O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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sábado, 27 de março de 2010

Lula em quadrinhos - Cap. 9 - Os anos de chumbo e a Campanha Salarial no ABC

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Esta história em quadrinhos, que foi lançada em 2002, será publicada aqui em capítulos. Tentarei manter freqüência semanal. A liberação dos direitos autorais é uma cortesia de seu autor, o cartunista Bira Dantas, hoje colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

Mídia: o eterno retorno do discurso golpista


Mídia: o eterno retorno do discurso golpista



Se para a população ficou claro que o país precisa crescer distribuindo, e, para isso, cabe ao Estado criar políticas capazes de desconcentrar a renda, os editoriais do Globo, Estadão e Folha são escritos para quem?



As recentes críticas do presidente da República à mídia brasileira devem ser lidas à luz de um recorte deontológico preciso. Se um dos compromissos fundamentais do jornalismo é a preservação da memória, a imprensa nativa tem, ao longo das últimas décadas, empregado uma estrutura discursiva recorrente para produzir esquecimento. A preocupação de Lula com o hipotético estudante que, daqui a trinta anos, se debruçará sobre mentiras quando folhear o noticiário dos grandes jornais, não só tem fundamento como deveria preocupar os historiadores. Afinal, qual será o valor dos nossos periódicos como fontes primárias de consulta? Em princípio, nenhum. Salvo se a pesquisa for sobre o discurso noticioso e os interesses mais retrógados

Ao tentar colar o rótulo de "estatistas" nas propostas estratégicas do governo, e apresentar o Partido dos Trabalhadores e a ministra Dilma Roussef como defensores de um "Estado-empresário" a mídia corporativa dá um passo a mais na escala do ridículo. Quer fazer crer que não acabou a era da ligeireza econômica, da irresponsabilidade estatal ante a economia, do infausto percurso da razão financista.

Fazendo tábua rasa das conseqüências do mercado desregulado, oculta o que marcou o governo de Fernando Henrique Cardoso: baixa produtividade e alta especulação, baixo consumo e elevadas taxas de desemprego, pobreza generalizada e riqueza concentrada. Prescreve como futuro promissor um passado fracassado. Esse é o eterno retorno dos editorialistas e articulistas de programa. Um feitiço no tempo que atualiza propostas desconectadas do contexto de origem.

Vejam a semelhança dos arrazoados. Tal como nos planos dos estrategistas do modelo de desenvolvimento implantado no país com o golpe de 1964, sem a propensão "estatizante" do governo Jango, o Brasil progrediria nos moldes do capitalismo mais antigo. Livres da intervenção do Estado na economia, da” permissão à desordem pelos "comandos de greve"- e pela” infiltração comunista”- voaríamos em céu de brigadeiro. O desenvolvimento, pregavam os editoriais escritos há 46 anos, seria ininterrupto, para todo o sempre, sem qualquer risco de fracasso. Note-se que a peroração golpista se assentava nos mesmos pilares dos textos de hoje: denúncias de corrupção, aparelhamento do Estado e criminalização dos movimentos sociais com o manifesto propósito de estabelecer uma ordem pretoriana no mundo do trabalho.

O enfraquecimento prematuro ou tardio de setores da classe dominante - com a conseqüente a crise de hegemonia política - tornava decisiva a luta pelo controle do Estado. Sob as bênçãos da maioria dos jornalões, a classe média, conduzida pelos políticos mais reacionários, pela TFP e pelas Ligas Católicas de direita, foi às ruas participar de "Marchas da família com Deus pela Liberdade".

Os resultados práticos do regime militar não demoraram a surgir: a entrada de poupança externa foi inexpressiva; não se criou indústria nacional e autônoma nenhuma; o financiamento interno serviu para o desenvolvimento das indústrias basicamente estrangeiras de automóveis e eletrodomésticos que formavam o setor dinâmico da economia brasileira, puxando o comércio, serviços e indústrias locais também vinculados a esse pólo. Ao fim, o paraíso prometido foi uma quimera cara, com uma dívida externa estimada em 12 bilhões de dólares.

Ainda assim não faltam nostálgicos,muitos alojados na ANJ e Abert, a proclamar que “vivemos um momento grave, com investidas de inimigos da liberdade de imprensa, propostas que ferem o sentimento religioso do povo brasileiro", sem falar das hostilidades aos nossos mais tradicionais aliados, com gestos generosos a caudilhos.

Falam de cercos fiscais, regulatórios e ambientais à iniciativa privada, e lamentam não haver substitutos para Oscar Correa, Silvio Heck, Odilo Denis e outros notórios golpistas. Tal como os grandes jornais que tiveram as tiragens reduzidas, as viúvas do "milagre" de Roberto Campos, Delfim Neto, Ernane Galveas e Mário Henrique Simonsen não se dão conta que não falam para quase ninguém. A reduzida base social não lhes permite margem de manobra mais ampla.

Se para a população ficou claro que o país precisa crescer distribuindo, e, para isso, cabe ao Estado criar políticas capazes de desconcentrar a renda, os editoriais do Globo, Estadão e Folha são escritos para quem? Longe de ser apenas uma questão ética, a questão social também é econômica. E o confronto com a mídia uma questão decisiva para que não tenhamos um arremedo de democracia.


Gilson Caroni Filho é sociólogo e mestre em ciências políticas. Nascido em Cachoeiro do Itapemirim (ES), mora no Rio de Janeiro, onde é professor titular de sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). É colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do blog "Quem tem medo do Lula?"


A liberação do uso da charge é uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

Um blog chamado Lucta Social

Um blog chamado Lucta Social

Por José Ribamar Bessa Freire*

Quem foi Tércio Miranda? Levanta a mão ai quem sabe! Não é nome de rua, de praça, de monumento, de hospital, não é ensinado nas escolas, e nem aparece na mídia. Caiu no esquecimento? Na lembrança oficial sim, mas não na memória subterrânea de alguns lutadores, onde sempre permanece, mesmo nesses tempos bicudos. “A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento” escreveu Milan Kundera.

Tércio Miranda, já falecido, foi um tipógrafo anarquista, que viveu em Manaus no período da borracha. Quem quiser conhecê-lo melhor e lutar contra o poder e o esquecimento, compareça no próximo dia 29, às 16 hs, na Casa do Trabalhador, Rua Marcílio Dias, onde ele vai receber uma homenagem póstuma durante o lançamento da edição especial comemorativa dos 96 anos de ‘A Lucta Social’, jornal que criou em 1914.

Naquela época, a velha ortografia colocava um “c” no meio da luta e escrevia com “ph” palavras que hoje são grafadas com “f”, como pharmácia. Dessa forma, quem falava frases com a boca cheia de farofa feita de farinha espalhava “ph” pra tudo que é lado. Uma brincadeira infantil consistia em pedir ao colega que repetisse “a mamãe é rica porque pode”, esticando os dois lados da boca com o polegar e o indicador.

Foi assim, esticando os dois lados da boca, que ‘A Lucta Social’ abriu o bocão contra os ‘phoderosos’ que ‘phodiam’ tudo: reduzir salários, demitir, aumentar a jornada de trabalho, não pagar horas extras, num momento dramático em que as plantações de borracha no Ceilão e na Malásia faziam a economia do Amazonas mergulhar numa crise profunda. Os arigós e os cabocos abandonavam os seringais e vagavam pelas ruas de Manaus, pedindo esmolas. Solidário, ao lado deles, estava Tércio Miranda.

Cadê a lucta?


Encontrei alguns exemplares desse jornal lá em Amsterdã, na Holanda, no Instituto de História Social (IISG), onde estive em maio de 1972, em companhia do historiador Victor Leonardi, ambos realizando pesquisas para o curso de pós-graduação que seguíamos na França. Quando voltei do exílio, trazia escondido uma cópia xerox de um exemplar com o carimbo: Internationaal Instituut voor Sociales Geschiedenis (IISG) – Amsterdam, que foi usada, em 1979, para editar o jornal do PT local.

Parece surrealista: um amazonense precisa ir à Holanda para conhecer um jornal de Manaus. É que na década de 1960, o IISG, preocupado com a queima de arquivos pelas ditaduras militares, percorreu países da América Latina, comprando documentação histórica de organizações, partidos, sindicatos e particulares. Formou, assim, rico acervo que está guardado num antigo armazém de cacau na zona portuária de Amsterdã, contando a história das lutas, das greves, das condições de trabalho.

Lá está o valente ‘A Lucta Social’, que traz sob o título a frase: “orgam operário livre”. Ele serviu de referência ao jornal mensal do PT no Amazonas que editamos em 1979. Com linguagem panfletária, sem prejuízo da informação, denunciamos a demissão de trabalhadores no Distrito Industrial, que haviam reclamado da comida podre servida no almoço. Não vou repetir o que aparece em artigos que estão no site Taquiprati: “Cadê a Lucta Social” (21/05/ 2006) e “A Lucta Social: 70 anos depois” (20/07/1984).

O dado novo digno de registro é que o jornal foi recriado pela quarta vez, agora em versão eletrônica (Luctasocial.blogspot.com) por Élson de Melo, “um operário lascado” – como ele se apresenta - da primeira geração do Distrito Industrial, “talvez o único operário remanescente da Diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, eleito pela Chapa Puxirum, em 1983, que não virou empresário, nem está lotado em cargo público na máquina estatal do governo Lula, Eduardo ou Amazonino”.

Convivi com Elson na época da oposição sindical. Militamos juntos no PT. Tércio Miranda diria, seguramente, que o jornal por ele fundado está agora em boas mãos. A versão eletrônica explica que Elson “aceitou o desafio de retomar a ideia gloriosa de Tércio Miranda (primeira fase), Nicoláo Imentel (segunda fase) e Ribamar Bessa (terceira fase), todos editores do jornal A Lucta Social”.


Quem somos


Li o blog, que atualiza questões vitais para a população amazonense. Discute o meio ambiente, recolhe a polêmica sobre a barragem de Belo Monte e reproduz as informações proporcionadas pelo movimento SOS Encontro das Águas. Informa sobre a Semana do Ecossocialismo, teoriza sobre a economia solidária, não deixa de fora nem temas como a poesia de Ferreira Gullar, a falta d’água em Manaus, o sistema de transporte coletivo conhecido como “estresso”, a situação dos camelôs e até as futricas e brigas internas dentro do PSOL, em reunião num porão da Rua Luiz Antony.

“Não é apenas o desafio de veicular uma nova fase do jornal que nos inquieta. O que nos leva a reeditar A Lucta Social é a falta de perspectiva na qual o Movimento Operário da Zona Franca de Manaus está mergulhado desde os grandes Movimentos Grevistas de 1985, 1986 e 1990. Principalmente quando constatamos que as atuais direções dos principais Sindicatos estão recheadas de burocratas e vendilhões dos direitos e esperanças dos trabalhadores” – escreve Elson no editorial.

Ele explica que “a nova fase do jornal A Lucta Social tem por princípio articular o movimento operário a partir do seu local de trabalho, visa orientar grupos de trabalhadores dentro de um programa de formação política e sindical voltado para o projeto estratégico do proletariado – o Socialismo – isso é, dar forma ao sonho dos criadores do jornal. Nosso objetivo é formar grupos de lutadores comprometidos com a história de transformação social”.

Os amargurados e desiludidos, que não veem mais possibilidade de mudar o mundo, acham que a luta, com “c” ou sem “c”, é coisa do passado, e que o socialismo é algo anacrônico. No entanto, a iniciativa de reeditar A Lucta Social é louvável em todos os sentidos, porque abre uma brecha de esperança e nos ajuda a saber quem, afinal, somos.

Fernand Braudel, historiador francês que não cessou de lutar, realizou pesquisas sobre o mar Mediterrâneo. Ele viveu mais de três anos no Brasil, no final da década de 1930, participando da organização da USP. Disse, com muita sabedoria: “A condição de ser é ter sido”. Cadê A Lucta Social? Está aqui, para nos dizer quem fomos e saber o que somos. A lucta continua.

*José Ribamar Bessa Freire é antropólogo, natural de Manaus e assina no "Diário do Amazonas" coluna semanal tida como uma das mais lidas da região norte. Reside no Rio de Janeiro há mais de 20 anos e é professor da UERJ, onde coordena o programa "Pró-Índio".  Mantém o blog "Taqui pra ti" e é colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

O Direito à Dignidade

O Direito à Dignidade

Por Carlos Alberto Lungarzo*

Dignidade Pessoal e DH


Os “Direitos Humanos” não são todos os direitos cujos atores (vítimas, violadores, juízes) são seres humanos. Se assim fosse, direito comercial, administrativo, aeronáutico, e todos os outros (exceto os direitos dos animais) seriam DH.

Os DH são aqueles que atingem diretamente a condição humana e que, quando violados, degradam a vítima, os algozes, e a humanidade toda. É frequente ouvir na Comunidade de Direitos Humanos que os DH são indivisíveis. Isso significa a ilegitimidade de negociar uns por outros. Um exemplo atual é oferecido pela discussão do PNDH-3. As autoridades acenam com a retirada do direito ao aborto, trocando isso pelo apóio da Igreja contra os ex-torturadores. É um cenário tão ridículo como este; imagine que o Conselho de DH da ONU propõe ao Irã: “Nós pedimos não apedrejar mulheres nem queimá-las com ácido. Mas, em troca, aceitamos que as enforquem ou decapitem.”

Esta não divisibilidade não significa que todos os DH ofereçam o mesmo grau de proteção, nem que sua violação gere os mesmos sofrimentos nem que deva ser coibida com a mesma urgência. Por exemplo, o direito a uma moradia digna é um DH em sentido estrito e não um direito econômico. Entretanto, se alguém é despejado, será menos prejudicado que se fosse torturado ou executado. Ilustro a situação com estes exemplos, mas não quero ser simplista: a determinação de uma hierarquia de DH é algo delicado, especialmente nos casos em que não existe tanta unanimidade como no tema da tortura e da pena de morte. As verdadeiras ONGS de DH desconfiam da inclusão de certos direitos entre os DH básicos, como os econômicos e o direito de voto. Nos anos 90, Anistia Internacional teve dissidências com o governo Clinton, porque este queria tornar equivalente a noção de DH com a de democracia.

Para caracterizar os DH básicos, cuja violação por um instante já é um dano humanitário, é sugestivo usar formulações negativas.

Para definir o direito à vida usa-se a expressão: “o direito de NÃO ser executado nem abandonado a condições letais”. Isto inclui a pena de morte, mas não a defesa letal contra um ataque. Para definir direito à integridade, usa-se: “o direito de NÃO ser torturado ou exposto a tratamento desumano ou degradante”. Neste caso, a proibição é absoluta: jamais pode torturar-se. O direito à liberdade é: “o direito de NÃO ser preso injustamente, nem ser impedido de adotar decisões sobre seu futuro (como pleitear divórcio ou seguir uma orientação sexual alternativa)”. O direito à dignidade (ou à integridade moral) em sua forma negativa é: “o direito de NÃO ser discriminado nem humilhado, nem escarnecido.

Desejo me referir ao direito à dignidade. Esse direito é absolutamente natural nos seres humanos e até em algumas espécies animais, que se ofendem pelo mal humor de seus patrões. A violação do direito à dignidade é mais reversível, em geral, que a violação da integridade física, e obviamente, que a morte. Deve ficar claro que os direitos à vida, à integridade, à liberdade e à dignidade atingem de maneira imediata, profunda e irreversível a natureza humana. Perder um emprego pode não ter conseqüências graves em alguns casos; ser atingido na dignidade é sempre moralmente agressivo.

Não é por acaso que estou focado neste tema. Há uma semana, Celso Lungaretti publicou uma matéria em O Rebate onde reclama contra a difamação difundida no YouTube sobre a personalidade de Carlos Lamarca e exorta à comunidade civilizada a se opor a campanhas de calúnia e ódio como as que fomentam os sites proto-fascistas.


Dignidade e Difamação


A dignidade humana exige que cada pessoa seja tratada com respeito a seus sentimentos e crenças, sem jamais ser humilhada. Durante a existência da URSS, o ataque à dignidade era frequente sob a forma de autocríticas públicas, ou de mostrar à sociedade pessoas acusadas de atos antiéticos ou antisociais.. Mesmo que não houvesse tortura, esse ataque à dignidade é um crime contra os DH. Atualmente, uma forma típica de abuso contra a dignidade é a difusão escancarada de fatos dolorosos e dramáticos, a transmissão de julgamentos quando não há um objetivo de transparência, em fim, a divulgação de aberrações para estimular a morbidez coletiva.

Não deve confundir-se dignidade com diversas formas de honra, que podem surgir do convencimento de uma suposta superioridade sobre outros humanos (honra militar, eclesial, nacional, racial, etc.). Este é um conceito discriminador, herdado das tradições teocrático-castrenses, que sacraliza certas pessoas e instituições. É comum em sociedades atrasadas, ouvir homens que falam da honra de ser “varão” ou de ter “palavra”. Este sentimento arcaico, classista e alienado é diferente do respeito à dignidade que qualquer ser humano merece, inclusive se ele próprio fosse um violador dos DH.

Para afetar a dignidade de alguém, é necessária notória intenção do autor, e também que a injúria tencione condicionar os receptores a denegrir a imagem da vítima. Deve existir, também, uma forma maciça de ataque e não apenas uma ofensa acidental.

Por exemplo, se eu fosse acusado de ter sido expulso do Colégio Militar da Argentina por falta de adaptação, não me sentiria ofendido, mas, pelo contrário, muito elogiado. Entretanto, se essa informação aparecesse num bloco de injúrias, repetidas com insistência, me imputando traição aos meus amigos, ou indiferença pela vida humana, sentiria sim que existe uma campanha contra minha dignidade.

No direito positivo, os crimes contra a dignidade são colocados no heterogêneo pacote dos “crimes contra a honra” e são objeto de ação privada ou pública condicionada. De fato, esse pacote não visa punir a violação à dignidade, mas permitir que uma pessoa injuriada, difamada ou caluniada possa pleitear uma compensação econômica. De acordo com o Código Penal, divulgar que uma pessoa emitiu um cheque sem fundo pode ser uma difamação, porque os direitos econômicos são considerados sagrados em nossa sociedade. Esta difamação pode produzir muitos transtornos burocráticos, mas não é um ataque a nossa dignidade.

Entretanto, alguém caluniado de abuso contra crianças, estaria sendo tratado como violador dos DH é, portanto, ofendido em sua dignidade. Se a acusação fosse verdadeira, só poderia ser divulgada por fortes razões de ordem social. Por exemplo, é necessário denunciar os torturadores da ditadura, mas é supérfluo difundir a autoria de um crime sem relevo social.

Pior ainda é a publicação de uma difamação onde a vítima é inocente. Muitos lembram o incidente de março de 1994, na Escola Base, do bairro de Aclimação de São Paulo. Seis pessoas foram acusadas sem provas de abuso de crianças. O delegado passou esses dados à imprensa, que os publicou. Aquela falsa acusação provocou a depredação da escola, a prisão de alguns acusados, e seu abalo moral duradouro.

Difamação e calúnia se referem a ofensas que atribuem atos contrários às leis, o que significa que o denunciado não respeita certas convenções, mas não é o mesmo que ofender sua dignidade. Durante a guerra de Vietnam, vários jovens foram tratados brutalmente por impedir a passagem de veículos de guerra. Acusar a alguém desses atos é denunciá-lo como autor de um delito em qualquer país com militares. Mas, não é um ataque contra sua dignidade, pois para todos eles foi um orgulho ter-se oposto, com alto custo, à barbárie bélica.


Dignidade e Censura


Lungaretti externa sua preocupação pelos ataques à dignidade que se produzem na Internet, onde o caos é absoluto. A denúncia é justa, mas o problema é complexo. Por um lado, os controles na Internet devem cingir-se a casos típicos de agressão à dignidade, ou de campanhas de destruição moral como a que realizam alguns sites que Celso menciona.

Por outro lado, pode surgir o risco da censura. Lembremos que um parlamentar brasileiro envolvido em alta corrupção, autor de propostas tão desvairadas como conferir ao Senado a autoridade sobre o direito de asilo, redigiu um projeto de censura na Internet. Este pretende vigiar cada usuário, sob o pretexto da proliferação de hackers e pedófilos. Na verdade, o projeto visa favorecer os cartórios virtuais e espionar os movimentos sociais.

Este tipo de controle não ameniza os ataques contra a dignidade, mas pune usuários individuais. Também, favorece a expansão das empresas na Internet, aniquilando os navegantes não comerciais. A necessidade de eliminar os grupos de ódio na rede é fundamental, mas o controle deve proteger claramente o direito a uma informação verdadeira e o respeito à dignidade das pessoas.

Por ignorância, a direita desconhece que alguns países ultrademocráticos, como a Suécia e a Noruega, possuem algum controle nesse sentido. Estas são sociedades liberais nos assuntos sexuais, no direito de crítica contra governos, e na difusão de movimentos sociais alternativos. Suécia foi o 1º país do mundo que aboliu a censura da imprensa em 1766, na chamada frihetstiden.

Entretanto, a lei sueca não permite transmitir ou postar mensagens que difundam o ódio, o racismo, a apologia da violência (mesmo oficial), nem que incutam pânico na população. Em fevereiro de 2006, a segurança sueca fechou um site fascista (Vide).

Este é um assunto para ser cuidadosamente estudado. O controle do qual falamos é uma dignificação da mídia. Não tem nada a ver com os projetos de censura dos políticos. Pelo contrário, é seu oposto estrito.

*Carlos Alberto Lungarzo é professor e escritor, autor do livro "Os Cenários Invisíveis do Caso Battisti". Para fazer o download de um resumo do livro, disponibilizado pelo próprio autor, clique aqui. É membro da Anistia Internacional e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

O bota-fora da "Folha" para Gilmar Mendes: Loas e ridículo involuntário




Gilmar Mendes e a "Folha de S. Paulo": feitos um para a outra

Por Celso Lungaretti*

O diabo às vezes é mostrado como um grande trapaceiro, noutras como um cavalheiro que honra sua palavra religiosamente (com o perdão da palavra...), tanto que a eloquência de um Daniel Webster é suficiente para salvar o pecador das chamas do inferno, ao qual se condenara quando trocou sua alma imortal por privilégios terrenos.

Inclino-me pela segunda hipótese: o que há de pior na burguesia brasileira, corporificado na Folha de s. Paulo, concede a Gilmar Mendes, à guisa de bota-fora, a exaltação mais inverossímil, descabida e absurda. Não se vexa de nos pespegar uma aberrante mentira, como pagamento pela alma do seu fiel servidor.

Parafraseando outro clássico, este da literatura infantil, podemos dizer que a Folha insiste em apresentar como suntuosa e magnífica uma toga inexistente: o magistrado está nu.

E, de todos os juízes desta Nação em todos os tempos, Gilmar Mendes foi aquele que teve a nudez mais percebida pelos cidadãos comuns -- aqueles sujeitos na esquina aos quais ele se referiu com aristocrático desprezo em certa ocasião, caracterizando-os como imbecis cuja opinião não deve ser levada em conta pelos doutos togados.

Platão pensava diferente, saudando o espírito de justiça de que até os sujeitos na esquina são imbuídos. E Jesus Cristo considerava bem-aventurados os humildes, aos quais está reservado o reino dos Céus.

O biênio de Gilmar Mendes como presidente do Supremo Tribunal Federal foi marcado pela completa submissão da Justiça aos interesses dos poderosos, deixando em cacos a credibilidade da mais alta corte do País.

"Ao transferir o cargo para Cezar Peluso, no final de abril, Gilmar Mendes ficará não apenas como um dos mais polêmicos mas também como um dos mais ativos presidentes da história do Supremo Tribunal Federal", sentencia a Folha em editorial (Gilmar Mendes).

Omite que tal atividade só foi mesmo frenética quando se tratava de expedir habeas corpus instantâneos para o corruptor-símbolo do País e de ceder à chantagem explícita estadunidense, despachando um menino a toque de caixa para alívio dos exportadores e desonra dos demais brasileiros, reduzidos a poltrões que pulam quando o cowboy dá tiros no chão.

Eis as marcas indeléveis da gestão de Mendes:


  • a criminalização dos movimentos sociais, em declarações visivelmente orquestradas com as campanhas reacionárias da imprensa golpista;
  • o alinhamento com as falácias das viúvas da ditadura, ao qualificar de "terrorista" quem resistiu à tirania, respondendo a uma frase da ministra Dilma Rousseff sobre torturadores com uma insinuação tão injuriosa quanto descabida;
  • a evidente disposição de erigir o Supremo numa alternativa de poder, contrapondo-o em tudo e por tudo ao Executivo;
  • a abusiva manutenção de Cesare Battisti como único preso político do Brasil redemocratizado por três anos já, ao arrepio da Lei do Refúgio e da jurisprudência firmada ao longo dos tempos (e desconsiderada pelo STF num julgamento kafkiano);
  • os atentados contra a profissão de jornalista, não só contribuindo decisivamente para sua desregulamentação ao relatar no STF o processo sobre os diplomas específicos, como a alvejando com outra de suas comparações estapafúrdias (a equiparação a cozinheiros), sempre trombeteadas pela mídia.

Last but not least, Gilmar Mendes será lembrado como o presidente do STF que levou um definitivo calaboca de outro ministro em plena sessão, sem que lhe ocorresse uma mísera justificativa para sua notória compulsão por holofotes.

De resto, voltando ao patético editorial, o diabo deveria ser mais comedido suas loas, para não cair no ridículo involuntário, como neste parágrafo:
"Num país marcado pela impunidade, pode soar impróprio - e é certamente impopular - defender suspeitos da sanha persecutória de setores do Estado. Mas é tarefa da Justiça fazê-lo, e Mendes cumpriu com desassombro sua função".


Só quem for capaz de acreditar em Daniel Dantas como mero "suspeito" a ser defendido da "sanha persecutória de setores do Estado" levará a sério o panegírico da Folha. É gente que crê até em ditabranda....


*Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. É paulistano, nascido e residente na capital paulista. Mantém o blog "Náufrago da Utopia", é autor de livro homônimo sobre sua experiência durante a ditadura militar e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

Show da mídia - Tem até Xuxa

Por Laerte Braga*

A autora de novelas Glória Perez, vítima de uma tragédia pessoal (a filha, atriz, foi assassinada de forma brutal e covarde), foi a São Paulo para assistir ao julgamento do casal Nardoni. Comentou o caso no Twitter e deu força ao promotor. “Não deixou pedra sobre pedra”.

Há quem diga que o empresário que se auto crucificou à porta do fórum para pedir justiça possa ter extrapolado, viva um momento de dificuldades e o seu gesto tenta chamar a atenção, essas coisas assim. Ganhar notoriedade, o show.

Não há diferença alguma entre o que o empresário e Glória Perez fizeram, exceto o destaque dado pela mídia a autora de novelas, que viveu situação semelhante. Só uma questão de tecnologia. O empresário usou um cenário barato e a GLOBO, que reproduz com destaque a presença de Glória Perez, abandonou o sentido da cruz, por acreditar que o céu seja o PROJAC.

Uma coisa é a dor de Glória Perez, outra coisa é essa dor levada a um palco sensacionalista.

Xuxa Meneghel deu seu palpite. Segundo a senhora em questão “quantas Isabelas terão que morrer para que tenhamos justiça?”. Confesso que não entendi, mas como a “rainha dos baixinhos” fez a pergunta ao lado da rainha Sílvia, da Suécia, deveria estar em alfa, numa conversa de rainhas.

São públicos e notórios os comentários, até denúncias, de maus tratos a meninos e meninas que compareciam ao programa de Xuxa naquela de ser figurante de um processo de idiotização em âmbito nacional.

Xuxa foi a escola de uma, duas gerações.

Já passa de uma centena o número de mulheres “apaixonadas” pelo promotor Francisco Cembranelli. Segundo alguns jornais, sites, blogs, as declarações surgem aos borbotões. “Estou apaixonada pelo promotor Francisco Cembranelli. Alguma outra mulher aí acha ele charmoso demais?” A pessoa se identifica num site de perguntas e respostas como Anise.

Teve resposta imediata. “Eu também me apaixonei por ele. Tudo começou depois que tive um sonho com ele, (...) foi maravilhoso. Era um beijo fervoroso, pena que eu acordei”. O nome é Lucy. Elaine Cristina foi mais contundente. “Com todo respeito você é o cara mais lindo que já vi. Pena ser casado, pois eu iria me casar com você. Te adoro e admiro seu trabalho, parabéns, adoro homens tímidos”.

E vai por aí afora.

Onde entra Isabela nisso?

Num texto atribuído ao lingüista norte-americano Noam Chomsky, um dos grandes pensadores e ativistas da atualidade (e há muito tempo), são dez as “estratégias de manipulação política”.

A “estratégia da distração”. Consiste em desviar a atenção do distinto público para o fato de diretores da ALSTOM terem sido presos na Grã Bretanha acusados de subornar políticos de vários países, entre os quais brasileiros, no caso específico, as obras do metrô de São Paulo (Alckimin, Maluf, Kassab e Serra, entre outros). Essa estratégia “impede ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia... Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais... Manter o público ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar”.

“Criar um problema para depois oferecer soluções”. “Cria-se um problema, uma situação prevista para causar certa reação no público a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar”. Fala da violência urbana, transforma a boçalidade em “mal necessário”, a dose única, do remédio único.

A “estratégia da degradação”, combinada com a “estratégia do deferido”, que consiste em fazer com que sejam aceitas condições impostas pelas elites como flexibilidade dos salários para não perder emprego (o lucro do dono aumenta), ou a aceitação de uma medida impopular num sacrifício futuro, enquanto se espera, ingenuamente, o futuro chegar. Não chega nunca.

Ah! Olha a Xuxa aí. “Dirigir-se ao público como crianças de pouca idade”. Ipsis literis o seguinte. “A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante”.

“Usar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão”. O jeito de gerar um “curto circuito na análise racional e por fim ao sentido crítico dos indivíduos. Permite “abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos, temores, compulsões, ou induzir comportamentos”. Que nem aquele do cara fissurado na moça do pedágio. Coloca em seu carro um spray especial para veículos, um cheiro de vida e pronto, a moça larga tudo e vai para o lado dele. Já notaram que ambos parecem robôs?

“Manter o público na ignorância e na mediocridade”. Pegar o rebanho e torná-lo incapaz de compreender as tecnologias e métodos utilizados para seu controle e escravidão”. Manter dessa forma as separações entre as castas que formam nossa sociedade. Ou seja, a classe média, exemplo, afunda o nariz em VEJA, na FOLHA DE SÃO PAULO e entra no cheque especial para além da conta. A sala é uma beleza, o resto... Beija mão de Ermírio de Moraes que cresce com dinheiro público e destruindo o ambiente.

O resto jogam do alto da janela de um andar qualquer de um prédio qualquer e tem o nome de Isabela, ou Maria, o nome que seja.

“Promover ao público a ser complacente na mediocridade”. Vale dizer, “achar legal o fato de ser estúpido, vulgar e inculto”. Está aí o BOPE.

“Reforçar a revolta pela culpabilidade”. O único culpado do trabalhador ser explorado é ele próprio, portanto, aceite a exploração de maneira resignada, conforme-se, um dia, quem sabe você ganha na loteria e pronto? A resignação é o caminho para cair de quatro e engolir qualquer Arruda/Serra da vida e os milhões da empresa britânica que compra políticos brasileiros, leia-se, tucanos e democratas paulistas.

E, por fim, “conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem”. A essa altura do campeonato, na décima estratégia de manipulação, já formaram o idiota perfeito, é barbada. É só abrir a porta do curral e propor casamento ao promotor.

A GLOBO é perita nisso.

Chávez é culpado, o Irã vai destruir o mundo, Fidel Castro é o “demônio”, Edir, o Macedo salva, desde que o dízimo seja pago direitinho, Bento XVI estava ao lado do padre pedófilo e não viu nada, mas escondeu os documentos. Palestinos são “terroristas” porque resistem a entregar suas terras, suas vidas ao povo superior de Israel, o MST é um “bando de desordeiros” e os pobres rapazes que assaltaram uma “vagabunda” para “limpar” a cidade de “vagabundas”, assim como o Boninho, diretor do BBB joga água suja para marcá-las, esses não podem ficar presos, afinal são filhos das elites e estudam em faculdades para aprender as leis.

Quase impossível acreditar que o casal Nardoni seja inocente. É claro que não. Mas Daniel Dantas, o banqueiro, continua solto e Gilmar Mendes apita na chamada Corte Suprema.

“O MEU DIÁRIO DE GUANTÁNAMO” é um livro escrito por Rukhsana Mahvish Khan, uma norte-americana descendente de afegãos que foi intérprete entre os soldados/torturadores dos EUA e os presos no campo de concentração de Guantánamo, base militar em território saqueado a Cuba. Ali estão depoimentos de presos sem culpa formada, sem qualquer vínculo com o “terrorismo”, por simples suspeita, todos submetidos a afogamento simulado, asfixia simulada, etc, etc, violências e humilhações de natureza sexual, a escabrosa moléstia que infecta os Estados Unidos e transforma o império numa sociedade doentia.

É o modelo que vendem para a gente.

Quando trouxe a público, em seu livro, os dados sobre o verdadeiro terror, o dos torturadores, a autora foi afastada de suas funções de intérprete. São 288 páginas de horror, de barbárie sob o patrocínio da “liberdade” e da “democracia”.

É aí que o trem complica. Isso tipo de violência não interessa a mídia. Faz com que as pessoas descubram a realidade e pensem. Se começarem a pensar e a desligar os botões dos aparelhos de tevê, dana tudo para os donos.

Já notaram que toda a incrível cobertura do julgamento do casal Nardoni interfere em tudo menos no horário do BBB?

Também de Laerte Braga leia:


*Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no "Estado de Minas" e no "Diário Mercantil". É colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

De que serve o PROUNI?

Por Raul Longo*

Grande parte de meus correspondentes são atucanados e por isso os respeito bastante, pois sei quanto já é sofrida esta condição que os frágeis estão sujeitos. Mas há também os tucanalhas e com esses não tenho respeito algum por serem os que se “oportunizam” (nunca existiu o verbo ‘oportunizar’, ao final explico as razões de utilizá-lo aqui) da inocência dos pobres atucanados que acreditam em qualquer mentira divulgada pela mídia ou pelos que a ela fazem coro.

Foi o caso de certa senhora que certa vez tentou me enganar acusando o governo Lula por reservar vagas para negros, índios e pobres mal formados pelo ensino médio ao invés de aprimorar o ensino básico, enquanto extinguira o programa de intercâmbio estudantil internacional, popularmente conhecido como Bolsa Sanduíche, impedindo seu filho de cursar ciências políticas no exterior.

Pacientemente expunha à senhora sobre a falácia que têm se demonstrado tais ciências, visível na indicação de assinaturas das tão furadas  análises que se publicam pelos veículos do PiG, quando recebo a visita do amigo Philippe Humblem, então meu vizinho (hoje de volta a sua cidade: Bruxelas). Como diretor do departamento de linguística da UFSC era um dos responsáveis junto aos órgãos federais de educação para as concessões de tais bolsas no Brasil.

Explicou a total falsidade da informação transmitida à senhora, contando se tratar de um acordo muito valorizado por todos os países a ele integrado, que inclusive justificava a sua e a presença de tantos outros acadêmicos estrangeiros no Brasil. Sair do programa seria uma resolução totalmente despropositada e inimaginável. Philippe considerou que muito provavelmente o filho não desenvolvera a contento o projeto a ser apresentado pelos solicitantes da bolsa, e indicou a obra de um acadêmico francês que ele próprio, Philippe, traduzira. Estava disponível pela internet para os interessados em orientações sobre como preparar o projeto a contento.

Transmiti o endereço indicado pelo amigo e nunca mais a senhora, de sobrenome Rossi Veríssimo, tocou no assunto de bolsas de estudo no exterior, mas, não sem razão, continuou reclamando das péssimas condições educacionais no Brasil. Só que a medida em que lhe enviava notícias sobre as reformas implementadas pelo governo Lula no tão falho e atrasado sistema de ensino no Brasil, acompanhadas de informações sobre investimentos em a criação de mais de uma centena de escolas técnicas e mais de uma dezena de novas universidades (contra zero empreendimentos do governo anterior), ela foi esquecendo completamente do assunto e passou a desqualificar os programas sociais do governo.

Considerando linhagem de seu sobrenome e a linguagem pretensamente refinada, compreendi que a mulher fosse daquelas que se entende lesada por governos que despendam qualquer esforço que não seja em benefício das classes privilegiadas, à qual se supõe mais integrada do que na realidade está. Não bem que não esteja, mas já não é tão privilegiada quantos seus antepassados nos tempos das monoculturas econômicas do Império e Velha República.

Além disso, ainda que perceptivelmente analfabeta nos demais idiomas, outra de suas mais constantes críticas e reclamações era pelo fato do nosso presidente não ser poliglota nem ter qualquer formação acadêmica.

Através do envio de cópias e traduções do noticiário internacional, evidenciei que apesar de monolíngue o Presidente Lula é honrado e homenageado em mais do dobro de todos os idiomas em que seu ídolo político é versado. Assim mesmo, em seu linguajar elitista continuou acusando o governo por promover a vadiagem através do Bolsa Família.

De nada adiantaram os tantos dados e informações que enviei para demonstrar os resultados e efeitos do programa: ascensão social das classes miseráveis, índices de redução da fome, progressiva desfiliação do programa, sensível incremento de empregos formais nas regiões mais atendidas.

Nem mesmo quando tentei puxar por seu raciocínio dentro de seu próprio universo de compreensão, não conseguiu se afastar um milímetro do próprio umbigo e não pode imaginar, como sugeri, qual não teria sido a progressão, nesta década, do já enorme crescimento da violência urbana, se a estas famílias não se desse condições de manter suas sobrevivências lá em seus rincões.

Se não se comoveu sequer com a possibilidade de livrar-se do incômodo de ter de conviver com tantos pobres, ficou sem resposta quanto as evidências de que graças a manutenção do consumo das classes mais pobres, possibilitada pelo Bolsa Família, se manteve a economia e a capacidade produtiva com consequente manutenção de empregos e fortalecimento econômico, perante a crise internacional, salvando inclusive os vícios e ócios de sua classe social.

Daí seu discurso tergiversou concentrando-se na tão hipócrita quanto em moda postura de guardiães da ética. Em resumo esses discursos se concentram na concepção de que fome, miséria, ignorância, exploração de classes, condições subumanas de sobrevivência e outras realidades não tem qualquer significado perante conceitos individuais do que sejam os valores éticos.

Invariavelmente um determinismo de mão única. Ou alguém já viu e ouviu um desses éticos de ocasião se indignar com algum daqueles que formaram a força tarefa contra o mensalão inventado pelo assumido ladrão de recursos do próprio partido: Roberto Jefferson? Alguma vez testemunharam um ético apontando ao Roberto Jefferson com a mesma ferocidade que ainda hoje apontam José Dirceu?

De Roberto Jefferson não só provou-se como ele mesmo confessou o crime cometido, mas do que acusou Dirceu nunca se provou coisa alguma e até hoje Dirceu insiste por julgamento e oportunidade de provar sua inocência. Que raio de ética é essa que condena a suposição e se cala sobre a evidência?

Já viram ou ouviram algum ético desses se pronunciar com a mesma veemência antes tão pavoneada, a respeito daquelas antigas vestais que hoje são apontadas pelos órgãos públicos por crimes reais, iguais aqueles que tantas e tão renhidas investigações não conseguiram provar?

Afinados em discurso uníssono e monocórdio, éticos provindos da direita e da esquerda continuam investindo contra personalidades que vêm, uma a uma, sendo inocentadas pelos tribunais, como nesta semana ocorreu com o ex-ministro Humberto Costa.

Sabem de algum cioso ético que questione porque o Ministro da Saúde do governo anterior jamais denunciou a Máfia dos Vampiros, como fez Humberto Costa, expondo-se a acusação de que agora é inocentado?

Sabem de algum ético que comprovando-se realmente como tal, tenha alguma vez se desculpado por um julgamento precipitado, mal informado, ou induzido? O mínimo a se esperar de um verdadeiro ético, a cada comprovação de inocência do que seu excesso de zelo condenou, é um reconhecimento e pedido de desculpas. Apesar da insistente omissão da mídia, tenho divulgado aqui esses casos recorrentes e até hoje ninguém me respondeu qualquer reconhecimento de falha ou pedido de desculpas. Será que a ética dos meus correspondentes éticos já gastou, murchou, esvaziou, descartou ou o quê?

Que éticos são esses que não atendem sequer aos princípios elementares daquilo de que se dizem defensores?

Sabem de algum que questione o porquê do senador Pedro Simon do PMDB se calar sobre as tantas acusações a governadora de seu estado, do PSDB?

Conhecem algum ético que com idênticos ímpetos tenham se pronunciado contra a delegação do governo de Santa Catarina a Leonel Pavan, envolvido em investigações de tráfico de drogas? Ôh! Mas quanto se entusiasmaram com o mesmo Pavan, quando senador, como uma das vestais das CPIs contra o governo Lula!

Até sobre o Arruda os éticos, sejam de direita ou esquerda, se calam. Não os ouço! Só um mais idiota que culpou ao Lula pela existência do Arruda que era do PSDB quando renunciou para não ser cassado por violação do painel do congresso no “ético” governo de FHC (600 processos engavetados) e foi para o DEM. Esse culpa ao PT pela raça do Bornhausen, mas mesmo os menos idiotas me surpreendem muito em suas determinações do que merece condenação pelos padrões éticos, e o que merece omissão.

Há mais de uma semana os professores do estado de São Paulo, o mais rico da nação, se envolvem em lutas campais contra a repressão policial daquele governo por salários e melhores condições de trabalho. Ainda não ouvi nem li qualquer manifestação dos céticos que tanto insistem na descrença aos resultados (de evidente longo prazo) dos programas de melhoria de ensino do atual Ministério da Educação.

Já porrada e gás em professores não merece qualquer referência do código ético?

Gilberto Dimenstein, do jornal Folha de São Paulo, tão renhido no combate ao programa de cotas e ao PROUNI, culpa estudantes e professores pela sistemática aferição dos piores resultados de aproveitamento escolar do país.

Quem faltou com a ética: Dimenstein ou os professores? Possível que seja o administrador público daquele estado?

Bem... A minha correspondência com a senhora Rossi Veríssimo escorregou do alto da ética de sua pompa e empáfia, quando me enviou antigo texto que já circulara pela internet por volta de 2005. Elogiava a autora do original em linguagem compatível com a que na época mandava o Presidente da República do Brasil se “foder”, e dessa forma a senhora revelou-se igualmente uma desqualificada como a tal outra de Cuiabá.

Apesar de todo o ódio que nos arrebatavam os tiranos nos períodos mais cruentos da ditadura, nunca descemos a linguajares tão grotescos, até pela própria incongruência que desqualifica mais ao ofensor do que a quem se pretende ofender. Daí confirmou-se o que já vinha desconfiando há algum tempo: não era, ali, uma mera atucanada.

Escondida atrás de mentiras sobre si mesma, falsos moralismos, preconceitos evidentes, oportunismos e pretensões éticas, o que se tinha era uma autêntica tucanalha. Então discorri sobre essa sua revelação demonstrando quanto, enfim, se tornava perfeitamente compreensível que seu filho não houvesse tido estofo para conquistar a bolsa de complementação de estudos no exterior.

Irada, a senhora reassumiu-se sobre os saltos altos e pretensiosamente éticos, ridiculamente inventando que o filho fora convidado para dar aulas na Inglaterra, depois de três anos de ser recusado como aluno. Pediu que a excluísse de meu caderno de endereços, o que atendi prontamente e com muito alívio. Não por mim que tenho mesmo grande paciência com os debilitados, mas por cuidados com esses meus correspondentes ainda apenas atucanados. Foi um risco de contaminação que me aliviei por desinfetado em tempo.

E aos meus atucanadinhos que faço questão de oportunizar (para rememorar a linguagem oca e ilógica da dona Veríssimo) informações como a de abaixo, colaborando assim para uma ainda possível e esperançosa convalescença de consciência e raciocínio.

*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis (SC), onde mantém a pousada "Pouso da Poesia". É colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".



25/03/2010 - 07h03

Filho de catador de garrafas ganha bolsa de mestrado nos EUA e luta para seguir estudos


Simone Harnik

Em São Paulo (UOL)
Depois de se formar em administração em Belo Horizonte, Bruno Lucio Santos Vieira, 22, ingressou no mestrado em relações internacionais na Ohio University, nos Estados Unidos. Hoje, no curso, o estudante dedica seu tempo a disciplinas como história econômica norte-americana e mercados financeiros.

A biografia resumida acima pode parecer com a de algum brasileiro bem-nascido e cheio de oportunidades. No caso de Bruno, no entanto, cada passo tem sido uma batalha: filho do aposentado Henrique Barbosa Vieira, 68, e da dona de casa Neide Lúcia Santos Vieira, 56, o rapaz concluiu a educação básica toda em escola pública, fez a graduação pelo Prouni (Programa Universidade para Todos) no Centro Universitário Una e ganhou, pelo bom desempenho, desconto para a pós-graduação.


No entanto, há um semestre na terra de Obama, e ainda que tenha a bolsa de estudos, os custos de vida têm comprometido o futuro acadêmico do jovem. A cada mês, ele fica mais 600 dólares no vermelho – o que corresponde a aproximadamente R$ 1.100. "Quando vim, não ficou claro que haveria tantos gastos, e eles comprometeram o orçamento", conta.

E a família não tem como ajudar. "Meu marido ganha um salário e meio. Acabou de passar por um câncer de próstata. Para complementar a renda, ele recolhe garrafas, e eu lavo para vendermos", diz Dona Neide, que se esforça para segurar a saudade e as lágrimas sempre que fala com o filho. "Ele é o meu caçula e toda a vida foi exemplar. Muito carinhoso. Mas estou muito triste com as dificuldades que ele está passando."


Ajuda dos novos amigos
Mesmo trabalhando para a faculdade – dentro dos limites da lei – tem sido bem difícil bater a quantia necessária a cada mês, diz o jovem.. E as economias que fez enquanto trabalhava no Brasil já se foram.

A sobrevivência tem dependido da boa vontade dos novos amigos nos EUA. Dois ucranianos e um espanhol têm financiado o aluguel e a comida para Bruno e sua mulher, Poliana. O casal ainda consegue almoçar de graça duas vezes por semana em igrejas da cidade.

O casamento, que não completou um ano terá de resistir à distância. Com a falta de dinheiro, Poliana já está de malas prontas para retornar ao país.

Nem luxo nem lixo
O mobiliário da casa que Bruno divide com os europeus recebeu vastas contribuições do desperdício ou do desapego da comunidade de Ohio. "Quando alguém nos pergunta onde compramos armário, mesas, cadeiras, sofá, sempre brinco que foi no 'Trash.com' [em inglês, "trash" quer dizer lixo]. Achamos também panela, pratos, copos, talheres", relata Bruno, que chegou a receber até doações de comida.


Primeiro da turma
Durante a faculdade, a performance do jovem foi alvo de elogios dos docentes. Segundo a coordenadora do curso de administração do Una, Christiana Metzker Netto, ele "tem muito potencial".


"Bruno teve 94 pontos [em cem] de média geral. Tirou de letra a faculdade e foi um aluno exemplar. No trabalho final, tirou 99 pontos – e as médias costumam ser bem mais baixas", revela. "O curso também pede 60 horas de atividades complementares, que os alunos demoram a cumprir. Bruno fez 255 horas".

O empenho rendeu troféu de melhor aluno do curso, mas não foi suficiente para garantir a estadia no mestrado. E o rapaz tem recorrido ao seu passado acadêmico para buscar auxílio – concorre a novas bolsas, ainda sem certezas..
O mais jovem de cinco irmãos, primeiro a se formar na faculdade e a ir ao exterior, é admirado pela família e espera voltar com o mestrado concluído. "Todo herói tem de ter um pouco de louco, tem de arriscar. Pensei que essa podia ser a minha única chance de continuar estudando", diz.

Sobre os "neonacionalistas de tribuna com suas pregações"

Mau sinal


Por Paulo Passarinho*, no site da "Fundação Lauro Campos"

Nunca antes neste país tantos se manifestaram em defesa dos interesses da população e do Brasil.

A responsabilidade por tal mudança na postura de inúmeros políticos foi a aprovação, pela Câmara de Deputados, da chamada emenda Ibsen Pinheiro.

A distribuição dos royalties do petróleo, de uma forma distinta da praticada até aqui, nas áreas já licitadas, e a mudança na forma acordada entre vários atores políticos para a distribuição dos royalties da área do pré-sal abriu a temporada dos neonacionalistas de tribuna, com suas pregações.

Na verdade, essa extrema ênfase em torno da discussão sobre os possíveis futuros rendimentos do pré-sal - sob a forma dos royalties, que contemplariam a União, estados e municípios - apenas evidencia a miopia e o oportunismo da esmagadora maioria dos dirigentes políticos.

A maior vantagem - potencial - que a descoberta do pré-sal nos lega é a possibilidade não somente de uma perspectiva segura de nos tornarmos auto-suficientes em petróleo, mas o impulso virtuoso que poderemos provocar em vários segmentos da economia brasileira e o avanço qualitativo nas políticas de natureza social.

Mas, tudo isso dependerá da real autonomia que o Estado brasileiro - particularmente através da União - passará a ter, a partir da posse, de fato, do petróleo que vier a ser retirado das profundezas da camada do pré-sal.

E esta é uma questão que se encontra aberta.

Se predominar uma visão de rápida utilização desse petróleo, sob a forma de recursos líquidos a serem investidos em toda e qualquer carência identificada como prioridade - e como existem carências! -, o caminho a ser adotado será a de uma rápida exportação dessa riqueza. Um processo desse tipo provocaria uma brutal e inevitável valorização da moeda nacional - dado o volume da entrada de divisas no país -, e o comprometimento inevitável de qualquer perspectiva de desenvolvimento industrial de empresas brasileiras, visando gerar tecnologia, empregos de qualidade, renda e riqueza, dentro de nossas fronteiras.

Perderíamos, também, a oportunidade de avançar na pesquisa e desenvolvimento de novas formas de geração de energia, compatíveis com as preocupações mais do que justas com os impactos que o meio-ambiente sofre com o atual padrão tecnológico de produção, incluindo as formas tradicionais de geração de energia, que hoje consideramos como economicamente viáveis.

Portanto, existe de fato uma imensa possibilidade de mudança profunda e extremamente vantajosa para os rumos do desenvolvimento do país. Contudo, uma das condições para que todas essas possibilidades se realizem está relacionada ao efetivo controle que teremos sobre essa riqueza. E controle, no caso, significa propriedade do óleo a ser produzido.

A atual lei do petróleo, promulgada no governo de FHC, concede a propriedade do petróleo - que constitucionalmente é da União - às empresas ou consórcios formados para arrematar blocos de exploração, colocados à venda dos interessados, através de leilões patrocinados pela ANP - Agência Nacional de Petróleo.

Sob os auspícios dessa nova lei, quase 30% da própria área do pré-sal já foram licitados. O prejuízo somente não é maior, porque a própria Petrobrás foi a empresa mais beneficiada nesse processo, arrematando a maior parte dos blocos leiloados - através de participações exclusivas ou em consórcio com outras empresas.

A área do pré-sal ainda precisa ser mais bem definida, bem como ter a suas reservas estimadas com mais precisão. O que existe hoje são estimativas que carecem de melhor conhecimento detalhado. Considera-se - excluindo-se as complexidades relacionadas à produção e exploração dessas reservas, que se encontram em alta profundidade e após uma extensa camada de sal submarino - que essas áreas assegurariam a garantia de retorno seguro para quem se dispuser a explorá-las.

Foi em decorrência dessa situação que o governo Lula enviou um conjunto de quatro diferentes projetos de lei ao Congresso Nacional, visando definir um novo marco regulatório para a área do pré-sal, diferente do que existe hoje, para a área do chamado pós-sal.

Porém, como é uma característica do estilo do governo Lula, o modelo de partilha apresentado guarda uma enorme preocupação em manter aberta a possibilidade de empresas privadas e estrangeiras terem acesso à possibilidade de exploração desse filão. É verdade que a Petrobrás sai fortalecida, de acordo com essas propostas enviadas pelo Executivo federal ao Congresso, seja pelo objetivo de capitalização da empresa, seja pelo papel a ela destinado, que passa a desempenhar a função de operadora única e exclusiva dos campos a serem licitados na área do pré-sal.

Porém, os leilões estão mantidos e as atuais regras para a exploração de petróleo em áreas que não sejam do pré-sal ficam inalteradas. Mais grave: uma emenda incluída no projeto aprovado na Câmara - de autoria do próprio relator do projeto que propõe o regime de partilha, Deputado Henrique Alves, do partido de Sergio Cabral Filho e aliado do presidente Lula - determina que os consórcios do pré-sal sejam ressarcidos, em óleo bruto, pelas despesas que terão com o pagamento de royalties.

O pagamento dos royalties, que é uma espécie de imposto, cobrado para compensar regiões produtoras dos impactos que a produção de petróleo provoca, passa, assim, a ser considerado uma despesa operacional - da mesma forma que os custos de extração, que também serão pagos aos consórcios produtores em óleo.

A AEPET - Associação dos Engenheiros da Petrobrás - vem denunciando essa medida e apontando que, a se manter esse esquema de partilha, a participação real da União, na divisão do petróleo que vier a ser retirado do pré-sal, vai ficar em uma proporção equivalente a apenas 29,4% do total extraído.

A simulação da AEPET trabalha com o preço do barril a US$ 70, com um custo total de produção estimado em US$ 30, por barril, e a parcela de participação da União, no óleo lucro, de 70%. Com essas variáveis, a Petrobrás - como operadora única dos campos - ficaria com 21,2% do óleo extraído e a empresa(s) líder do consórcio com 49,4% da produção!

Vejam, portanto, como é falaciosa a postura dos governantes que - em torno da "batalha dos royalties" - se arvoram em defensores do interesse público. Promovem um debate estéril, histérico e precipitado pela divisão do montante de recursos financeiros, equivalentes a 15% da produção, relativos ao pagamento dos royalties, enquanto que, pela fórmula engendrada na Câmara, empresas líderes dos consórcios poderão ficar de posse de quase 50% do petróleo do pré-sal.

Trata-se de um mau sinal de que como vão as coisas sendo discutidas, no meio do oba-oba que a descoberta do pré-sal provocou.

E mostra, também, que o suposto desvio nacionalista da proposta do governo - segundo a ótica oportunista daqueles que defendem a privatização do petróleo brasileiro, garantido de forma absoluta pela lei de FHC, a do regime de concessões - precisa ser também melhor avaliado.

Afinal, nacionalismo não combina com leilões, nem com a entrega do óleo bruto a empresas privadas e estrangeiras, nem tampouco com a manutenção da própria lei das concessões para a área do pós-sal.

*Paulo Passarinho é economista e presidente do CORECON-RJ.
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