O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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domingo, 2 de maio de 2010

A segunda tortura de Eros Grau



[caption id="attachment_5948" align="aligncenter" width="468" caption="Foto: Dida Sampaio / Agência Estado"]Eros Grau e Gilmar Mendes Foto Dida Sampaio AE[/caption]


Com seu voto, Eros Grau quedou-se frente ao passado,

garantindo ao torturador seu segundo êxito.

Há fantasmas que sempre reaparecem com recados políticos claros.

Não é de bom tom rezar as orações que eles pedem.


Por Gilson Caroni Filho (*)



Por sete votos a dois, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu arquivar a ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que contestava a Lei da Anistia, mantendo vedada a possibilidade de processar torturadores. Já que, tal como no poema de Bandeira, a decisão assegura que a única coisa a fazer é tocar "um tango argentino", vale a pena analisar a lógica do voto do relator, ministro Eros Grau que, na ditadura, foi preso e torturado nas dependências do DOI-CODI.



Para ele, a lei foi fiadora de uma "transição pacífica para a democracia" e não pode ser julgada com lógica de outra época, senão a do regime militar. Talvez, mesmo invocando o poeta Mario Benedetti, Eros Grau tenha se esquecido de alguns detalhes sobre a “lógica da época". Vivíamos uma ditadura que nasceu e se afirmou como contra-revolução. Um golpe que expressou a reação de um bloco de poder às reivindicações, lutas e conquistas de operários, mineiros, camponeses e outras categorias do mundo do trabalho.Em geral, os golpistas também estavam combatendo as propostas e realizações de movimentos e governos de cunho reformista. A ascensão das classes sociais subalternas, tanto agrárias como urbanas, como possíveis sujeitos de reformas sociais e democráticas, precipitou a reação em moldes militaristas. Para atingir seus propósitos, principalmente a partir de 1968, o poder estatal, enquanto monopólio da violência, alargou sua ação por todos os círculos da vida privada, anulando, na prática, o espaço do privado. O terror e a barbárie espalharam-se pelo tecido social da sociedade civil até os mais distantes recantos e poros. Como falar em negociação nesse cenário? Quais os termos em que se daria? Há pacto possível entre algozes e totalidades desconstruídas pela negação de sua própria humanidade?

A questão da legalidade da ditadura torna-se crucial porque o terror não foi excesso de funcionários sádicos – embora, óbvio, eles existissem-, mas metodologia de Estado. Foi para viabilizar um modelo de capitalismo monopolista dependente que se estruturou a Doutrina da Segurança Nacional e a Lei de Segurança que dela decorreu. Os comandos militares, com apoio de conhecidos grupos empresariais, fizeram do anticomunismo paranóico a razão em nome da qual procuraram justificar os crimes perpetrados. Para empreender a luta contra o que chamavam de subversão, instalou-se no país uma desapiedada máquina repressiva, capaz de todas as violências e de todos os horrores.

Seqüestrou-se à vontade, sumiu-se com muita gente, torturou-se, e matou-se sob o pretexto de dar combate ao comunismo. A isso tudo, uma parcela da esquerda se opôs tanto em 1968 e na década de 1970, com a resistência armada, como posteriormente, a partir de 1974, com a ascensão do movimento democrático de massas. Estava claro que o terror era instrumento imprescindível para a imposição de uma política de concentração de renda e da entrega da economia nacional ao estrangeiro.

O ex-militante do PCB, hoje juiz do Supremo, está correto quando pondera que “era ceder e sobreviver ou não ceder em continuar a viver em angústia. Em alguns casos, nem mesmo viver". Mas incorre em erro ao afirmar que “quando se deseja negar o acordo político que efetivamente existiu, resultam fustigados os que manifestaram politicamente em nome dos subversivos". Com efeito, Eros Grau parece não se dar conta de que para acalentar esperanças, fica-nos o dado da experiência. Parece ter desaprendido que, em política, o formal não corresponde ao real. A realidade, a nova realidade, pode, de repente, impor ritmos e decisões que uma análise puramente formalista da situação não só não apreende como acaba por produzir um equívoco deplorável.

Nos novos tempos, o jogo político aberto, que só é aprofundado com a permanente participação popular, demonstra sua força de condutor concreto da vida nacional. Evitar bloqueios e desvios que tantos já começam a temer era o papel que se esperava do STF. Ao não rever, dentro de sua competência constitucional, a Lei da Anistia, absolveu o regime militar de suas mais tenebrosas patologias.



Talvez, além de Benedetti, o relator devesse ter lido um trecho de belo artigo de Hélio Pellegrino (*):" o corpo, na tortura, nos acua para que nos neguemos enquanto sujeitos humanos, fiéis aos valores que compõem o nosso sistema de crenças".

Com seu voto, Eros Grau quedou-se frente ao passado, garantindo ao torturador seu segundo êxito. Há fantasmas que sempre reaparecem com recados políticos claros. Não é de bom tom rezar as orações que eles pedem. O antigo militante revisitou, togado, as dependências do terror. Um retorno tramado por capitulação que se disfarça de consciência jurídico-política.

(*) O texto citado encontra-se na coletânea " A burrice do demônio", publicado pela editora Rocco, em 1988.

*Gilson Caroni Filho é sociólogo e mestre em ciências políticas. Mora no Rio de Janeiro, onde é professor titular de sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). É colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do blog "Quem tem medo do Lula?".

A charge é uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".


Goleada do conservadorismo



Goleada do conservadorismo


Por Mario Augusto Jakobskind (*)


Por Mario JakobskindO conservadorismo ganhou de goleada, 7 a 2, no Supremo Tribunal Federal ao rejeitar ação da Ordem dos Advogados do Brasil no sentido a lei da anistia não contemplar torturadores e assassinos do período da ditadura. Os ministros usaram argumentos que não resistem a menor análise, como, por exemplo, ao afirmarem que a referida lei foi promulgada depois de um acordo político resultado de um amplo debate. Não foi. A lei foi votada no Congresso sob pressão dos militares, que no dia da votação ocuparam as galerias esperando o resultado.


A memória dos Ministros não funcionou. Esqueceram que na época, em 1979, existiam senadores biônicos, que não eram submetidos ao voto popular e faziam tudo que o amo, ou melhor, o general de plantão mandasse. Lá se vão 31 anos, o que em história não é nada. Outro erro de interpretação, a anistia promulgada não abrangeu todos brasileiros. Os presos políticos que participaram da luta armada tiveram as penas reduzidas pelo último presidente de fato, o general João Batista Figueiredo. Não foram anistiados propriamente. Lamentável é o Ministro Eros Grau, um ex-preso político que foi torturado na ditadura, segundo noticiário dos jornais, ter esquecido tudo isso e apresentar o relatório que apresentou.


Como se tudo isso não bastasse, fora o médico legista Amílcar Lobo, que assinava laudos falsos que visavam esconder os verdadeiros motivos da morte de um preso político, ninguém mais foi julgado e punido. Ou seja, mais um item surrealista abrangido pela anistiaL contemplar quem torturou, assassinou e até roubou influi nos dias atuais. Estimula a impunidade para os agentes da lei, que continuam praticando ilegalidades em vários níveis.


Alguém pode estar perguntando, mas que agentes da lei, fardados ou não, roubaram? A viúva do Presidente João Goulart, Maria Tereza Goulart, segundo afirmou, teve suas jóias surrupiadas por militares e posteriormente reconheceu o que era de sua propriedade sendo utilizado por outras pessoas.


É esta gente que os Ministros do STF contemplaram.


Mas nem tudo está perdido. Alguns ministros admitiram que a lei poderá ser reinterpretada pelo Congresso. A OAB poderá levar a questão para fóruns internacionais como a Corte de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. Países sul-americanos como Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai abriram os arquivos e condenaram a prisão até ex-presidentes-ditadores, como Juan Maria Bordabery, que pegou 25 anos por estar implicado no assassinato, em Buenos Aires, de opositores ao regime ditatorial uruguaio como o Senador Zelmar Michellini e o deputado Gutierrez Ruiz.


No contexto sobre comentários relacionados com a decisão do STF, o recorde em matéria de sandice ficou com o senador Demóstenes Torres, do Demo de Goiás. Ao defender o veredicto dos Ministros e compará-lo com países do Cone Sul, o parlamentar, demonstrando qual é a dele, afirmou que nos países onde torturadores dos mais altos escalões estão sendo punidos “a democracia é instável”. O certo, claro, é exatamentente o contrário. Pois é, imagina que isso foi dito por um senador da República. Dá para imaginar o nível dos atuais políticos no Brasil.


A propósito, como a eleição está se aproximando é bom que os brasileiros fiquem atentos aos fatos e pronunciamentos para se ter maior clareza de quem é quem na disputa, não só presidencial, como para os demais cargos. Como os brasileiros de um modo geral não são fortes em matéria de memória, é importante recordar fatos e cobrar dos políticos um mínimo de coerência. Muitos deles mudam de opinião conforme a maré. Querem um exemplo, em 1988, quando das discussões na Assembléia Constituinte, o atual candidato tucano, José Serra, votou e defendeu inúmeros tópicos contra os trabalhadores. Segundo o DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), Serra votou contra em pelo menos dez matérias de interesse dos trabalhadores, como, por exemplo, o direito de greve, redução da jornada de trabalho para 40 horas, garantias de estabilidade no emprego, abono de férias de 1/3 do salário e assim sucessivamente, para não falar no voto contra o monopólio nacional de distribuição do petróleo.


E agora o ex-governador de São Paulo se apresenta como defensor dos interesses dos brasileiros. Faz rasgados elogios a Lula, isso depois que os seus correligionários, um deles o ex-presidente FHC, passaram a esculhambar o atual ocupante do Palácio do Planalto durante os dois mandatos.


Para ser ter ainda melhor idéia do perfil de Serra, vale assinalar que em uma de suas recentes entrevistas, para o Datena na TV Bandeirantes, o candidato do PSDB, DEMO e PPS falava contra o MST e de repente expôs a idéia de criar um Ministério de Segurança Pública. Doutor Freud explica quando alguém automaticamente apresenta uma proposta que se associa à repressão. Além do mais, demagogia pura, porque a matéria de Segurança Pública está afeta ao Ministério da Justiça. A idéia do Ministério é para ganhar voto de incautos.


Por estas e muitas outras, todo cuidado é pouco para evitar que no futuro tenhamos dias piores. A incoerência e os ziguezagues de Serra ficariam mais claros se os meios de comunicação dedicassem maior atenção ao ontem e hoje. Mas aí, os jornalões e telejornalões teriam que deixar de lado a atual linha editorial que adotaram de linha auxiliar de partidos políticos da direita.


*Mário Augusto Jakobskind é jornalista, mora no Rio de Janeiro e é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de S. Paulo e editor de Internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do semanário Brasil de Fato. É autor, dentre outros livros, de "América que não está na mídia" e "Dossiê Tim Lopes - Fantástico / Ibope". É colunista do site "Direto da Redação" e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

Zé Serra, o justiceiro



Zé Serra, o justiceiro


Por Urariano Mota (*)


Por Urariano MotaRecife (PE) - Para comentar a entrevista de José Serra ao apresentador José Datena, melhor seria narrar o gênero de instigadores de violência em programas policiais na tevê. Para os limites desta coluna, falemos então do estilo desse indivíduo alto, gordo, cheio de certezas da classe média, mais conhecido por José Luiz Datena. Corajoso por roteiro, o que vale dizer, fanfarrão o tempo todo, Datena fala alto, grosso, raro deixa o entrevistado falar. O diabo é que, nesse particular, ele sofre do estrelismo de quase todos entrevistadores da televisão, que sempre sabem mais que o entrevistado. Jamais compreenderão que o brilho é da entrevista.


Mas vamos ao que interessa.


O estilo Datena de apresentação do programa na tevê é o velhíssimo estilo de programas policiais: ele transforma todo público em cães raivosos. “Ah se eu te pego”, é conduzido a dizer para si o mais pacato telespectador. Datena usa ao limite do abuso o recurso da narração nas imagens. Ele faz ver o que os olhos não veem. Se me entendem, ele põe molduras, percepções arbitrárias nas pessoas, ora pessoas!, nos bandidos. Se o miserável sorri, ele pontua: “olha o cinismo dele, olha a frieza do marginal”. Mas se o miserável chora, “esse cara num tá chorando, é tudo mentira, é um canalha”. Datena transforma pessoas em feras, tanto as do lado de lá da tela, quanto as do lado de cá, que o veem. Datena detona. No seu comum, o apresentador, com o à vontade dos ignorantes, exibe "reportagens" que, não bastassem a violência dos crimes, são envenenadas por ele, que insinua, induz e leva todos à conclusão, “bandido tem que ser morto”.


A entrevista, maneira de dizer, a encenação que ele fez com José Serra, possuiu características de espetáculo armado, de roteiro aprovado antes pelo candidato. Em uma hora de programa, em um só momento o candidato não foi questionado sobre o desastre da educação em São Paulo, a saber, livros pornográficos adotados, falseamento de índices de aproveitamento escolar, professores tratados a porradas, assinaturas de revistas e jornais dos grupos amigos... mas aí já era querer demais. O apresentador, de perfil sumô, preferiu ficar leve no bate e rebate do vôlei: levantava a bola, Serra cortava, simulavam desacordo, para melhor enganar o adversário. E a bola rolava na dupla José Serra e José Datena.


José e José, Zezé, poderia ser dito. Os dois zés em uma só pessoa. Eles dividiram, confirmaram, comungaram até nomes de médico. Então o Zé, Datena, expôs o seu programa de política externa, sob acenos afirmativos de Serra. Disse Zé Datena: “ com esses vizinhos xaropes que nós temos aqui, eu não encontro outro termo, com esse Chaves, que é um ditadorzinho de republiqueta barato, esse Morales não fica muito diferente, com aquele cara do Equador é a mesma coisa, e daí por diante... ”. Mais: “O senhor pretende continuar aumentando esse poder militar do Brasil – não é pra atacar ninguém, mas é pra se defender de um cara desses, que de repente surta à noite, e ‘ah, vamos atacar a amazônia’... o que o senhor pensa com gasto militar?” E Zé, Serra, complacente: “Não sou admirador do Chaves, se você me perguntar”. Ao que completou o expert em política internacional Datena: “Eu não gosto dele”.


De repente, num deslize mais autêntico, o apresentador se referiu a bracelete de perna. Serra e produção corrigiram, amigáveis, num sussurro, “tornozeleira eletrônica”, e a bola voltou a rolar. Então Datena abriu as reportagens para o comentário do especialista José Serra, que num momento de inocência perguntou ao apresentador em voz suave, “como você obtém essas imagens?”. O Zé Datena nem sorriu. A hipocrisia humana é ótima. Mas logo o Zé, Serra, assumiu o papel de justiceiro, perdeu a doçura, porque diante da violência das imagens de abusos de crianças, falou ao senso comum, com o reforço do preconceito e das cavernas, em técnica fascista, a premiar os instintos básicos. Repetiu conforme o script do programa: “é preciso engaiolar os bandidos", é preciso ser feroz com os "pedófilos malditos".


Então o outro Zé, Datena, expôs o seu plano de segurança para o Brasil, o maravilhoso plano que, se desse certo, acabaria com a sua profissão: Zé, o Datena, propôs que o Exército, a Marinha e Aeronáutica combatessem o crime. E didático, completou: o Exército por terra, a Marinha pela água, e a Aeronáutica, já viram, no céu, nas fronteiras do alto. A isso o candidato não se vexou, e deu a solução para a violência, contra os bandidos e malditos pedófilos. Enquanto a baixada santista se acaba em uma guerra, enquanto a embaixada dos Estados Unidos recomenda que seus cidadãos fiquem longe do paraíso paulista, Zé Serra, o justiceiro, anunciou para o Brasil a criação do Ministério da Segurança Pública. “É um compromisso”.


Resta a esperança de que um dia algum entrevistador, fora do script, pergunte a ele por que não propõe o Ministério da Cara de Pau.


*Urariano Mota é jornalista e escritor. Autor do livro "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do Cabo Anselmo, executada pela equipe de Fleury com o auxílio de Anselmo. Urariano é pernambucano, nascido em Água Fria e residente em Recife. É colunista do site "Direto da redação" e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

Só restou o conselho sugestivo



[caption id="attachment_5939" align="aligncenter" width="468" caption="Palácio do Itamaraty"][/caption]


Só restou o conselho sugestivo


Por Rui Martins (*)


Por Rui MartinsBerna (Suiça) - Esta coluna é o desabafo diante de uma falsa política da emigração tramada no Ministério das Relações Exteriores (MRE) e oferecida ao presidente Lula como correta.


Existem no mundo cerca de 3,5 milhões de emigrantes brasileiros, a crise fez diminuir um pouco esse número. Para manutenção de suas famílias no Brasil, para colocar as economias na poupança, os emigrantes mandam cerca de 7 bilhões de dólares para o Brasil. E o que o Brasil oferece em troca a esses emigrantes que na maioria eram excluídos da sociedade brasileira ?


Vocês vão rir, mas se forem emigrantes vão se revoltar e se controlar para não lascar um palavrão. O Ministério das Relações Exteriores e o Itamaraty que assumiram a adoção indevida dos emigrantes oferecem um Conselho de emigrantes de 16 membros com a finalidade de fazer sugestões ao governo em reuniões anuais, nada mais nada menos que um Conselho Sugestivo.


E vocês vão ficar ainda mais revoltados – já existem candidatos a esse Conselho Sugestivo que estão até fazendo campanha eleitoral. Para refrescar a memória – o Itamaraty organizou em 2008 a I Conferência de emigrantes e, nessa conferência, o movimento de cidadania Estado do Emigrante conseguiu um abaixo-assinado majoritário para a criação de um Conselho de Transição com o objetivo de criar um órgão institucional emigrante com parlamentares emigrantes e um conselho de emigrantes independente do MRE.


Porém, é preciso contar que os emigrantes formam hoje um enorme mercado, lucrativo, que incentiva a criação de associações, empreendimentos, mini e médias empresas, escritórios de advocacia e despachantes, empresas de remessas de dinheiro e outras de importação de produtos brasileiros mais agências de viagens e mesmo financeiras para empréstimos. Para não só falar de quem trata de questões materiais, há também os preocupados com o lado espiritual dos emigrantes e a salvação de suas almas, são as denominações religiosas católicas, evangélicas e espíritas.


Uma grande parte desses grupos não quer que o governo brasileiro assuma sua responsabilidade em favor de seus cidadãos no Exterior para continuar dependendo deles as ações juntos aos emigrantes. Então, o Conselho de Transição acabou virando conselho provisório e agora pode virar Conselho Sugestivo. Como os brasileiros gostam de festa, programa-se também todo ano uma grande festa, a Conferência Brasileiros no Mundo, na qual os representantes de alguns ministérios contam como vão as coisas com os emigrantes e, a seguir, os emigrantes podem fazer suas sugestões e tudo acaba em pizza.


Alguns querem ressuscitar o Conselho de Cidadãos, criado por FHC, e que se reunia na embaixada para se tomar um uísque e trocar vantagens com os diretores da Varig, que na época tinham prestígio, do Banco do Brasil, da Vale do Rio Doce, e mais gente fina, os VIPs, os cidadãos, bem vestidos, nada a ver com o povão. Agora, como a moda mudou, os cidadãos seriam representantes do povão, mas em número limitado e sob a batuta do Consul local, por que se não, sabe-se lá o que vão propor.


Mas a abertura termina aí. Embora Portugal e outros países tenham criado até um Ministério da Emigração, tenham parlamentares emigrantes para poderem levar ao Parlamento as reivindicações dessa população no exterior, o Brasil acha que o MRE, pelo fato de cuidar das Relações Exteriores é quem deve cuidar dos emigrantes.


Ora, a embaixada, que é um órgão de representação do Brasil no Exterior tira logo o corpo. Os embaixadores têm outras frequentações. Os emigrantes que procurem os Consulados. Mas do que cuidam os Consulados ? Dos documentos dos emigrantes, ou seja, no fundo o Consulado é um tabelionato localizado no estrangeiro. Nada mais que isso. Não pode decidir políticas.


Na verdade, embora os emigrantes vivam no Exterior fazem parte da população brasileira, são um segmento, e devem participar dos mesmos direitos e ter as mesmas responsabilidades dos que vivem na Matriz. Dado o seu grande número, o capital enviado ao Brasil e por representarem a manutenção e divulgação de nosso idioma e cultura no Exterior, esses emigrantes devem ser tratados como habitantes de um Estado localizado no exterior do Brasil.


Não precisamos ir ao exagero de organizar os emigrantes num Estado real, mas não há dúvida, eles já compõem um Estado virtual e como seus problemas e necessidades envolvem questões relacionadas com todos os Ministérios, podem ter também o status de um mini-Ministério ou Secretaria de Estado da Emigração ou fazer parte de um grande-Ministério das Migrações envolvendo a migração, a imigração e a emigração.


Esse órgão institucional, formado por emigrantes deverá decidir em Brasília as leis relacionadas com os emigrantes, apoiados em parlamentares emigrantes, eleitos pelos emigrantes.


O governo Lula, que tem acertado em diversos setores, está capenga em matéria de emigração e nossa sugestão é a de que, antes de encerrar suas atividades, dê atenção aos emigrantes, mas sem deixar que o ministro Celso Amorim fixe as regras. Amorim tem sido excelente no trato do Brasil com os outros países, mas emigração é outra coisa, envolve os outros ministros, o do Trabalho, da Educação, da Previdência, e eles deveriam também ter sua palavra.


Não se pode também esquecer que existem muitos emigrantes empresários no Exterior e que a emigração, além do seu lado social, laboral, educacional, tem o seu lado empresarial. Tudo isso reforça a necessidade de se dar autonomia e independência à política da emigração.


O governo brasileiro tem também que tomar cuidado para não deixar a emigração ficar na mão de outros. Nem religiosos nem igualmente de entidades de promoções privadas. A promoção comercial Focus Brasil, que se realiza todos os anos na Flórida, não pode substituir o Itamaraty e nem o Itamaraty pode dar a essa promoção feições de oficialidade que não tem e nem pode ter. Ou será que Focus Brasil é a continuação, em terras norteamericanas, da outra festa, na casa de Rio Branco, a Conferência Brasileiros no Mundo com seu próximo Conselho Sugestivo ?


*Rui Martins é jornalista. Foi correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. É autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criador dos "Brasileirinhos Apátridas" e da proposta de um Estado dos Emigrantes. É colunista do site "Direto da Redação" e vive em Berna, na Suíça, de onde colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, e com o blog "Quem tem medo do Lula?"

Os medíocres menos influentes do mundo


Os medíocres menos influentes do mundo


Por Raul Longo (*)


Por Raul LongoA última vez que contei, o mundo tinha aí por volta de 119 países, cada qual com suas lideranças políticas e institucionais mais ou menos influentes na região continental onde se estabelecem. De lá pra cá, algumas dessas nações se fundiram e outras se subdividiram dando origem a novos países que terão mais ou menos influência na região a que pertencem ou no mundo. Ou não terão praticamente influência alguma, nem mesmo entre seus vizinhos.


O Brasil, por exemplo, embora faça fronteira com praticamente todos os países do continente, à exceção de Chile e Equador, ao longo do século XX exerceu uma influência quase que exclusivamente cultural, por causa do samba, da mulata e do futebol.


Politicamente éramos tão frágeis quanto economicamente. Ao invés de influirmos, sempre fomos os influenciados, como no episódio da crise do México e, depois, pela da Argentina, ambos, há até 8 anos atrás os mais influentes países da América Latina.


Não se pode dizer que Argentina e México tenham sido influentes exatamente por suas lideranças políticas. O foram, muito mais, pelas condições econômicas e produtivas.


Num mundo de relações capitalistas, a produtividade de um país é muito importante na construção de sua liderança regional ou mundial. Sabendo disso, Stálin e Mao Tsé Tung trataram de revisar os conceitos socialistas e apostaram na produtividade a todo custo, inclusive de sacrifícios das sociedades russas e chinesas. Dessa forma, além de poderosos exércitos, constituíram nações economicamente ricas, ainda que o sistema comunista pelo qual se dissessem orientar se tornasse socialmente duvidoso e discutível.


Mas não foi apenas por puxar as barbas do velho Marx que Rússia e China se constituíram em grandes influências política e econômica da Europa e da Ásia. Sem dúvida, as proporções continentais desses países também contribuíram bastante, afinal, diversas outras nações que adotaram o modelo do controle estatal de produtividade acelerada em detrimento da sobrevivência e da evolução social, nunca conquistaram tamanha influência. Foram países bastante menores e sem condições de diversificar a produtividade por mais autoritárias fossem as exigências estatais.


Dois outros países, de capitalismo privado, também se tornaram dos mais influentes em todo o mundo, muito em razão de suas extensões territoriais: Canadá e Estados Unidos.


Depois desses 4 maiores países do mundo, vem o Brasil que é menor do que os Estados Unidos em cerca de 1 milhão de kms2, e, em seguida, a Austrália, por sua vez pouco menos de 1 milhão de kms2 menor que o Brasil.


A sétima maior extensão nacional do mundo é a Índia, e na Austrália cabem 2 Índias. Por fim, o oitavo país do mundo em tamanho é a nossa vizinha Argentina cuja área territorial corresponde a ¼ do território brasileiro.


Ora, se são precisas 4 Argentinas para fazer um país do tamanho do Brasil e, ao longo de todo o século XX, aquela foi a nação mais importante e influente do continente sul-americano, seria de se concluir que entre as nações isso de tamanho não é documento.


De fato, países pequenos como o Japão, um arquipélago que somando a área de todas suas ilhas talvez não chegue sequer à extensão da Ilha do Marajó, muitas vezes influenciam mais do que nações bem maiores. Mas também é verdade que das 6 maiores nações do planeta, apenas uma nunca foi influente sequer dentro de si mesma.


Sabemos que o Canadá, ainda que maior do que os Estados Unidos, nunca atingiu a pujança econômica do vizinho; mas tampouco foi um país social e economicamente subalterno, mesmo quando colônia do Império Britânico. Os canadenses sempre se mantiveram orgulhosos de suas origens e suas histórias, distinguindo-se e reafirmando-se como Canadá Francês e Canadá Britânico.


E a independência econômica, cultural e tecnológica de todo o Canadá se dá a despeito de sua exígua área produtiva. Condições climáticas glaciares o tornam um dos países de menor população do mundo, apesar de uma extensão territorial menor apenas do que a da Rússia. Essa, por sua vez, apesar de ocupar quase metade da Europa e 1/3 da Ásia, em apenas 18% de seu território é atendida por recursos hidrográficos e ¾ de sua extensão compreende a região mais fria do planeta depois dos círculos polares: a Sibéria.


O mesmo se pode dizer da Austrália, que é coberta de dunas de areia em 40% de seu território.


Apesar de ser o país mais populoso do mundo e terceiro em extensão territorial, a maior parte da China também é totalmente árida, contendo 2 dos maiores desertos do mundo: o Taklamakan e o Deserto de Gobi. Gobi possui quase a mesma extensão do maior estado do Brasil: o Amazonas.


Ludibriados pelo tzar russo, em 1867 os Estados Unidos compraram o Alasca acreditando que dali tiraria mais ouro do que o levado por Portugal das Minas Gerais. Durou pouco e hoje têm ali o maior estado do país, de onde ainda exploram recursos minerais, mas sem condições de qualquer outra produtividade mais significativa.


De toda forma, tirante o Brasil, climaticamente os Estados Unidos é o mais privilegiado entre os 6 gigantes do mundo, apesar da ampla região desértica que se estende por todo o centro-oeste do sul do país.


No entanto, a exceção que confirma a regra de soberania e influência das maiores nações do mundo, não possui sequer um deserto ou região inóspita. Quando muito, uma pequena porção semiárida além da zona da mata de seu nordeste, mas ainda assim propícia ao desenvolvimento de lavoura e pecuária. Atividades precárias nos períodos de estiagem prolongada, mas bastante peculiares e valorizadas no mercado regional.


A região de mais dificultoso acesso dessa exceção entre as 6 maiores nações em território, concentra a maior riqueza em biodiversidade do planeta e contem a maior reserva hidrográfica da Terra. Além desta, ao sul o país é beneficiado pela segunda maior bacia hidrográfica do mundo, tornando suas terras férteis em toda a extensão norte-sul e leste-oeste, e de fácil desenvolvimento agropecuário pela ausência de cadeias montanhosas.


A localização deste país-continente no hemisfério sul e sua formação longitudinal o tornam o mais favorecido pelo processo de fotossíntese entre todas as nações da Terra, das quais somente o Canadá e os Estados Unidos rivalizam em extensão de costa atlântica.


Afora os amplos potenciais para produção de energia em praticamente todas as fontes fósseis ou renováveis, o país ainda detém uma das mais diversificadas fontes minerais, inclusive dois dos maiores aquíferos subterrâneos do mundo.


As desculpas utilizadas para explicar a situação de subserviência e subjugação político-econômica deste 5º maior país do mundo, após sua independência, são insustentáveis. Uma delas, a mais preconceituosa, baseia-se no histórico de sua formação humana, como país de degredados em seu período colonial. Desde 1.770 a Austrália se tornou o destino dos degredados de todo o vasto Império Britânico.


O exemplo australiano também serve para desarticular outra desculpa esfarrapada que aponta o Brasil como uma nação muito jovem, por ter se tornado independente quase um lustro após seu correspondente em território: os Estados Unidos. A Austrália se tornou independente do Império Britânico em 1942.


Evidentemente há que se procurar em outras causas a razão de o Brasil ser a única das 6 maiores nações do mundo onde os índices humanos foram os mais baixos durante todo o século XX: maior mortalidade infantil, maior subnutrição, maior mortalidade por doenças infectocontagiosas, maior violência social nos meios urbanos, maior índice de analfabetismo, pior índice de aproveitamento escolar, maior índice de natimortos, maior número de desempregados, maior incidência de atividades informais, etc., etc., etc.


Para qualquer observador, nacional ou estrangeiro, minimamente honesto, era gritante a evidência de que um país com o tamanho e os potenciais do Brasil, só poderia apresentar tão desastrosos resultados devido a inapetência de seus administradores e a dilapidação de seus potenciais por dirigentes que vendiam o país aos interesses estrangeiros.


Sim. Aqui, outra desculpa apresentada para o atraso social do Brasil: o imperialismo dos capitalistas estrangeiros. Oras! Capitalistas de qualquer lugar do mundo exploram a qualquer país de dirigentes corruptos que se proponham a vender seus potenciais energéticos, prostituir seu povo, entregar sua capacidade produtiva para a exploração internacional, tal qual foi realizado pelas elites dirigentes do Brasil desde o início de nossa colonização por Portugal, até 2002, como um intervalo de 34 anos entre 1930 e 1964, num raro e breve período nacionalista.


Antes e depois desse período o Brasil sempre foi considerado mais uma República das Bananas, com alguma influência, talvez, sobre a economia paraguaia e boliviana, mas sem qualquer condição de concorrer com a Argentina mesmo nesses ou quaisquer outros mercados internacionais.


Os valores de nossos produtos de exportação, em grande maioria matéria prima sem qualquer beneficiamento, eram estabelecidos pelos compradores que se concentravam basicamente em um único país: os Estados Unidos.


Não tínhamos voz em qualquer organismo ou instituição internacional, em qual idioma fosse. Nossa opinião não era sequer questionada e se alguma se fizesse necessária a respeito de nossa região, não seria ao Brasil que se perguntaria e, sim, à Buenos Aires.


Éramos nada! Tão nada que nosso chanceler, o representante do Brasil perante o mundo, era tratado como suspeito nos aeroportos dos Estados Unidos, onde tinha de tirar os sapatos para ser revistado; uma afronta diplomática a qualquer governo aliado, demonstrando claramente que ninguém era aliado ao governo brasileiro ou este não era aliado a nenhum outro. Era apenas subserviente ao primeiro que lhe oferecesse mais dinheiro para manter a situação de miséria social que aumentava ainda mais nosso descrédito internacional. Éramos considerados um dos menos indicados países do mundo para qualquer outra coisa que não fosse o turismo sexual e a montagem de negociatas e trambiques de espoliação de nossos recursos e do nosso povo.


E assim, quem definia as metas, tarefas e ações daqueles governos, eram os credores. Elegíamos quem nos governaria para o FMI, para o Clube de Paris, para os interesses multinacionais.


Oito anos depois dessa crônica e secular situação de abjeta subserviência, uma publicação estadunidense aponta 25 lideranças políticas que considera as mais influentes do mundo. Há de tudo na lista: desde o presidente dos Estados Unidos que, por razões óbvias, seja quem for haverá mesmo de ser influente não por sua pessoa, mas pelo império bélico e a amplitude do mercado que governa; até uma das principais responsáveis pela derrota do partido então governista, nas últimas eleições daquele país.


Seja por qual razão for, o presidente do Brasil encabeça a lista. Deduz-se que provavelmente porque os selecionadores das 25 personalidades políticas de maior influência mundial, entenderem que Lula é o mais influente líder entre os demais apontados. A dedução é corroborada pelo texto de abertura da matéria, redigido pelo mais prestigiado jornalista norte-americano, Michael Moore, recordando, em seu texto, de como a tradicional elite político/econômica brasileira manteve uma das mais injustas e criminosas concentrações de renda do mundo, uma tradição rompida pela eleição de Lula à presidência do Brasil, apontando-o como um exemplo de governo para o próprio Estados Unidos.


Mas em verdade pouco importa se aqueles que selecionaram os 25 mais influentes líderes do mundo, consideram Lula como o mais de todos, ou o 18º ou 25º. Afinal, nunca, jamais antes ocorreria a qualquer instituição de nenhum continente, considerar um político brasileiro como alguma coisa. Brasileiro influente foi o Pelé, os Ronaldinhos. Tom Jobim por “The Girl From Ipanema” e, décadas antes, a Carmem Miranda.


Falar em presidente brasileiro era o mesmo que falar sobre nada. O mesmo que falar jornaleiro da Espanha, confeiteiro da Noruega ou encanador do Nepal. Algo como o mesmo significado e importância de escrever aqui o nome do presidente do Buzequistão, mesmo que esse país exista.


Quantas pessoas, em quaisquer dos países que nos são fronteiriços, alguma vez teve conhecimento de quem fosse o presidente do Brasil?


Apesar disso, não é que os maiores veículos de comunicação do próprio Brasil se esforçaram em informar que o Presidente Lula só encabeçou aquela lista por acaso? E não é que alguns dos meus correspondentes demotucanos caprichosamente me enviaram reproduções dos textos originados por este esforço?


Eu deveria rir do ridículo, ou me apiedar da mediocridade?


Sinceramente, não sei. Até porque, como disse um amigo -- que por sinal não é brasileiro -- tratar uma atitude dessas como medíocre é agravar o sentido da palavra.


Também não sei se Lula é realmente o líder mais influente do mundo. Mas, sem querer ofender a média da mediocridade, posso dizer que sei quem são alguns dos menos influentes medíocres do mundo.


*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis (SC), onde mantém a pousada "Pouso da Poesia". É colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

Ditadura: Página virada? Onde?

[caption id="attachment_5926" align="aligncenter" width="396" caption="Há quem queira, a todo custo, virar essa página. Mas a ditadura, para que nunca mais aconteça, não pode ser esquecida."][/caption]

Página virada? Onde?


Por Laerte Braga (*)


Por Laerte BragaA decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) preservando intocáveis os torturadores da ditadura militar que resultou do golpe de estado em 1964 não muda o caráter criminoso dessas figuras, à luz dos direitos fundamentais do homem, e nem transforma “valentes patriotas” como Brilhante Ulstra (coronel e ex-chefe do DOI CODI de São Paulo) em inocentes cumpridores do dever diante de “ameaças internacionais”.


O golpe de 1964 foi um movimento planejado, coordenado e executado a partir dos interesses norte-americanos na América Latina e especialmente no Brasil, país chave dessa parte do mundo. A maioria das forças armadas brasileiras apenas se submeteu (continua submissa) àqueles interesses e executou fielmente o que lhe fora determinado.


Dan Mitrione foi um agente da CIA. Veio ao Brasil com a tarefa de treinar militares e policiais da ditadura para reprimir reações à barbárie que tomou conta do País desde o 1º de abril de 1964. Foi um dos articuladores da Operação Condor, que juntou a repressão em todas as ditaduras latino-americanas, com ênfase no Brasil, Argentina e Uruguai para a eliminação sumária de opositores. Essas ações iam desde a tortura, sequestro, ao assassinato, passando pelo estupro.


A cumplicidade das elites brasileiras com esses crimes hediondos era plena e absoluta. Financiaram a boçalidade da ditadura (que lhe era servil). A chamada OBAN (OPERAÇÃO BANDEIRANTES) comandada pelo famigerado delegado Sérgio Fleury foi montada sob a coordenação de um empresário dinamarquês, com participação de empresas como a Mercedes, Supergasbras e os caminhões do jornal FOLHA DE SÃO PAULO (emprestava os caminhões para a desova de opositores assassinados. O documentários “CIDADÃO BOILESEN” conta essa história de vilania pura.


Os corpos eram entregues às famílias, os que foram, em caixões lacrados, com a expressa proibição de serem abertos e um laudo de “vítima de atropelamento”.


Militares argentinos e uruguaios, chilenos, que sufocaram seus países, como os brasileiros, boa parte deles está na cadeia cumprindo pena por esse tipo de crime. Aqui decidiram que vão ficar impunes. Militares e civis torturadores.


Dan Mitrione, que durante anos foi nome de rua em Belo Horizonte, na covardia e subserviência de um político sem caráter, morreu em em Montevidéu. Há suspeitas que o atual ministro das Comunicações Hélio Costa, sabidamente ligado a USAID (UNITED STATES AGENCY INTERNATIONAL DEVELOPEMENT) tenha sido seu intérprete no período que lecionou “tortura” aos militares brasileiros.


O ministro Eros Grau precisou de três horas para expor seu voto, foi o relator, tentando justificar o injustificável. O ministro Levandowsky demoliu-o ítem por ítem num voto coragem, dignidade e não importa que se diga que a decisão do STF teve o propósito de evitar uma crise política aguda envolvendo as forças armadas e o Estado.


O que são forças armadas? Estão à margem da lei, da Constituição? São intocáveis?


O que é uma sessão de tortura por exemplo. Um “patriota” tenha ele o nome de general Bandeira, ou coronel Ulstra, ou general Torres de Mello praticando violências físicas, morais e de toda a sorte contra pessoas indefesas que tiveram a coragem de se opor a uma ação militar que depôs um governo legítimo, o de João Goulart.


Quantos torturados, quantos desaparecidos, quantas mulheres estupradas, quantos inocentes,mera suspeita de contrariar a ordem vigente pela força, sofreram em mãos de criminosos travestidos de defensores da democracia e pior, da liberdade?


Uma recente entrevista do general Newton Cruz, ex-comandante militar do Planalto à época do ditador Figureiredo, há uma clara admissão que o atentado do Riocentro foi planejado para forjar uma ação “terrorista” e servir de pretexto para a continuidade do golpe um golpe dentro do golpe. É digno de ser estar nas forças armadas um oficial que tenha participado de semelhante ação?


Que espécie de patriotismo é esse?


De coragem, de bravura?


Isso tem outro nome, covardia e covardia das inomináveis, se é que covardia possa ser nominável; E se o for, nesse caso o nome é crime, é boçalidade.


A ditadura militar no Brasil e na América Latina foi um momento em que interesses norte-americanos (os EUA não são uma nação, mas um conglomerado de empresas escoradas num arsenal capaz de destruir o mundo duzentas vezes ou mais) vieram para garantir seus privilégios aqui em conluio com as elites econômicas do País, podres, sempre podres e erguidas no fausto FIESP/DASLU, ou em figuras repulsivas como hoje a senadora Kátia Abreu. O Brasil é o mais importante país latino-americano e a possibilidade real e concreta de escapar do controle dos “donos”, foi isso, movimentou os “patriotas” das nossas forças armadas, a maioria deles, sob o comando de um general com o nome de Vernon Walthers, que falava o português para se fazer entendido e bem entendido quando gritava “de quatro”.


Ficaram. Permanecem em sua grande maioria.


A decisão do STF não apaga a História e nem impede que os crimes cometidos por torturadores sejam mantidos em sigilo. O repúdio do brasileiro há que se dar pelo conhecimento do inteiro teor da estupidez dessa gente.


Nem se pode exigir muito do STF. Faltam figuras como Ribeiro da Costa, Hermes Lima, Evandro Lins e Silva, Victor Nunes Leal, Adauto Lúcio Cardoso e outros tantos que não se intimidariam, nunca, com forças armadas que se colocam à margem da lei, dos interesses nacionais e acoitam, é a palavra exata, procedimentos criminosos.


E não eram só militares. Conheci um promotor, Joaquim Simeão de Faria Filho, que presenciava sessões de tortura em sua área de atuação e depois “cantava” mulheres de presos políticos com promessas de “atenuar” as penas.


O Brasil é maior que o medo dessa gente, os ministros que votaram pela impunidade dos torturadores.


E essa não é uma página virada História. Ela há que ficar aberta para que se saiba que por trás dessa “canalhice patriótica” existem os que são capazes de sonhar e lutar por um ideal ainda que ele tenha custado a vida de muitos e muitos nos anos da barbárie militar.


É vergonhoso que torturadores se escondam atrás desse tipo de decisão. São fortes com os fracos, os que estavam presos, algemados, submissos nos cárceres, são fracos com os generais dos EUA que os mandam calar, ficar de quatro, garantir que o Brasil seja apenas um braço do império mais perverso e cruel de todos os tempos.


Ou com os empresários, os banqueiros, os latifundiários, cúmplices de uma época que não pode ser esquecida para que nunca mais se repita.


A ditadura apenas se transformou num arremedo de democracia. Tivemos Collor tentando entregar o País. FHC, o Collor II, entregando o País e agora temos a ameaça José Collor Arruda Serra.


Mais ou menos o que o general Golbery, um dos arquitetos do movimento de 64 dizia. “Sístole e diástole”. Ora de abertura, ora de fechamento, mas sempre a mesma coisa.


Ou o povo varre essa corja, ou então William Bonner, membro da corja, terá tido razão. Um bando de Homer Simpson, prontos a aceitar a coleira.


Não é o caso de muitos, de milhões e certamente seremos capazes de manifestar por todas as formas possíveis a repugnância por esse vômito chamado decisão do STF.


*Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no "Estado de Minas" e no "Diário Mercantil". É colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

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