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A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mensagens de Ódio Pela Internet: Um Apelo ao Ministério Público


Mensagens de Ódio Pela Internet: Um Apelo ao Ministério Público

Por Carlos Alberto Lungarzo (*)

Numerosos sites e blogs da Internet se caracterizam pela difusão permanente de mensagens de ódio, seja político, racial, ideológico, nacional ou de qualquer outra característica. Ao mesmo tempo, nesses sites abundam afirmações falsas ou distorcidas, que são mais do que difamações ou, mesmo, calúnias pontuais. Essas declarações formam um contexto de campanha de destruição moral de certas pessoas que eles consideram inimigas.

Não está em jogo a eventual ofensa ou injúria a alguém por lhe atribuir um ato que não cometeu, ou cujo cometimento não pode ser provado. Tampouco está em questão o direito de qualquer pessoa ou organização a manifestar seu desafeto, crítica ou repúdio por outros.

O que está em pauta é uma tendência sistemática a ofender, caluniar, ridicularizar, humilhar publicamente, expor ao ódio e eventualmente, incitar a ação física de vândalos ou hooligans contra pessoas ou grupos cujas posições não coincidem com as desses sites.

O Ministério Público deve, como mínimo, acompanhar o funcionamento desses sites e blogues, e manifestar se considera ou não esses atos como atentado à dignidade humana e incitação à violência.

Análise do Contexto
O problema da liberdade de ação e de expressão é um antigo calvário da democracia, da estratégia de Direitos Humanos e do Direito em geral. Isso não significa que o problema seja impossível de resolver. Se chegar a uma solução parece difícil é porque há muitos interesses em jogo, por um lado; e, de outro, muitas pessoas se sentem amedrontadas.

A liberdade de ninguém deveria ser limitada quando é exercida no âmbito privado ou público, sem produzir danos nos Direitos Humanos básicos de outras pessoas. Entretanto, os sistemas de poder controlam a vida privada, os direitos reprodutivos e as opções sexuais das pessoas, que são atos privados sem qualquer efeito negativo sobre os outros. Por outro lado, limitam direitos de expressão que, sejam corretos ou grosseiros, não configuram ódio nem visam a destruição moral ou física de nenhuma pessoa ou entidade. Vejamos dois exemplos:

Em alguns países, como a Itália, existe ainda a censura medieval contra a blasfêmia. Recentemente, uma pessoa foi condenada por fazer pilhéria com o Papa. Em algumas sociedades com resíduo do stalinismo, como Cuba, pode punir-se a execração dos símbolos pátrios, e até as críticas ao governo.

Entretanto, sites, rádio, TV, jornais e outras formas de mídia podem, em algumas sociedades, publicar manifestos violentos, que cultuam o ódio de maneira sistemática, e geram um sistema de lavagem (ou, melhor dizendo, de poluição) cerebral, pudendo servir, em situações críticas, como faísca para atentados.

Um exemplo famoso é o sistema de Rádio e TV chamado “As Mil Colinas” de Kigali (Ruanda), que, desde 1993, transmitiu mensagens contínuos incitando ao ódio contra a nação Tutsi, e preparando o genocídio que custaria quase 1 milhão de mortos. Tanto o diretor da emissora como o de um jornal com tendência similar foram julgados por crimes contra a humanidade, após o fim do massacre.

É verdade que a emissora tinha uma audiência enorme, e seu impacto na sociedade era gigantesco. Entretanto, se é necessário um impacto enorme para deflagrar um genocídio, não é necessária uma penetração tão grande para incitar a um ou mais atentados, sejam morais ou materiais.

Observe as preocupações das Nações Unidas com este tipo de problemas aqui.

Não nego que o assunto possa ser complicado, porque nem sempre a linha que separa uma liberdade legítima de um crime humanitário pode ser traçada com precisão. Uma amostra dessa dificuldade foi apresentada pelo caso de Richard Warman no Canadá, onde um tribunal conservador considerou que a limitação às mensagens de ódio feria a liberdade de expressão. Veja isto aqui.

No Brasil, as campanhas de ódio parecem coincidir com certas propostas de alguns políticos que desejam introduzir censura na Internet. Não posso dizer se essas campanhas estão coordenadas, mas elas possuem um caráter semelhante. As campanhas de ódio e ameaças procuram intimidar e calar defensores dos Direitos Humanos, do sistema democrático, e de um sistema jurídico equânime e objetivo. Também visam semear o terror entre os pacifistas, os inimigos do militarismo, da tortura, da pena de morte e da justiça linchadora. Atribuem a figuras desconhecidas ou públicas, atos criminosos extremos ou, até, históricos forjados de graves delitos e atentados.

Por outro lado, as campanhas para censurar a Internet parecem orientadas a impedir legalmente a manifestação dessas pessoas. Mesmo que os autores de ambos os métodos (o terror midiático e a censura legal) não estejam combinados, seu efeito é notoriamente aditivo.

A grande mídia tem uma direção ideológica e contra os DH numa proporção muito alta (uns 95% ou mais). Por causa disso, pessoas que querem expressar-se contra a impunidade dos crimes militares, a favor do direito de asilo, em prol da paz, contra as provocações internacionais, etc., só podem agir por meio da pequena mídia alternativa e, de maneira massiva, pela Internet. Então, os grupos neofascistas no seio da sociedade usam dois caminhos:

1. Individualmente ou por grupos, criam sites e blogues desde os quais desfecham violentas propagandas de destruição moral.

2. Como isso pode não ser suficiente, visam estabelecer um método de censura, com um pretexto qualquer: até agora, o mais mencionado é o perigo de que hackers ataquem os bancos (!). Esta foi a justificação de um projeto proposto por um senador que parece liderar um esquema de corrupção e atualmente está sendo investigado.

Estamos, então, numa situação paradoxal. Opiniões e críticas objetivas (sejam certas ou erradas) sofrerão censura quando estas leis forem aprovadas. Por outro lado, os autores dessas críticas são ameaçados permanentemente por sites de ódio.

Apesar das polêmicas em torno do direito de opinião, ninguém pode negar que existem leis razoáveis que restringem certo tipo de transmissão por Internet. Por exemplo, existe censura contra a pedofilia, e até as comissões que lidam com esse problema concentram suas baterias na Internet, apesar de que os maiores e mais agressivos pedófilos atuam na vida real. Com efeito, enquanto setores de diversa índole tentam limpar a Internet de imagens ou textos de pedofilia, nada se faz contra a prostituição e escravidão infantil, permanentemente denunciada por ONGs de DH.

Se é possível impor certas restrições as transmissões por Internet, por que não é possível inibir ou, pelo menos, amenizar mensagens de ódio?

Possíveis Mensagens de Ódio
Não é possível saber o número total de sites gerados no Brasil que acolhem mensagens. Os seguintes são os mais conhecidos e os que possuem mais seguidores.. A proporção dessas mensagens é diversa. Alguns, esporadicamente, publicam notícias falsas sobre atos de terrorismo ou crimes praticados por pessoas públicas. Ou atiçam rancor contra movimentos sociais, grupos intelectuais, etc. Outros, já possuem uma direção sistemática nessa direção. Podem parecer de baixo impacto se comparados com os dos militares argentinos, por exemplo, ou com grupos de ódio dos Estados Unidos (p. e., o novo Ku Klux Klan), mas seu conteúdo deveria ser monitorado.

Alguns deles não têm terminação que identifique o país, portanto, devem ser abastecidos por provedores dos Estados Unidos. Entretanto, o que solicitamos ao Ministério Público é uma primeira revisão do material desses sites e uma análise de sua índole.

Quero deixar várias coisas claras:

1. Existem alguns veículos da grande mídia (muito poucos, talvez dois ou três), que usam um estilo de ódio semelhante ao destes sites. Não acredito que eles tenham menos responsabilidade, mas esse é um fato mais complexo, e sou consciente das limitações do poder público, inclusive quando atua com as melhores intenções.

2. Não estou criticando a propaganda neofascista, desde que ela não se expresse em forma de ódio. Pode reconhecer-se o direito de uma pessoa a admirar o fascismo, mas não a fazer propaganda da eliminação física, do racismo, da “faxina” de pessoas de outras ideologias.

3. Pessoalmente, não estou afetado por mensagens de ódio. As mensagens desse estilo que recebo, deleto. Se aparecem em algum site, simplesmente ignoro. Nunca entro em polêmicas com inimigos explícitos dos DH. Entretanto, é justo pensar que outras pessoas zelam por sua segurança física e sua reputação.

Eis a lista de sites que me causaram maior preocupação.

http://www.oquintopoder.com.br/

http://www.ternuma.com.br/

http://www.averdadesufocada.com/

http://www.midiasemmascara.org/

http://lilicarabinabr.blogspot.com/

http://coturnonoturno.blogspot.com/

http://www.fortalweb.com.br/grupoguararapes/

http://www.alertatotal.net/

http://www.defesanet.com.br/

http://levante-se.com/wp/

http://www.olavodecarvalho.org/index.html

http://brasilacimadetudo.lpchat.com/

Agradecerei também a opinião de leitores que desejem manifestar-se e aferir o grau de (i)legalidade das matérias neles publicadas.

*Carlos Alberto Lungarzo é graduado em matemática e doutor em filosofia. É professor aposentado e escritor, autor do livro “Os Cenários Invisíveis do Caso Battisti”. Para fazer o download de um resumo do livro clique aqui. Ex-exilado político, residente atualmente em São Paulo, é membro da Anistia Internacional (registro: 2152711) e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.

Charge: Carlos Latuff

"Populista extremista"

"Populista extremista"

Por Laerte Braga (*)

Arnold Toynbee entendeu, num determinado momento da guerra fria, que um confronto entre as duas grandes superpotências militares – EUA e URSS – seria inevitável. Para o historiador não havia sentido em todo aquele arsenal se não fosse a perspectiva real de guerra.



A partir daí, acreditou ele, que o mundo a renascer após o que chamou de “hecatombe nuclear”, teria um caráter puritano severo, regido por ditaduras tribais – os grupos sobreviventes –.



Os EUA engoliram a URSS. O caráter puritano severo é uma realidade na hipocrisia do capitalismo e as ditaduras não são tribais. Escoram-se no poder militar dos EUA e no que chamam de “nova ordem política e econômica”. A globalização, que não passa de “globalitarização”, máxima precisa do geógrafo brasileiro Milton Santos.



Há dias uma afiliada da REDE GLOBO mostrou o padre Fábio Melo, sucesso de vendagem em CDs religiosos, parabenizando os tantos anos de atividades da tal afiliada. Garoto propaganda no melhor estilo Renovação Carismática. A tentativa da Igreja Católica de reverter o avanço das seitas e igrejas neopentecostais, aproveitando e usando os mesmos métodos de “bispos” padrão Edir Macedo.



O jornal oficial do Vaticano L’OSSERVATORE ROMANO rotulou o escritor português José Saramago de “populista extremista”. É a típica linguagem que latifundiários, por exemplo, usam quando se fala de reforma agrária. Ou banqueiros, quando se critica o sistema financeiro internacional.



Um grupo de jogadores da seleção do Brasil fez chegar há cerca de duas semanas ao técnico Dunga que não estava mais suportando a pressão de jogadores e integrantes da Comissão Técnica evangélicos, para que aceitassem “Jesus em seus corações” e vestissem a camisa de “eu amo Jesus”.





Ganhariam a salvação e naquele momento um por fora para veicular a crença. Do jeito que as empresas de material esportivo pagam a atletas para que usem produtos de suas marcas.



Uma das idiossincrasias vaticanas em relação a Saramago está numa afirmação contida no livro do escritor português O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO. Ele, Cristo, teria perdido e com Maria Madalena a sua virgindade.



Sionistas enxergavam em Saramago um anti-semita.



A forma candente da crítica feita pelo jornal oficial da Igreja Católica a Saramago não é comum. De um modo geral o Vaticano trata mortes de críticos do catolicismo com notas frias, sem maiores considerações, notas assépticas.



O furor da crítica só faz acentuar o caráter fascista do papado de Bento XVI. É diferente do de João Paulo II. O papa anterior usava luvas para não sujar as mãos de sangue na tortura inquisitória perpetrada, por exemplo, contra o brasileiro Leonardo Boff. Ratzinger deixa a mostra seu coração suástico.



Não existe na história da humanidade ditadura mais cruel, perversa e duradoura que a Igreja Católica. A forma como são sufocados os que se opõem, por dentro, a essa barbárie religiosa, não difere da usada por ditadores clássicos se podemos definir Pinochet assim, ou qualquer outro. Trujillo assistia à missa todos os domingos.



Os militares golpistas que derrubaram o presidente de Honduras Manuel Zelaya o fizeram com as bênçãos do cardeal hondurenho e entraram no Palácio Presidencial carregando um imenso crucifixo. Como antes, em 2002, o cardeal venezuelano estava ao lado de Pedro Carmona e seu golpe macarrônico contra Chávez.



O avanço da seitas e igrejas neopentecostais em todo o mundo – se voltam agora para tentar chegar aos países islâmicos – tem a bênção dos senhores do mundo em Washington e Wall Street, embora boa parte das lideranças prefira ficar em Miami, caso do brasileiro Edir Macedo..



Os papados de João XXIII e de Paulo VI foram desmontados por seus sucessores (não estou levando em conta João Paulo I, vítima da burocracia fascista do Vaticano nas pressões “outra” Igreja, durou apenas um mês).



Na prática a nova ordem econômica, ou a globalização como chamam, é a nova ordem religiosa. O neoliberalismo. Como cruzados são os que na estupidez da barbárie, da tortura, de todas as formas de violência possíveis tentam “evangelizar” povos “pagãos”, na esteira do novo deus, o Mercado.



O que tudo regula, se auto regula inclusive.



No Brasil ganharam uma nova adepta, a senadora Marina da Silva. Fez tratamento para engolir e digerir sapos sem maiores danos ao seu estômago. Consciência já era.



“Evangelizam” no Iraque, no Afeganistão, em Honduras, na Colômbia, no Paquistão, tentam estender suas garras a outros cantos.



A Igreja Católica é como a Europa hoje. Um negócio assim de pedestais de ouro, erguido em barões, viscondes, condes, marqueses, duques, principes, reis e rainhas.



Fellini dimensionou isso com fulminante precisão em ROMA DE FELLINI. Nos vários modelitos capazes de encantar sua eminência e no brilho fascista de Pio XII. O tamanho do gênio, a capacidade da percepção do próximo capítulo nessa grotesca história de Marcelo Rossi salvando almas e vendendo CDs.



Se há luz, necessariamente tem que haver sombra. Os técnicos não entenderam assim. A luz de uma vela carregada por Roberto Benigno enquanto subia uma escada do lado de fora de um celeiro era insuficiente para gerar sombra. O gênio de Fellini quis a sombra e a sombra gerou todos os debates sobre esse lado sombrio da luz.



“Vocês são apenas técnicos, gênio aqui sou eu”. “Quero mar de papel crepon”.



Saramago, ao contrário do que dizem os porta-vozes da Igreja não hostilizou a convicção católica. Esse é um problema individual de cada um. E tampouco negou erros e crimes supostamente praticados por governantes da antiga União Soviética.



Ao contrário. Aceitou as evidências, as narrativas e os fatos apresentados, apenas reafirmou sua convicção. Um católico não tem culpa de Bento XVI. O caráter perverso do papa não pode ser estendido ao fiel. Nem o banditismo de Edir Macedo àquele que crê piamente que o dízimo constrói casa na vida eterna.



E nem a obra de José Saramago pode ser vista apenas sob esse ângulo. Não era um escritor que fazia do anti-catolicismo a razão de ser de sua obra. É pretensão demais cingi-la a isso. Apenas detectou um dos cânceres. Entendeu o mundo como um todo capitalista a subjugar seres humanos e transformá-los em objeto de uma engrenagem bárbara, “neomedieval” como dizia, mas recheada de tecnologia.



Transcende à dimensão anã do catolicismo de Bento XVI. Projeta-se na compreensão que vivemos o dilema extremo do ser humano.



Ou somos objeto dessa nova ordem, ou nos rebelamos e construímos outra ordem possível e desejável.



Daqui a mil anos, se alguma coisa e alguém ainda existir, com certeza, Saramago será lembrado. Bento XVI vai constar apenas daqueles almanaques em que se lista quem foi papa, ou a ordem dos papas desde a fundação da Igreja.



“Populista extremista”. Não pesquisei, mas se alguém o fizer vai encontrar a raiz dessa expressão em algum momento de Hitler. Com certeza.

*Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no “Estado de Minas” e no “Diário Mercantil”. É colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.

Charge: Carlos Latuff

Grande Mídia dá uma Trégua no Caso Battisti

Grande Mídia dá uma Trégua no Caso Battisti

Por Carlos Alberto Lungarzo (*)


Na seção Tendências/Debates do jornal Folha de S. Paulo do dia 18/06/2010, o professor e jurista Luís Barroso, um dos defensores do escritor italiano Cesare Battisti junto ao Supremo Tribunal Federal, publicou uma apreciação rigorosa e contundente sobre o caso de seu defendido. Os que não são assinantes da Folha podem ver uma reprodução textual da manifestação do jurista no blog de Celso Lungaretti, aqui. (Na mesma página do blog, como anexo, Celso inseriu um vídeo do trabalho em que eu provo a falsificação das procurações que os advogados de Cesare utilizaram em Milão.)

Nos últimos dois anos, Barroso tem publicado vários artigos sobre Cesare, alguns muito detalhados, precisos e com abundante e clara informação, como este aqui. No entanto, o publicado agora, em minha opinião, é o mais categórico e assertivo de todos. Já o nome da matéria, Terrorismo Verbal, é sumamente duro. Tem eloquência suficiente para referir-se sem eufemismos à tarefa cumprida pela grande mídia contra Battisti: aterrorizar a opinião pública apresentando uma imagem falsa do romancista italiano, ex ativista de esquerda, que está totalmente resocializado há “apenas” 28 anos, e fez amigos em todo o mundo civilizado por sua sensibilidade literária, artística e social.

Ao apresentar a versão real sobre os fatos, Barroso não se furta de dizer: “A história documentada, que raramente se consegue contar ao público, é a seguinte: ...” [grifo meu]. Deixa assim claro que as histórias que descrevem Cesare como terrorista, homicida e pessoa perigosa são as histórias falsas, mas, além disso, são as histórias “obrigatórias”, que os establhishments italiano e brasileiro (ambos, não apenas o italiano) impõem como as únicas possíveis, proibindo a verdadeira.

Barroso também denuncia o ânimo persecutório, e as maiores irregularidades do processo. Cesare foi acusado oficialmente de subversão, e não de homicídio, e aqueles crimes foram “carregados” em sua conta sem acusação formal, apenas como “fofoca” dos delatores premiados, que ganharam depois a liberdade, enquanto Battisti recebia uma sentença que incorporava esses delitos sem qualquer prova nem testemunha.

Bom, o leitor poderá apreciar a importância deste texto numa leitura e não se justifica repetir aqui todos seus acertos. Entretanto, meu objetivo ao comentar a matéria de Barroso é chamar a atenção para um fato surpreendente: um dos maiores órgãos da mídia brasileira, a Folha de S. Paulo, tem dado espaço para alguém que diz a verdade sobre o caso Battisti!

É algo muito positivo, que deve ser celebrado, mas também algo inesperado, que ninguém poderia imaginar, e que produz uma estonteante surpresa. Qual é o motivo pelo qual a grande mídia resolveu dar uma trégua em sua campanha de perseguição contra Battisti? As verdadeiras causas devem ser conhecidas por poucas pessoas, mas podemos analisar as hipóteses mais prováveis.

Não é o caso de voltar a revisar as inúmeras campanhas de difamação da grande mídia contra Cesare Battisti, até porque ninguém dispõe de tanta memória de computador para o tamanho da lista. Alguns órgãos ou programas instilaram mensagens de ódio de altíssima voltagem: a revista Veja, o Jornal da Globo, e a revista Carta Capital, esta última considerada de centro-esquerda por muitas pessoas (o que coloca o grave problema de entender o que é esquerda no Brasil). Já, órgãos mais sérios, como os grandes jornais, mantiveram uma parcialidade mais dissimulada.

A Folha, por exemplo, referiu-se sempre a Cesare como “terrorista”, pelo qual é esquisito que publique um artigo onde se critica esta palavra infame e sensacionalista. Em alguns momentos, os editores talvez entenderam a dificuldade de fazer terrorismo dentro de uma prisão, e mudaram, por pouco tempo, para “ex terrorista”.

O jornal publicou algumas matérias favoráveis a Battisti. Uma apareceu em 28/01/2009 (vide) como notícia: era a opinião de Antígone, a mais importante ONG Europeia sobre Direitos Humanos de prisioneiros, que elogiava o refúgio político concedido ao escritor italiano. No 19/01/2009, apareceu, agora na seção Tendências/Debates, a carta onde o filósofo francês Bernard-Henri Lévy justificava seu apoio a Battisti e pedia ao presidente sua liberação.

É claro que um órgão jornalístico que se autoprojetou sempre como imprensa séria, não podia omitir as opiniões de celebridades como Suplicy, Dallari e outras, que se manifestavam em favor de Battisti, sendo que os ataques verbais contra o refugiado ocupavam milhares de linhas por unidade de tempo. Mas, ainda assim, esta forçada objetividade foi relativa. Em novembro de 2009, o político italiano Fassino, na época da máxima ofensiva italiana em favor do linchamento, emitiu opiniões pseudojurídicas sobre a necessidade de punir o escritor. Eduardo Suplicy, um já lendário defensor dos DH sem reparar nos esforços que isso custe, escreveu uma carta de leitores à Folha, um modesto texto de umas poucas linhas, que assinamos ambos, em como membro da Anistia Internacional. A Folha, que publica cartas sobre vizinhos que reclamam de buracos no asfalto, de pessoas que se queixam de barulhos de roqueiros, e outras bobagens, nem se deu o trabalho de publicar um resumo de cinco linhas.

Por outro lado, notícias derrogatórias sobre Cesar podiam ocupar mais de 1000 palavras por semana. Devem adicionar-se, ainda, os comentários, em sua maioria destilando ódio e ressentimento, dos leitores dessas matérias. Algumas dessas notícias eram apresentadas com neutralidade, mas outras eram destacadas sem nenhum motivo. Por exemplo, as contínuas provocações do então presidente do STF contra os que apoiavam Battisti foram reproduzidas sem poupar uma linha. Ainda mais aberrante foi o destaque dado a Alberto Torregiani, filho de Pier Luigi, o ourives vítima do PAC, cuja morte seus autores atribuíram a Battisti. Embora seja mais do que compreensível a dor de uma pessoa condenada a movimentar-se em cadeira de rodas, não é fácil entender a causa de seu resentimento contra o Cesare, sendo que ele mesmo reconhecia que o escritor não estava entre os que mataram seu pai, nem entre os que dispararam tiros por causa dos quais ficou paraplégico.

Nos últimos tempos, a Folha publicou uma notícia difundida por ANSA, que evitou, no entanto, colocá-la em seu site, percebendo o ridículo nela embutido. Nela, Alberto pedia ao STF que lhe permitisse manifestar-se na Corte. É óbvio que isso não podia ser concedido, porque a Corte não interroga testemunhas. Então, dar uma notícia sobre um fato impossível era apenas uma manobra para tumultuar ao máximo o processo..

O Jornal ignorou declarações de celebridades que apoiavam Battisti, que um jornal sério, mesmo que fosse o mais conservador ao Oeste dos Montes Urais, teria publicado: a de Anita Leocádia Prestes, a segunda declaração do presidente de Antígone, Patrizio Gonnella, dirigida agora ao presidente, a carta encaminhada a Lula pela Liga dos Direitos do Homem, a ONG francesa que foi a primeira organização de DH no mundo.

Ainda, no dia da retomada do julgamento de Cesare Battisti, em novembro de 2009, o diretor do jornal ou coisa que o valha (não sei qual é o título que recebe o capo numa empresa) publicou um estrondoso editorial exigindo a extradição de Battisti. Claro! Ele o publicou como matéria da casa, então ninguém pode acusá-lo de parcialidade. Qualquer cidadão sabe que uma matéria editorial manifesta a opinião pessoal da empresa que, afinal, tem esse direito.

Fazendo breve, de toda a mídia, a única que mostrou imparcialidade compatível com o que deve ser a informação num país civilizado (ou tido como tal) foi Isto É. Mesmo assim, não posso menos que lamentar sua falta de comedimento ao não responder minha proposta de publicar as provas da falsificação das procurações, e o pedido de Lungaretti no mesmo sentido. Uma vez, o Estadão concedeu uma entrevista ao juiz Marco Aurélio, o que foi um grande parêntese em sua campanha contra Cesare, e mostro imparcialidade, pelo menos, naquele momento.

Devo reconhecer que um blog de um jornalista da Veja chamado Nunes, publicou uma carta de leitor minha, onde eu desfazia as opiniões erradas de que os filhos de Sabbadin e Torregiani tinham sido testemunhas de que seus pais foram mortos por Battisti. Mas, este foi um caso especial. Essa afirmação sobre a culpa de Battisti foi publicada no meio de um comentário grosseiro e injurioso contra o Senador Suplicy, quem, muito corretamente, negava que alguém tivesse visto alguma vez Battisti cometendo homicídio. Acredito que o editor acedeu publicar minha carta (um longo texto, rigorosamente justificado), porque teve consciência que tinha exagerado suas injúrias e sarcasmos.

Mas, agora, a situação é diferente. A Folha, numa de suas páginas mais lidas, que chega a centenas de milhares de pessoas, publica a opinião do mais autorizado e erudito conhecedor do caso Battisti. Por quê?

Não vou incorrer na ingenuidade de dizer que é por respeito à verdade, nem pela famosa liberdade de imprensa, que existe e é muito bem aproveitada pelos donos, mas não pelos usuários. Penso que toda a campanha de difamação e ódio contra Battisti está muito esgotada. Goebbels estava certo ao proclamar o poder de mentira, mas ele não revelou que o sucesso de suas calúnias se devia não apenas à insistência, mas também à força bruta que o Reich possuía.

Com efeito, este é um assunto longo, mas vou dar uma ideia. A lógica do ódio é confusa, e acaba envenenando os próprios feitores. Se o nazismo conseguiu manter mentiras e preconceitos durante muito tempo, foi porque ele tinha força e podia oferecer alguma coisa aos que secundavam suas mentiras.

Mas a sociedade brasileira, metaforicamente democrática pode oferecer pouco em troca aos linchadores de Battisti. Sabemos que a classe média que escreve comentários na própria Folha e outros jornais, encontra uma catarse para sua paranóia quando externa seus preconceitos, ódios, sentimentos xenofóbicos e neofascistas. Mas isso dura pouco: se Battisti for deportado, poucos conseguirão vê-lo morrer... talvez, apenas os guardiãs da prisão, os parentes dos que se dizem “vítimas” da esquerda, e alguns dignitários de estado.

Mas o homem comum de classe média, a maioria silenciosa, o frustrado advogado de cadeia que não consegue nem prestígio nem grande fortuna, o fundamentalista teológico, os militares e policiais, que sonham ver esquerdistas autênticos queimando na fogueira... etc., ninguém deles poderá ver morrer o refugiado, como podem ver morrer um assaltante linchado na rua, ou um trombadinha arrebentado por tiras. Ou seja, manter o ódio sempre é um esforço, mesmo para quem odeia. E ninguém pode prometer uma recompensar por formar parte da claque de linchadores de Cesare. O Terceiro Reich poderia oferecer vítimas sucessivas (que começam na Noite dos Cristais) para manter viva a energia linchadora. Brasil não pode oferecer nada parecido.

Foi esse fenômeno o que desmoralizou até os mais assanhados, sádicos e doentios perseguidores. Os membros mais corruptos do Senado, os soldados da máfia evangélica, os ruralistas, etc., já não tem mais imaginação nem esforço para gritar “Matem Battisti!” e estão encontrando inimigos novos. O incrível vice-presidente, e sua versão mais light, o presidente de Senado, ambos se limitaram a dizer, várias vezes, que Battisti devia ser extraditado. Mas, não envidaram nenhum esforço.

Um exemplo singelo de que mesmo ser linchador exige algum talento:

O site de petições contra Cesare, organizado pelo grupo do Orkut chamado Fora Lula!, abriu uma lista de assinaturas em janeiro de 2009, encabeçada por um manifesto pieguíssimo e subserviente onde bajulavam escandalosamente Napolitano e Berlusconi. Apesar da cumplicidade de mídia e do apoio dos políticos, eles obtiveram até o dia de hoje (20/06/2010), 307 assinaturas.

No site que Celso Lungaretti e eu abrimos no mesmo portal em dezembro de 2009, já temos 3809 assinaturas. Em termos absolutos, nós temos 12,4 vezes mais do que eles. Se vocês consideram que o site deles está funcionando durante 17 meses, e o nosso durante 6 meses, então eles tiveram 19 assinaturas por mês, e nós 685, ou seja, 37 vezes mais. Ainda, esta superioridade nossa é pequena, e pessoalmente me penitencio de não ter investido mais esforço em nosso petitório porque poderíamos ter multiplicado várias vezes esse número.

A história mostra, pelos menos nos séculos 19 e 20, que a direita só atua quando possui uma esmagadora superioridade de poder militar, policial e econômico. Mas este exemplo da falta de empenho dos inimigos de Battisti prova que ela não consegue ser eficiente, mesmo nesses casos, quando é necessário convencer e raciocinar.

Estamos no QED de nosso teorema. A Folha é um jornal conhecido, possui numerosos serviços, é lido pelos muitos brasileiros que moram fora do país. Ela comprou uma batalha muito confortável contra Battisti, e o atacou com toda a violência que fosse compatível com uma aparente elegância. Sabe que continuar com a mentira será puro desgaste. Aliás, segundo um boato (que, obviamente, não tenho condições de confirmar) que veio da Suíça, parece que os italianos não estão dispostos a gastar mais dinheiro no linchamento de Battisti. Até porque seus problemas domésticos estão ocupando todo seu poder de “sedução”.

*Carlos Alberto Lungarzo é graduado em matemática e doutor em filosofia. É professor aposentado e escritor, autor do livro “Os Cenários Invisíveis do Caso Battisti”. Para fazer o download de um resumo do livro clique aqui. Ex-exilado político, residente atualmente em São Paulo, é membro da Anistia Internacional (registro: 2152711) e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.
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