brasileiras, os limites da cidadania e a luta para democratizar a mídia

Por que o jornalismo?

Eu me tornei jornalista meio por acaso. Tinha passado dez anos fora do Brasil, exilado, era, nas palavras de uma amiga, “um especialista em generalidades”. Só que alguém me alertou que eu tinha trabalhado como jornalista no tempo em que eu estudava engenharia – também naquela época se podia ser sem ter registro. Mas eu só aprendi jornalismo depois.

Como foi teu exílio?

Saí da prisão trocado pelo embaixador alemão, junto com mais 39 presos. Fomos para a Argélia. Não foi opção nossa. Fomos postos no avião algemados. Da Argélia, eu fui pro Chile, mas aí houve o golpe de Estado contra o Allende, começou a ditadura do Pinochet e tive que sair com a roupa do corpo. Eu, minha mulher e minha filha, recém-nascida. Nos exilamos na embaixada do México e saímos com um salvo-conduto. O México aceitou receber centenas de perseguidos no Chile, mas só aceitaram dar visto de residência aos chilenos. Às pessoas de segundo exílio – brasileiros, uruguaios, argentinos – disseram: “bom, estão aqui agora, mas não vão ter legalização de trabalho nem de residência, virem-se”. Então, fomos para Cuba, onde passamos um ano. Depois, Suécia, onde passei os últimos quatro anos e meio de exílio.

Sobre a Lei de Anistia, é caso de revisão?

Acho que não. Se fosse, quem teria que fazer isso não seria o Supremo, mas o Congresso. A questão é que na lei votada em 1979 – que não era a defendida na época pelos Comitês de Anistia e OAB – os militares, que controlavam o Congresso, incluíram um contrabando, que se referia aos chamados “crimes conexos”.

O que é um crime conexo?

Em minha opinião, é um ato cometido para praticar um suposto delito. Por exemplo: se você usa um documento falso para cometer um crime, não é condenado duas vezes. A falsificação já está incluída na condenação maior, porque é um crime conexo. É a mesma coisa que roubar um carro para assaltar um banco e ser condenado pelo assalto ao banco. O roubo do carro foi um crime conexo. No caso de crimes político, a noção poderia se aplicar a alguém que usou um revólver sem ter porte de arma, por exemplo. A interpretação de considerar crime conexo a tortura, ou o estupro, é algo que não tem nada a ver com o Direito. Foi uma “forçação” de barra na época da lei de anistia, porque não havia condições de abrir o debate em relação aos torturadores, assassinos, e outros.

Há, então, uma interpretação distorcida?

Exato! Tanto que a OAB não pede uma revisão da Lei de Anistia. Os jornais trataram isso de forma distorcida, não sei se consciente ou inconscientemente. O que se pediu foi uma reinterpretação da lei. A interpretação atual sustenta que foram anistiados os torturadores. Mesmo levando em conta todos os problemas da lei de 1979, isso não é verdade. A diferença desta lei, aprovada pelo Congresso, para o projeto apresentado, à época, pela OAB e Comissões de Anistia é que este último propunha Anistia Ampla, Geral e Irrestrita – algo que nada tem a ver com anistia para os torturadores.

O que você teria a dizer sobre o tão falado “pacto de conciliação”?

Pacto com quem? Pacto pressupõe duas partes em concordância. Na época de aprovação da lei, havia um setor da sociedade com um projeto muito distinto. Não houve acordo, muito menos união nacional em torno do projeto vitorioso. A proposta das forças democráticas foi derrotada no Congresso.

Explique melhor a diferença

O projeto das forças democráticas anistiaria todos os perseguidos pela repressão política. Não foi o que ocorreu. Vi ministros do Supremo – esses, certamente, de má fé – dizendo falsidades: “Se era para fazer Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, era para abranger torturador”. Ninguém pretendia isso: a preocupação era incluir todas as pessoas, não todos os tipos de crime. É difícil considerar que o estupro de um preso, a tortura e o desaparecimento de pessoas são crimes políticos. Não são. A própria ditadura admite que não é e dá uma interpretação como sendo crimes conexos aos políticos, mas teria que haver alguma ligação por finalidade.

Quem ficou de fora da Anistia?

As pessoas condenadas pelos chamados “crimes de sangue” – os militares inventaram essa coisa que não existe na literatura jurídica – não foram anistiadas.

E o que os militares entendiam por “crimes de sangue”?

Eram qualquer tipo de ação armada em que tivesse havido ferimento ou morte de alguém. Eu, inclusive, voltei anistiado, em 1979, e visitei companheiros meus que continuavam presos, porque não haviam sido beneficiados pela Lei de Anistia. Só saíram mais tarde, quando a ditadura aceitou fazer uma modificação na Lei de Segurança Nacional, pela qual estavam condenados. E essa alteração diminuiu as penas. Em benefício do réu, a lei retroage. Se uma norma legal mais branda é aprovada, os condenados pela regra antiga podem pedir novos parâmetros para a sua condenação. Foi o que aconteceu. Eles pediram um reexame, tiveram as penas diminuídas e, como já haviam cumprido mais tempo de cadeia que o determinado na revisão, puderam sair.

O que você acha da expressão “revanchismo”?

Revanchismo, a rigor, seria submeter os torturadores às mesmas práticas a que os presos foram submetidos. Como pode ser considerado revanchismo levar aos tribunais alguém que cometeu crimes – previstos segundo as próprias leis da época? Não havia qualquer lei que permitisse tortura, estupro, assassinato. Se punir criminosos for revanchismo, então é preciso fechar o sistema judiciário no país. Em suma, ninguém está propondo botar os torturadores no choque elétrico e afogá-los. Não é uma caça às bruxas.

Em que medida a não-punição dos torturadores da ditadura pode estimular a continuação da prática de tortura?

O futuro da tortura está indissoluvelmente ligado ao destino dos torturadores. Enquanto você não punir quem tortura, a prática será mantida. A impunidade leva a esse tipo de reincidência. Hoje, não temos presos políticos em delegacias policiais. Mas, apesar de vivermos num regime democrático, ainda se tortura. E são raríssimos os casos de torturadores punidos, mesmo torturando figuras menos “valorizadas” da sociedade: pretos, pobres, ladrões, presos comuns, etc.

Fora a tortura – que é crime lesa-humanidade, logo imprescritível – muitos atos já prescreveram, não?

As ocultações de cadáver também não, mas de fato boa parte dos crimes já prescreveu. O assassinato prescreve com 30 anos. Mas é preciso saber: fulano morreu? O conhecimento do que aconteceu é fundamental.

Essa é uma questão pendente, em particular pelo caso dos desaparecidos políticos, certo?

Sim, é uma questão de ocultação de cadáver. Quando se faz uma campanha pela abertura dos arquivos da repressão política – algo essencial para a reconciliação do país consigo mesmo, para você conhecer a história e não repetir erros – surge um obstáculo. Alega-se que quem praticou os crimes está anistiado.

A campanha pela Memória e pela Verdade, da OAB do RJ, teve o Mandela como grande inspiração. Qual a importância disso?

Nelson Mandela passou 27 anos preso, treze dos quais quebrando pedra, em trabalho forçado. Foi torturadíssimo, porque ele era o cabeça do partido de oposição ao apartheid. Ficou isolado por mais de 20 anos. Preso, sozinho. Ele tinha tudo para ser uma pessoa ressentida.

Ao se tornar presidente da República, Mandela deixou num segundo plano a punição aos torturadores. Mas disse o seguinte: “O país precisa saber o que aconteceu. O torturador que, diante da justiça, admitir o que fez será anistiado. Se omitir qualquer coisa, está sujeito a ser processado pelo que omitiu”. Foi uma catarse na sociedade sul-africana, porque tudo o que aconteceu nos porões veio à tona. E horrorizou a sociedade. A grande vantagem é que se criaram anticorpos, para que tais atos não se repitam.

A política de jogar para baixo do tapete o que aconteceu, que o Brasil desenvolve desde o fim da ditadura e o Lula mantém, é a pior. Porque a sociedade não cria anticorpos. É fundamental que se conheça os crimes do passado para que eles não sejam repetidos. Ou seja: a punição não é para botar na cadeia um cara que está hoje com 80 anos, aposentado, cuidando dos netos. Embora fosse muito bom fazer isso com os mandantes, como na Argentina.

Você guarda algum tipo de ódio daqueles que o torturaram?

Não tenho nenhum ódio pessoal a quem me torturou. Mas acho que seria muito educativo para o país que fosse aberto um processo contra eles, mesmo que não fossem pra cadeia. E, principalmente, que se soubesse o que aconteceu. Seria saudável para a democracia.

Você diria que hoje o Brasil é um país democrático?

Vivemos num Estado de Direito, sem dúvida – e isso pode ocorrer em sociedades mais ou menos democráticas. Numa sociedade muito desigual, nunca haverá uma democracia muito aprofundada. A possibilidade de interferência nos rumos do país e de exercício da cidadania de um morador de rua, que vive catando lata, é diferente da de um cidadão de classe média – e muito diferente da de um grande empresário.

Em consequência, há garantias básicas e direitos fundamentais previstos na Constituição, que são cumpridos; outros, não. A Constituição assegura a todos acesso à saúde, educação, etc – e o quadro não é bem esse. Uma democracia, plena, real, de conteúdo, pressupõe algum nível de igualdade no plano social. Mas é um processo. Vai-se avançando. Já estivemos pior.

Como você vê o papel da mídia nesse processo?

Uma mídia livre é fundamental, e no Brasil nós temos a concentração de muitos veículos nas mãos de poucas pessoas. Parte disso é próprio do sistema capitalista. Eu, por exemplo, adoraria montar um jornal, mas não tenho dinheiro para um capaz de concorrer com a imprensa que já está aí. Se fosse um grande empresário, poderia.

Mas há um aspecto que depende de uma ação governamental. No caso de rádio e TV, não basta alguém querer abrir uma emissora. Em todos os países, há um regime de concessão. Não se permite a multiplicação indiscriminada de rádios e TVs, porque vai haver interferência de sinal. Definir novos critérios para distribuição de concessões é uma discussão fundamental para a democracia. Hoje, quatro ou cinco famílias controlam o que há de mais importante na televisão brasileira. Por que dar concessão para esse pessoal?

O que a Constituição fala sobre isso?

Segundo ela, as concessões têm que ser renovadas regularmente, e sua utilização deve obedecer a critérios. As emissoras têm o compromisso de oferecer programação educativa, informativa etc. Mas, na realidade, a TV aberta no Brasil e é um horror. Parte dos concessionários usam suas concessões para vender jóias, tapetes, não sei mais o quê. Ou usam para difundir programas que pisoteiam a dignidade das pessoas. Não há nenhum controle eficaz nisso porque os governos, aí incluído o atual, não querem se meter com a grande imprensa.

Internacionalmente, temos o caso da Venezuela, onde o Chávez tem enfrentado a grande imprensa. Qual sua visão sobre isso?

Não defendo tudo o que o Chávez faz, mas quando não renovou a concessão de uma emissora de televisão que tinha participado declaradamente de um golpe de Estado, caiu o mundo sobre ele. Disseram que ele “fechou” a emissora, quando o que ocorreu foi a não-renovação de uma concessão que cabia ao Executivo manter ou não – e que, em favor da democracia, deveria mesmo ter sido cancelada.

Quais os caminhos para democratização da mídia no Brasil?

A mídia digital abre uma possibilidade ímpar para a democratização, porque você não precisa mexer com quem já tem, fuçar em casa de marimbondo. No espaço eletromagnético, onde havia a possibilidade de uma concessão, você tem a possibilidade de três. Lamentavelmente, o governo Lula não quer abrir esta discussão, porque significa chocar-se com as grandes redes de comunicação no país. Inclusive, Hélio Costa, ex-ministro das Comunicações, na verdade um funcionário da Globo em exercício no governo, defendia que essas concessões sejam dadas “a quem já tem experiência para fazer”. Seria manter o mesmo perfil de monopolização. Isso tem que ser mexido. Só que tem que haver um governo que se proponha a contrariar interesses de poderosos. Não é o caso do que temos.

* Ana Helena Tavares é jornalista. Editora-chefe do blog "Quem tem medo do Lula?".

QUÉRCIA REPETE AS FALÁCIAS DAS VIÚVAS DA DITADURA CONTRA DILMA

Capa de uma Veja de 1992,
quando ainda era uma revista.


Em 1974, o digno senador Carvalho Pinto era candidato da Arena à reeleição. Com perfil eminentemente técnico, tinha cuidado muito bem das finanças da cidade e do estado de São Paulo (nos governos de Jânio Quadros), depois do Brasil (como ministro da Fazenda de João Goulart, já na fase presidencialista).

Não morria de amores pelo regime militar nem se identificava com seus genocídios e atrocidades. Só que, sendo um administrador por excelência, estava sempre ao lado do governo, qualquer que fosse o governo.

Mas, o 1º choque do petróleo levara de roldão o milagre brasileiro, o período de vacas magras teve início e o eleitorado paulista de repente descobriu que ditadura não prestava...

Então, para manifestar seu repúdio aos militares, votou maciçamente num obscuro ex-prefeito de Campinas.

Azarão eleito não por seus méritos, mas em função dos deméritos do regime de exceção, Orestes Quércia deslanchou a partir daí sua carreira, fazendo-se um dos políticos profissionais mais nocivos da História do Brasil.

Sua assinatura está impressa na tibieza com que a Nova República abordou o entulho autoritário, na descaracterização da Constituição de 1988 (graças a ele, flexibilizaram-se ao máximo as exigências para a conversão de vilarejos em municípios, arrombando os cofres públicos), na desmoralização da atividade política (é dele a imortal frase "quebrei o estado de São Paulo, mas fiz meu sucessor") e na trajetória negativa cumprida pelo PMDB até tornar-se o maior partido fisiológico do País.

Agora, presta serviços de jagunço a José Serra e Geraldo Alckmin, desferindo os golpes baixos que não caem bem na boca de um candidato.

Eis alguns, no evento "Unidos por São Paulo e pelo Brasil", promovido pela coligação PSDB-DEM-PMDB nesta terça-feira (13), na região de Santo Amaro, Capital:
"Ela [Dilma Rousseff] só pegou em arma, não pegou em nada mais. Ela não é experimentada".

"Uma pessoa que começou ontem como encanador, vai fazer cano furado para tudo quanto é lado".

"[Dilma foi escolhida como candidata] porque todos aqueles políticos que tinham experiência foram eliminados pelo mensalão (...) e isso é uma afronta para o Brasil".
Pegar em armas contra um estado totalitário que generalizou as torturas e as matanças exigia uma estatura moral muito além do horizonte de um Quercia, daí a facilidade com que ele repete, como papagaio, as mais repulsivas falácias das viúvas da ditadura.

Mas, seguindo o exemplo de Cristo, talvez devamos perdoá-lo, pois não sabe o que diz.

O que não é o caso de Aloysio Nunes Ferreira Filho. Este participou da luta armada na ALN de Carlos Marighella, foi condenado com base na Lei da Segurança Nacional, amargou o exílio e só pôde voltar com a anistia de 1979.

É inacreditável que esteja acusando o Governo Lula de montar "uma máquina mortífera" e faça afirmações como estas:
"Tem o PT com seu velho radicalismo, com as velhas idéias de amordaçar a imprensa (...), outra ponta dessa engrenagem é o sindicalismo comprado (...). Temos o Incra entregue ao MST, temos o desrespeito à lei de uma política externa que corteja os ditadores mais sanguinários da face da Terra. E é contra esse sistema de poder que nós vamos eleger o Serra e o Geraldo".
Parece carro que perdeu o freio na descida da ladeira. Está despencando de tal forma que nunca conseguirá voltar à superfície.
Por Celso Lungaretti, jornalista, escritor e ex-preso político.
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com

Orações de São Cipriano Atroz - atualizadas conforme o Novo Acordo Ortodoxo

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Por São Cipriano Atroz

Reflexão Impulsiva

Quando o Todo-Poderoso Roberto Marinho se sentiu o criador do Céu e da Terra Midiáticos, pensou, por um culhonésimo de segundo, que havia sido elevado ao posto de Supremo Rei do Universo. “Deus sou Eu!”. E foi exatamente naquele átimo de segundo que o homem abandonou o próprio corpo e partiu para o Olimpo, reclamando a posse do trono que alegava ter deixado vazio enquanto esteve na Terra para fazer o que nós, almas penadas, não fomos capazes de realizar.

O seu cadáver foi crucificado pelas línguas sujas dos botequins e ovacionado pelos hipócritas que durante muitos anos sentiram o frio do afiado fio da foice platinada encostando-se a seus pescoços.

Seu corpo morto e sepultado, o espírito desceu ao mundo dos mortos-vivos. Ressuscitou energizado pelos bajulatórios discursos da politicalha. Subiu ao Olimpo e tem, hoje, sentado à sua direita, o Deus-Pai, ex-Todo-Poderoso, agora aposentado. Deus Marinho um dia voltará para julgar os vivos-mortos e os mortos-vivos, pois não confia essa tarefa nem mesmo a um suposto filho.

[Não diga amém, diga caramba!]


Oração para exorcizar fantasmas da alienação

Eu, Cipriano Atroz, servo do Deus destronado, fiel aos seus princípios, a quem amo de todo o meu coração, garanto que me pesa por vos amar vivendo num mundo em que mais vale um minuto num telejornal de grande audiência do que a vida inteira ao lado dos amigos.

Porém reconheço que vós, meu Deus marginalizado mas eternamente meu Senhor, sempre vos lembrastes deste vosso ingrato servo Cipriano Atroz, que durante a primeira infância foi amigo-irmão do teu filho unigênito, Jesus, mas que, na sucessão de minhas pueris etapas existenciais, da segunda infância até esta atualmente vivida, passou a considerá-lo tão-somente um “boa-praça”, aquele de quem a gente só se lembra quando os pseudoamigos, que são os verdadeiros inimigos, mostram o pau com que matam as lombrigas que incomodam suas panças.

Agradeço-vos, meu Deus latente, de todo o meu coração, os benefícios que de vós sempre recebi durante toda a minha existência, mesmo que de forma clandestina, como eu sempre gostei, porém acanhado, para que ninguém soubesse que sou teu seguidor. Pois agora, ó Deus das criaturas pueris, dai-me força e fé para que eu possa desligar tudo quanto involuntariamente liguei, aquilo que equivocadamente invoquei, sempre em vosso santíssimo nome, mas nem sempre com uma santificada intenção.

É certo, ó Deus do banco de reserva, que me declaro vosso verdadeiro servo e vos considero titular, dizendo-vos: “Deus, forte e poderoso, que morrestes no cadafalso de Jacarepaguá, onde o Deus em exercício tem altar banhado a ouro, como os templos da Bahia e Minas, louvado sejais para sempre!” [Atire contra o espelho um bibelô dourado em forma de bezerro.]

Ó Deus relegado ao posto de quebra-galho, vós vistes as malícias deste vosso servo Cipriano Atroz, as tais malícias pelas quais fui conduzido durante uma eternidade relativa, debaixo do poder golpista de(a) [citar o primeiro nome que assomar à sua atrofiada mente], quando eu ainda não tinha noção do que representava o vosso santo nome e ligava as mulheres a delicioso “pecado”, ligava as nuvens do céu à realidade celestial, ligava a imensidão das águas do mar a reles tsunamis. Vós bem sabeis que, pelas minhas malícias, minhas pequenas e grandes malícias, ligava as mulheres prenhes à “irresponsabilidade” de pobre parir, e tantas outras ligações que fiz entre preconceitos e conveniências, sempre em teu nome, sem notar que Belzebu usava as mais sutis das camuflagens para assumir a tua imagem, e eu caía aos pés daquele altar como um esperto otário feliz.

Agora, ó Deus em mim redivivo, que durante muitos anos foi colocado na condição de Deus alternativo, está na hora de Vós seres reconduzido ao trono, desmascarando culpados pela nova ordem universal ditada pelo Deus em exercício e operada pelos seus capachos, vampiros travestidos de anjos barrocos. Invoco o teu esconso poder, a fim de que sejam desfeitas e desligadas as bruxarias e feitiçarias, venham das máquinas ou do corpo dessa maquiavélica criatura [cite o nome de quem você acaba de se lembrar]. Pois vos chamo, meu Deus escanteado, para que, com o teu poder, rompais todos os ligamentos dos homens e das mulheres com as ideias macabras desses estúpidos falsos deuses.

Caia a chuva da verdade sobre cabeças pensantes, para que as mulheres tenham seus filhos, e eles estejam livres de qualquer ligamento atroz. Desligue o mar de hipocrisia, para que os pescadores possam pescar a verdade. Livres de qualquer perigo. Desligue toda estupidez que está conectada a estas desencaminhadas criaturas [cite-as desembestado, durante um minuto, e pare, porque é gente pra caramba!]. E eu desligo, desalfineto, rasgo, calço e desfaço tudo que esteja se lambuzando em algum poço profundo de minha mente. Não como num passe de mágica, mas gradativamente, amadurecendo, aprendendo a viver minha última infância.

Se necessário for, resgato os monstros que no meu coração se afogam, transformando-os em garimpeiros-ourives a garimpar cascalhos e lapidá-los, criando estátuas que se derreterão ao sol, quando finalmente serão desfeitos todos os males ou maus feitos, feitiços, encantamentos ou superstições, além de destruir as artes diabólicas que fui capaz de realizar de forma inconsciente, descontrolada e irracional, ou aquelas que simplesmente utilizo de forma igualmente alienada.

O reinado do senhor das trevas está chegando ao fim. Vós sereis reconduzido ao trono, ó Deus d’eus: d’eu pecador, d’eu santo, d’eu menino, d’eu adulto, d’eu homem, d’eu mulher, d’eu filho da mãe, d’eu filhinho do papai, d’eu muito macho...

Amém.


Fonte de inspiração: O verdadeiro Livro de São Cipriano)

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Ilustração: APIC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

Agência Assaz Atroz

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