O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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sábado, 10 de julho de 2010

Serra, um press release perigoso


Serra, um press release perigoso

José Serra, o acaciano retórico, produto híbrido do latifúndio com a banca, é um personagem de press release. Não deve ser levado a sério quando fala em modernidade. Seu projeto autoritário precisa da mídia com poder de Estado e do mercado como única instância de legitimação.

Por Gilson Caroni Filho (*)

Sem fortuna nem virtù, a candidatura Serra deve ser encarada como de fato se apresenta: uma irresponsabilidade política que busca construir sua persona a partir de clichês oratórios de desqualificação da principal oponente, a ex-ministra Dilma Rousseff. O teatro político que pretende montar, tentando se valorizar no jogo da sucessão, pode vir a se revelar o fracasso da temporada, não só pela fragilidade pessoal do ator como pela biografia do elenco de apoio. Mais dia menos dia, terá que descer a cortina, encerrando a apresentação.

Quando diz não ser “ventríloquo de marqueteiro nem de partido, nem de comitês, nem de frações, nem de todas aquelas organizações antigas de natureza bolchevique, que do bolchevismo só ficaram com a curtição pelo poder, porque utopia não ficou nenhuma", importantes perguntas se impõem. Afinal, por quem fala José Serra? Ou, melhor: quem, dissimulando o timbre natural da própria voz, fala por ele? Quem é o boneco nesse jogo mal-ajambrado?

A coligação oposicionista é uma gigantesca operação de engodo promovida pela mesma dupla (PSDB/DEM) que, entre 1994 e 2002, se superava, dia após dia, em matéria de socialização de prejuízos privados e entrega do patrimônio público. Em oito anos o país quebrou duas vezes, as dívidas, interna e externa, cresceram descontroladamente. O grau de dependência se precipitou e a desigualdade alastrou-se.

O descaso com a questão social – vista até hoje pelos tucanos como um estorvo para as contas do governo – fez com que a miséria e o aviltamento dos salários se expandissem. Dados do Banco Mundial, em 1997, apontavam 36 milhões de brasileiros com renda inferior a US$30, o que explica o número assustador de crianças que trocavam a infância e a escola pelo trabalho precoce. Enquanto isso, o governo FHC excluía o imposto sobre as grandes fortunas do seu pacote fiscal. Quebra-se o país, jamais um banco, ensinava o príncipe dos sociólogos.

Em 2001, a mudança no fluxo de capitais agravaria o desequilíbrio externo brasileiro, com a entrada de recursos estrangeiros caindo US$ 10 bilhões em relação ao ano anterior. Para piorar a situação, cresceria a remessa de lucros e dividendos, devido à crescente internacionalização da economia ocorrida na segunda metade da década de 1990. Tudo isso levava a uma valorização excessiva do dólar.

E o que fazia FHC e seu séquito diante da crise do modelo? Segundo o Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo (Simpi), enquanto 80% das microempresas estavam inadimplentes, o governo arquitetava, via BNDES, o socorro das grandes corporações endividadas em dólar. De fato, uma garantia ao mercado que “aquelas velhas organizações bolcheviques" jamais ousariam dar.

É o retorno de catástrofes dessa natureza que a candidatura Serra promete. O neoliberalismo, expressão recente da direita, não hesitará em fazer uso de conhecidas "reengenharias" para destruir o Estado, deixando sobreviver somente os órgãos que garantam os interesses mercantis. Serra é o ventríloquo de um grupo que está convencido de que é necessário reciclar o manual de terra arrasada. O pequeno remanejamento da aliança partidária que deu apoio ao governo de FHC não traz novidades substantivas. O que é o PPS senão o adorno de conhecidos arrivistas?

O DEM (antigo PFL) tem um histórico de hipocrisia, cinismo e empulhação. A mudança de nome, apontada por suas lideranças como primeiro passo de ajustamento necessário, não resistiu a duas primaveras. A operação “Caixa de Pandora", apontando o governador de Brasília, José Roberto Arruda, como principal articulador de um esquema de corrupção envolvendo integrantes do seu governo, empresa com contratos públicos e deputados distritais, revelou o DNA da “novidade”.

Das minúcias, futricas, esperneios, conselhos e advertências desse espectro político, a grande imprensa recolhe a matéria-prima para fazer seus boletins de campanha. José Serra, o acaciano retórico, produto híbrido do latifúndio com a banca, é um personagem de press release. Não deve ser levado a sério quando fala em modernidade. Seu projeto autoritário precisa da mídia com poder de Estado e do mercado como única instância de legitimação.

*Gilson Caroni Filho é sociólogo e mestre em ciências políticas. Nascido e residente no Rio de Janeiro, onde é professor titular de sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). É colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do blog "Quem tem medo do Lula?".

As charges são uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do Blog "Que tem medo do Lula?".

O Marechal Lott, Jânio Quadros e as eleições de 2010

Na foto, Lott, em campanha,
corta com a espada, seu símbolo,
a vassoura, símbolo de Jânio.


O Marechal Lott, Jânio Quadros e as eleições de 2010

Por Laerte Braga (*)

Henrique Dufles Baptista Teixeira Lott foi um dos grandes vultos das forças armadas brasileiras. Entre outras coisas não se subordinava a Washington como boa parte dos nossos militares e tampouco tinha aversão ao processo democrático, pelo contrário. Impediu em 11 de novembro de 1955 um golpe dos “patriotas” contra a legalidade.



Ministro da Guerra, era como se chamava o Ministério do Exército, hoje abrigado como Secretaria dentro do Ministério da Defesa, evitou duas tentativas de golpe contra o governo de JK e acabou candidato da coligação PSD/PTB à presidência da República em 1960.



Disputou as eleições contra Jânio Quadros, ex-governador de São Paulo e um terceiro candidato, Ademar de Barros, uma espécie de Paulo Maluf da pré-história, também ex-governador de São Paulo.



Perdeu-as. Jânio foi eleito presidente até por larga maioria de votos.



Lott não tinha boa oratória, as campanhas àquela época se sustentavam principalmente em comícios e aliado a esse fato, boa oratória, Lott tinha a mania da franqueza. Da honestidade em suas palavras. Em suas propostas.



Jânio era um produto da demagogia, mero projeto pessoal de ditador (renunciou numa manobra tragicômica esperando que o povo o reconduzisse ao governo com plenos poderes, tudo sob efeito da “mardita pinga). Candidato da UDN sem nunca ter sido udenista e de Carlos Lacerda, a quem usou até espremer e terminar espremido, não era necessariamente louco como diziam. Demagogo, de interromper comícios para tomar uma injeção de glicose (vivia bêbado) alegando que o cansaço na “luta pelo povo” o obrigava a “sacrifícios” que prejudicavam sua saúde.



Tinha o hábito de assistir filmes de western ao contrário, ou seja, do fim para o princípio. Achava interessante o bandido levantar-se e tomar um soco de John Wayne do que a ordem natural da cena, tomar o soco e cair.



O marechal Lott passou a campanha inteira advertindo aos brasileiros que Jânio levaria o País ao caos. Num dado momento, talvez consciente das dificuldades para sua eleição (tradicionalmente militares foram sempre derrotados em eleições livres para presidente, a exceção de Dutra, mesmo assim porque disputou com outro militar, o brigadeiro Eduardo Gomes), chegou a propor um pacto de unidade nacional em torno de uma candidatura única, no caso o general Juracy Magalhães, governador da Bahia e que havia sido derrotado por Jânio na convenção da UDN.



Para que se possa ter uma idéia da personalidade do marechal Lott, em visita a uma cidade no interior de Minas, descia num automóvel para o centro da cidade, saindo do aeroporto, quando um eleitor de Jânio enfiou uma vassoura dentro do carro, pela janela e tentou atingi-lo. Mandou o carro parar e em meio a lotistas de um lado e janistas de outro, foi até o cidadão, tomou-lhe a vassoura, jogou-a no chão e disse com o dedo em riste –“o senhor pode votar em quem quiser, é um direito que eu assegurei quando garanti a posse do presidente Juscelino, mas o senhor respeite a mim e a democracia, proceda como homem de caráter” -.



Voltou ao automóvel sob aplausos de seus correligionários e silêncio dos janistas que, por sinal, perdeu, Jânio, as eleições nessa cidade.



Em muitas cidades que visitava, pouco antes de subir ao palanque, Jânio dirigia-se a um botequim estrategicamente escolhido, pedia um sanduíche de pão com mortadela, alegava falta de tempo para jantar, uma pinga e uma cerveja quente, assentava-se à mesa com alguém que lá estivesse, chegou a assentar-se no meio fio e com gestos teatrais ia comendo, bebendo e conversando com as pessoas.



Já ex-presidente, escreveu com Afonso Arinos (que redimiu-se depois, era um homem inteligente e um político íntegro) uma enciclopédia da língua portuguesa. No lançamento no Rio de Janeiro, em 1967, almoçava no Clube Ginástico, no centro da cidade, presentes o próprio Arinos (fora seu ministro das Relações Exteriores), outras figuras do antigo udenismo, quando surpreendeu a todos, inclusive jornalistas, com seu pedido. Uma omelete simples, uma pinga especial e uma cerveja quente.



A surpresa maior veio depois. Foi recortando a omelete até dar-lhe a forma de uma suástica e sequer engoliu uma garfada. O que sobrou amassou com as mãos, formou um bolo e colocou fora do prato. Bebeu a pinga, duas ou três cervejas quentes e foi-se.



Segundo Foucault, “não há exclusão entre loucura e crime, mas sim uma implicação que os une. O indivíduo pode ser um pouco mais insano, ou um pouco mais criminoso, mas até o fim a loucura mais extremada será assombrada pela maldade”.



Referia-se, embora seja um conceito amplo, a Doucelin, conde D’Albuterree, que avocava a si a condição de herdeiro da coroa de Castela e que dizia falar com Deus todos os dias, além de receber a visita de Maria algumas vezes por semana.



O problema é que Jânio não rasgava nota de cem, pelo contrário, cultivou a fama de honesto e implacável na defesa do dinheiro público, enquanto ia guardando o “seu” em bancos suíços.



As advertências do marechal Lott se confirmaram e foram além. Com a renúncia de Jânio, em 25 de agosto de 1961, depois de ter proibido desfile de miss com biquíni, briga de galo e imposto o slack como uniforme para os servidores públicos, militares brasileiros comandados por Washington se levantaram contra a posse do vice, João Goulart que se encontrava em missão na China, a pedido de Jânio. Queria-o longe à hora do “golpe” e uma das primeiras prisões feitas foi a do marechal Lott que logo se pronunciou pela legalidade. Jânio mandara Jango à China exatamente por ser aquele país governado pelo Partido Comunista, Mao Tse Tung e Chou em Lai e assim criar um complicador maior para uma eventual posse de Jango tornando mais fácil seu retorno triunfal.



Jango acabou tomando posse, foi decisiva a reação de Brizola, mas os mesmos militares golpistas, complementando o que Lott dissera em 1960, deram um golpe em 1964 e impuseram ao Brasil uma sombria e cruel ditadura sob controle dos EUA. Inclusive comando militar de general norte-americano.



Outra vez, um ano após o golpe, impediram a candidatura do marechal ao governo do antigo estado da Guanabara, temerosos que sua liderança acabasse por despertar a reação popular e de militares íntegros e brasileiros à quartelada. Como Lott fosse eleitor em Teresópolis, criaram a figura do domicílio eleitoral.



José Arruda Serra é uma versão abstêmia de Jânio Quadros. O que às vezes costuma ser pior. Quando secretário de Franco Montoro tinha mania de dar batida nos órgãos públicos do governo do estado de São Paulo para verificar se estava havendo desperdício de clips, elásticos e aparas de papel.



Jânio, quando candidato a prefeito de São Paulo pela primeira vez chegou a colocar um boné de motorneiro e tentar dirigir um bonde. Nesse dia estava numa água só. E dava incertas (mas avisava a imprensa) em repartições públicas.



O curioso é que morto politicamente Jânio foi ressuscitado por FHC, em 1985, derrotando-o numa eleição para a mesma prefeitura de São Paulo. No dia da posse pendurou um par de chuteiras à entrada de seu gabinete para comunicar que estava encerrando sua vida pública.



A insistência com que setores das forças armadas brasileiras tentam a todo custo impedir que os documentos da ditadura venham à tona é simples. Não pode passar pela cabeça de um torturador como o coronel Brilhante Ulstra, que os brasileiros tomem conhecimento de tortura, assassinatos, estupros praticados em prisões da ditadura por “bravos patriotas”. Uma laia de canalhas sintetizada na frase de Samuel Johnson sobre patriotismo.



E tampouco de velhos generais que encobriram esses crimes, tanto quanto promoveram um expurgo nas forças armadas, afastando militares do porte de Rui Moreira Lima, Ladário Pereira Teles, major Cerveira e outros. Foram milhares.



Voltando à vaca fria José Arruda Serra é só uma versão abstêmia de Jânio Quadros. Demagogo, corrupto, sem qualquer escrúpulo ou respeito pelo que quer que seja. É evidente que sendo abstêmio, ou seja o oposto, tenha manias do tipo desinfetar as mãos com álcool ao fim de uma sessão de cumprimento a eleitores, como não se assenta ao meio fio e nem come sanduíche de mortadela. Mas usa o tal desinfetante bucal que protege por doze horas já que em campanha tem que beijar crianças.



Vale-se da sofisticação que as campanhas políticas ganharam nos dias atuais e que permite a demagogos, corruptos e trapaceiros como ele Arruda Serra vender um peixe que não existe.



É a velha alma udenista/golpista assombrando o Brasil (e olha que na UDN, creio que por equívoco, havia figuras como Afonso Arinos, Adauto Lúcio Cardoso, Milton Campos e outros, de caráter e integridade indiscutíveis).



A simples hipótese de um sujeito como Arruda Serra presidente da República (está cada dia mais difícil, mas todo cuidado é pouco) aterroriza.



É só olhar o governo de FHC e multiplicar por um fator que podemos chamar de muitas vezes pior e teremos o resultado.



Pior ainda que um bêbado como Jânio, projeto mambembe de ditador, é um abstêmio doentio e sem escrúpulos como Arruda Serra.



Tucanos são a UDN repetida como farsa e por isso mesmo, revestidos de cinismo, amoralidade, se tornam muito mais nocivos e perigosos que a de outrora, se é que isso é possível.



No fundo seria um passo gigantesco atrás. Um retrocesso sem tamanho.



Lott continua tendo razão absoluta sobre os “jânios” que volta e meia aparecem.



Reside aí a grandeza do velho marechal. O ser brasileiro, ter tido em toda a sua vida compromisso com a democracia sem adjetivos.



Ao contrário de seu antigo adversário Jânio Quadros, que levou o País ao caos e da versão seca, José Arruda Serra, que intenta o mesmo, o caos.



A solução é simples. Ou percebemos isso, ou nos lascamos.



E não adianta a GLOBO, VEJA, ou FOLHA DE SÃO PAULO culpar o Irã, Chávez, fabricar pesquisas o que seja. José Arruda Serra não é um candidato a presidente do Brasil. É uma ameaça ao Brasil e aos brasileiros.



E para não dizer que não falei de flores, nas eleições de 1960 as organizações GLOBO se limitavam ao jornal THE GLOBE, editado em português como O GLOBO, algumas emissoras de rádio e a família Marinho, dona do complexo da mentira, apoiou Jânio Quadros. Roberto Marinho ainda era o “comandante”.



Quem disse que o marechal Lott não tem a ver com as eleições de 2010?



A História não morreu não, está mais que viva.



E a propósito de bêbados, nem todos são Jânio, ou como dizia o poeta Sílvio Machado, “nunca vi uma boa idéia nascer em leiteria”. Por isso mesmo Arruda Serra é uma versão Drácula da barbárie patriótica udenista.


*Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no “Estado de Minas” e no “Diário Mercantil”. É colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”

Censura e truculência contra jornalistas. Onde está a ANJ?

As demissões de jornalistas na TV Cultura de São Paulo e o silêncio dos grandes meios de comunicação sobre as causas destas demissões evidenciam mais uma vez um preocupante comportamento cínico, submisso e hipócrita. Mais uma vez, são blogs e sites de jornalistas independentes que cumprem o dever de informar ao público o que é de interesse público. Entidades como a Associação Nacional de Jornais, supostamente comprometidas com a defesa da liberdade de expressão, exibem um silêncio ensurdecedor.

Editorial - Carta Maior

O comportamento cínico e hipócrita da maioria das grandes empresas de comunicação do Brasil ficou mais uma vez evidenciado esta semana, e de um modo extremamente preocupante. Não se trata apenas de valores ou sentimentos, mas sim de fatos objetivos e de silêncios não menos objetivos. O relato sobre demissões na TV Cultura de São Paulo, causadas pelo interesse de jornalistas no tema dos pedágios, justifica plenamente essa preocupação. Um desses relatos, feito nesta sexta-feira pelo jornalista Luis Nassif, chega a ser assustador. Em apenas uma semana, dois jornalistas perderam o emprego, escreve Nassif, em função de uma matéria sobre pedágios. Ele relata:

Há uma semana, Gabriel Priolli foi indicado diretor de jornalismo da TV Cultura. Ontem (7), planejou uma matéria sobre os pedágios paulistas. Foram ouvidos Geraldo Alckmin e Aloízio Mercadante, candidatos ao governo do estado. Tentou-se ouvir a Secretaria dos Transportes, que não quis dar entrevistas. O jornalismo pediu ao menos uma nota oficial. Acabaram não se pronunciando.

Sete horas da noite, o novo vice-presidente de conteúdo da TV Cultura, Fernando Vieira de Mello, chamou Priolli em sua sala. Na volta, Priolli informou que a matéria teria que ser derrubada. Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre as viagens dos candidatos.

Hoje (8) , Priolli foi demitido do cargo. Não durou uma semana.

Semana passada foi Heródoto Barbeiro, demitido do cargo de apresentador do Roda Viva devido às perguntas sobre pedágio feitas ao candidato José Serra (ver vídeo abaixo). Para quem ainda têm dúvidas: a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra juntasse ao poder de mídia, que já tem, o poder de Estado.




Não é o primeiro relato sobre a truculência do ex-governador de São Paulo com jornalistas. Nos últimos meses, há pelo menos dois outros episódios, um deles envolvendo a jornalista Miriam Leitão, na Globonews, e outros envolvendo jornalistas da RBS TV, em Porto Alegre. A passagem da truculência à ameaça ao trabalho dos jornalistas é algo que deveria receber veemente manifestação da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), sempre prontas a denunciar tais ameaças. No entanto, ao invés disso, o que se houve é um silêncio ensurdecedor.

Mais uma vez, são blogs e sites de jornalistas independentes que cumprem o dever de informar ao público o que é de interesse público. E, mais uma vez também, os chamados jornalões e seus braços no rádio e na TV, calam-se, aliando submissão e cumplicidade com a truculência e o desrespeito ao trabalho de experientes profissionais. O mesmo silêncio, a mesma submissão e a mesma cumplicidade manifestadas nos recentes casos de assassinatos de jornalistas em Honduras, em função de sua posição crítica ao golpe de Estado ocorrido naquele país.

Esse triângulo perverso que une cinismo, hipocrisia e silêncio não é um privilégio da imprensa brasileira. Um outro caso, esta semana, envolveu uma das maiores cadeias de televisão do mundo. A CNN demitiu a jornalista Octavia Nasr, editora de noticiário do Oriente Médio, por causa de uma mensagem publicada por ela em sua página no Twitter onde manifestou “respeito” pelo ex-dirigente do Hezbollah, Sayyed Mohammed, que morreu no final de semana passado. Octavia tinha 20 anos de trabalho CNN. O que ela escreveu no twitter e causou sua demissão foi: “(Fiquei) triste por saber do falecimento do Sayyed Mohammed Hussein Fadlallah…Um dos gigantes do Hezzbollah que eu respeito muito”. Parisa Khosravi, vice-presidente-sênior da CNN International Newsgathering, afirmou em um memorando interno que “teve uma conversa” com a editora e “decidimos que ela irá deixar a companhia”.

Essa mesma CNN não hesita em denunciar agressões à liberdade de imprensa em outros países quando isso é do interesse de sua linha editorial e dos interesses geopolíticos da empresa. Crime de opinião? Segundo as versões oficiais, isso só existe em países do chamado eixo do mal.

Esse mesmo triângulo perverso ajuda a entender por que essas grandes corporações midiáticas não querem debater com a sociedade a sua própria atuação. Colocam-se acima do bem e do mal como se fossem portadores de legitimidade pública. Não são. Ao cultivarem esse tipo de comportamento e prática, o que estão fazendo, na verdade, é auto-atribuir-se, de modo fraudulento, uma suposta representação pública. Representam, na verdade, os interesses dos donos das empresas e, cada vez menos, o interesse público.

Neste exato momento, o planeta vive aquele que pode vir a se confirmar como o maior desastre ecológico de sua história. O acidente com a plataforma da British Petroleum no Golfo do México e o vazamento diário de milhões de litros de óleo no mar tem proporções ainda incalculáveis. No entanto, a cobertura midiática sobre o caso nem de longe é proporcional, em quantidade e qualidade, à gravidade e importância do caso. Organizações ambientalistas já denunciaram que a BP vem operando pesadamente nos bastidores para bloquear e filtrar informações.

É preciso ter clareza que são os dirigentes e porta-vozes dessas corporações midiáticas e seus braços políticos e empresariais que não hesitam em denunciar qualquer proposta de tornar transparente à sociedade o seu trabalho, supostamente de interesse público. O bloqueio e seleção de informações, a demissão de jornalistas incômodos e a truculência com aqueles que ousam fazer alguma pergunta fora do script são diferentes faces de um mesmo cenário: o cenário da privatização da informação, da deformação da verdade e da destruição do espaço público.

Berlusconi roda a baiana, como um duce de buffonata


















Berlusconi roda a baiana, como um duce de buffonata

Por Celso Lungaretti (*)


escrevi sobre como os anos Berlusconi deixaram em cacos a imagem que eu tinha da Itália: a de um país amadurecido, pleno de humanidade, compaixão e sabedoria.

Cinéfilo inveterado, queria crer que cada italiano tivesse um pouco de Marcello Mastroianni; e cada italiana, de Sofia Loren.

De repente, fiquei sabendo que a figura realmente emblemática da pátria do meu avô é outra, uma versão piorada de Benito Mussolini (a História se repetindo como farsa grotesca, buffonata de mafuá...).

E cada vez mais escândalos e delinquências foram vindo à tona: ligações perigosas com a Máfia, antecedentes neofascistas, fraudes, subornos, arbitrariedades, deboches.

Um rosário de ilegalidades, irregularidades e impropriedades, mais do que suficientes para derrubar o premiê de qualquer nação que se respeitasse.

A Itália, infelizmente, não se respeita.

Então, nela nada mais me surpreende.

Nem mesmo que esteja em gestação uma lei com o objetivo gritante de manietar a Justiça e censurar a imprensa, apenas para que não seja mostrada ao povo a nudez do rei.

É o que informa a notícia Itália para contra a "lei da mordaça", publicada neste sábado (10) pela Folha de S. Paulo, cujos principais trechos reproduzo em seguida:
"Os principais jornais italianos decidiram não circular ontem nem atualizar seus sites na internet. A maioria dos canais não exibiu telejornais, e foram poucas as notícias nas rádios. Também houve greve de transportes em cidades como Roma e Milão.

"Foi um protesto contra a 'lei da mordaça', como é conhecido o projeto que o premiê Silvio Berlusconi tenta aprovar no Congresso.

"O projeto já passou no Senado e deve ir à votação na Câmara no dia 29. Se virar lei, irá restringir o uso de grampos telefônicos em investigações e punir com multa os meios de comunicação que publicarem as transcrições.

"Aos jornalistas, estão previstas penas de prisão de até dois meses.

"Há também grande descontentamento entre juízes. A associação dos magistrados afirmou em nota que a nova lei irá tornar muito mais difícil o trabalho investigativo de policiais e juízes.

"...os críticos afirmam que ele [Berlusconi] tenta se proteger, evitando investigações sobre sua vida e sobre membros do governo. Em 2009, o vazamento de partes de investigações sobre corrupção atingiram o premiê.

"Foram divulgados pelos meios de comunicação fotos e detalhes de festas que o premiê dava em sua casa, para as quais eram contratadas garotas de programa.

"Há dois meses, Berlusconi foi obrigado a aceitar a renúncia de Claudio Scajola, seu então ministro da Indústria, após a mídia divulgar operações fraudulentas na compra de um apartamento".
O primeiro-ministro reagiu pedindo a ajuda de seus simpatizantes para dar fim à "mordaça imposta à verdade", por parte de uma mídia que "pisoteia sistematicamente no sagrado direito à privacidade dos cidadãos invocando a liberdade de imprensa como se fosse um direito absoluto".

Segundo o herdeiro espiritual do Duce, "na democracia não existem direitos absolutos".

Parece um papa discorrendo sobre sexo: fala sobre o que desconhece e nunca praticou. Não passa de figura tosca de um autoritarismo rançoso e odioso.

Enfim, serve como consolo a constatação de que, com enorme atraso, os italianos finalmente começam a despertar de sua letargia cúmplice.

Talvez nem tudo esteja perdido; aguardemos os próximos e emocionantes capítulos.
*Celso Lungaretti, jornalista e escritor.
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