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A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Lula visita Fidel em Cuba e diz que "o amigo está fisicamente bem e com a cabeça boa"

[caption id="attachment_4415" align="aligncenter" width="468" caption="Fidel Castro e Lula conversam durante a visita do presidente brasileiro à capital cubana Foto: Ricardo Stuckert/PR/Divulgação"]Fidel Castro e Lula conversam durante a visita do presidente brasileiro à capital cubana Foto: Ricardo Stuckert/PR/Divulgação[/caption]

Lula diz que "amigo" Fidel está física e mentalmente bem


Por Laryssa Borges, direto de Havana para o Portal Terra

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por um longo período nesta quarta-feira com o líder Fidel Castro, afastado do poder em Cuba desde julho de 2006. Em sua casa, na capital Havana, Fidel recebeu Lula e o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, além de seu irmão e atual presidente Raúl Castro. No encontro, o presidente disse que o amigo Fidel está "fisicamente bem, a cabeça boa, pensando bem a questão da política."


Em uma conversa de cerca de duas horas e meia, o cubano apresentou um bom estado de saúde, bem diferente do apresentado em outubro de 2008, quando o comandante cubano estava em uma casa de repouso com condição frágil de saúde.


"(A conversa com Fidel) foi importante. Eu fiquei feliz porque o presidente Fidel Castro está melhor do que da última vez que eu o visitei. Obviamente que as questões políticas que eu tinha que conversar são com o presidente Raúl (Castro, irmão e sucessor de Fidel), não é com o Fidel, porque a minha reunião com ele foi mais uma reunião de velhos amigos, de velhos companheiros", disse Lula.


Conforme afirmou o presidente, entre os temas discutidos com Fidel estão "coisas do Brasil" e processos de cultura de cana-de-açúcar, soja, leite e projetos voltados à eletricidade.


Para a Presidência da República, o encontro entre Lula e Fidel reflete "uma reunião de amigos" e "uma visita de conclusão desse ciclo de visitas" que Lula já realizou à ilha caribenha. Desde 2003, já foram quatro viagens oficiais do presidente brasileiro a Cuba.

Chávez propõe que Lula lidere novo fórum latino-americano

[caption id="attachment_4410" align="aligncenter" width="260" caption="Lula é elogiado na cúpula"][/caption]

Chávez propõe que Lula lidere novo fórum latino-americano


Do Portal Vermelho


O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, propôs nesta terça que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva dirija a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que vai reunir 33 países da região. A indicação foi feita no fim da cúpula dos membros do Grupo do Rio, no México, onde o Brasil foi extremamente elogiado e até apontado como "líder regional indiscutível". O presidente anfitrião, Felipe Calderón também sugeriu o nome de Lula para liderar o novo fórum.


Em entrevista à rede de televisão "CNN", Chávez revelou que a proposta de que Lula comande a Celac foi feita "meio em tom de brincadeira e meio a sério, pois Lula vai ficar desempregado" quando deixar a presidência em janeiro. "Mas no fundo é sério. Lula tem grandes condições, tem uma grande experiência, é um homem honesto, transparente, amigo de todos, capaz de escutar a todos", disse Chávez.


Ele afirmou que, ao ouvir a proposta, Lula "estava rindo". O líder venezuelano disse ainda que o brasileiro pediu para ele chegar "mais cedo" em sua próxima reunião bilateral, mês que vem, em Brasília, para falar de "política do futuro".


Em outro momento, o presidente do México também sugeriu que Lula deveria dirigir o novo fórum. "O presidente Lula é o líder indiscutível de nossa região, que dá equilíbrio e força à América Latina", disse Felipe Calderón.


O mexicano seguiu fazendo elogios efusivos ao presidente Lula. "O Brasil é nosso maior país, que tem mais território, mais habitantes, também teria de ter forçosamente um grande presidente", afirmou, diante de aplausos dos chefes de Estado presentes à reunião de cúpula dos países latino-americanos e do Caribe. À noite, ele deu mais um indicativo de que deseja que Lula assuma a liderança do grupo, ao expressar seu desejo de seguir compartilhando espaços de debate e foros diplomáticos com Lula, mesmo após a sua saída da presidência.


Os líderes reunidos durante dois dias no balneário de Playa del Carmen, no Caribe mexicano, aprovaram dez declarações, entre as quais se destaca a criação do novo organismo "como um espaço regional próprio que una a todos os estados".


A intenção é que esta entidade, que deve estar totalmente formada nas cúpulas da Venezuela (2011) ou do Chile (2012), assuma o "patrimônio" do Grupo do Rio e da Cúpula da América Latina e do Caribe (CALC). O novo fórum, que não contará com a presença de Estados Unidos e Canadá, deve servir de contraponto à Organização dos Estados Americanos (OEA), que foi alvo de críticas do próprio Lula, nesta terça.


Críticas à OEA


O brasileiro condenou ontem a entidade e o seu Conselho de Segurança por não se posicionarem em favor da soberania das Ilhas Malvinas pela Argentina. "A nossa atitude é de solidariedade à Argentina", disse Lula, que indagou: "Qual é a explicação geográfica, política e econômica de a Inglaterra estar na Malvinas? Qual é a explicação de as Nações Unidas nunca terem tomado essa decisão? Não é possível que a Argentina não seja dona (das Malvinas), mas que seja a Inglaterra, a 14 mil quilômetros de distância."


Lula insinuou que a ONU age dessa forma porque a Grã-Bretanha é membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e voltou a defender uma reformulação do organismo, ampliando sua representatividade.


"É inexorável que a gente discuta este papel (do Conselho de Segurança). Não é possível que ele continue representado pelos interesses da 2ª Guerra. Por que isso não muda?", questionou. E apelou: "Se nós não enfrentarmos este debate, a ONU vai continuar a funcionar sem representatividade e o conflito no Oriente Médio vai ficar por conta do interesse dos norte-americanos quando, na verdade, a ONU é que deveria estar negociando a paz no Oriente Médio."


Apoio para Argentina e Cuba


Os 32 países da América Latina e do Caribe reunidos na Cúpula do Grupo do Rio aprovaram ainda por unanimidade a reivindicação da Argentina pela soberania sobre as ilhas Malvinas (Falkland), em cujas águas uma companhia britânica começou a explorar hidrocarbonetos.


O ministro das Relações Exteriores argentino, Jorge Taiana, disse que seu país conseguiu "um importante respaldo diplomático" ao ampliar e aprofundar a reivindicação pela soberania sobre as Malvinas, que estão nas mãos do Reino Unido desde 1833 e foram motivo de guerra entre os dois países em 1982.


A Declaração do Grupo do Rio sobre a 'Questão das Ilhas Malvinas' expressa o apoio dos chefes de Estado da região "aos legítimos direitos" da Argentina na disputa com o Reino Unido pela soberania sobre o arquipélago.


Os líderes pedem que os Governos dos dois países "retomem as negociações a fim de encontrar o mais rapidamente possível uma solução justa, pacífica e definitiva na disputa pela soberania sobre as ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul e seus espaços marítimos circundantes, em conformidade com as resoluções e declarações pertinentes das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos".


Segundo a declaração, os líderes "expressam, além disso, em relação ao Tratado de Lisboa, que modifica o tratado da União Europeia (UE) e o Tratado Constitutivo da Comunidade Europeia, que a inclusão das ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul no regime de 'Associação dos Países e Territórios de Ultramar' é incompatível com os legítimos direitos" da Argentina e com a "existência de uma disputa pela soberania sobre estes arquipélagos".


O comunicado especial aprovado pelos presidentes sobre a prospecção de hidrocarbonetos na plataforma continental, iniciada nesta semana pelos britânicos, aponta que os líderes lembraram a resolução das Nações Unidas. A ONU pediu às duas partes para que se abstenham de adotar decisões que levem à introdução de modificações unilaterais na situação das ilhas.


Os líderes latino-americanos também assinaram uma resolução condenando o bloqueio norte-americano contra Cuba. Vários dos presidentes se dirigiram ao plenário para expressar seu repúdio a essa política de Washington; entre eles Leonel Fernández, da República Dominicana, que também pediu a abolição da Lei Helms-Burton, como fez o líder da Nicarágua, Daniel Ortega.


Uribe, sempre a exceção


O momento dissonante em relação ao clima de unidade e integração vivenciado na cúpula regional foi um novo ataque do presidente colombiano Álvaro Uribe em relação à Venezuela de Hugo Chávez. Uribe acusou Chávez de promover um suposto bloqueio comercial contra seu país, chegando a agredir verbalmente o mandatário. O venezuelaeno, por sua vez, atribui a investida a uma tentativa de atrapalhar a constituição do novo fórum regional.


O presidente boliviano, Evo Morales, também compreendeu desta maneira e afirmou que Uribe provocou a discussão buscando o fracasso do evento. Ele acusou o colombiano de ser um agente dos Estados Unidos.


"Qual a minha conclusão? Como neste evento, na Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe, viemos debater uma nova organização sem os Estados Unidos, os agentes dos Estados Unidos estão tentando atolar e fracassar (a criação do novo organismo)", disse Morales.


O entrevero dirante a cúpula teve um resultado prático: a criação de um grupo de países latino-americanos que buscará uma mediação para os atritos diplomáticos e comerciais entre Colômbia e Venezuela. A República Dominicana vai liderar tal comissão.


Os dois países estão com as relações rompidas desde julho, quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, contestou um acordo militar entre Bogotá e Washington e, como represália, determinou o corte de importações do país vizinho.


"Abrimos um espaço no marco desta Cúpula da Unidade a fim de auxiliar a dirimir as diferenças entre países irmãos de uma maneira razoável, neste caso concreto o Grupo de Amigos de Colômbia e Venezuela estará presidido pelo presidente da República Dominicana, Leonel Fernández", disse Felipe Calderón.

O Holocausto e o mistério do ser humano


O Holocausto e o mistério do ser humano


Por Maria Clara Bingemer*, no JB de 15/02

Em 27 de janeiro de 1945 – portanto há 65 anos – foram abertos os portões do campo de concentração nazista da cidade polonesa de Oswiecim, conhecida pelo nome alemão Auschwitz, e libertados os poucos sobreviventes.


Auschwitz começou por ser um campo de concentração para prisioneiros políticos, para exatamente um ano depois, em 1941, transformar-se num campo de extermínio principalmente de judeus mas também de ciganos, prisioneiros de guerra, em especial russos, e homossexuais, através das câmaras de gás então instaladas, que liberavam o temível gás zyklon b, o qual asfixia em poucos minutos. Os corpos eram posteriormente incinerados em massa para não deixaremvestígios. Outra equipe, sob a chefia do médico Josef Mengele, submetia aqueles que não eram executados imediatamente a inumanas experiências em laboratórios assassinos.


Elie Wiesel, famoso escritor e pensador judeu, narra sua experiência de sobrevivente em seu livro Noite. Desnutrido, magro, quase morto, foi resgatado e levado a um hospital.


Ali passou mais de um mês entre a vida e a morte.


Quando pela primeira vez conseguiu levantar-se e ir até o banheiro, olhou-se no espelho.


Quem o olhava era um cadáver, irreconhecível. Vendo esse arremedo de si próprio, fantasma que não parecia ter forma humana, Wiesel diz nunca haver experimentado sensação igual.


Na celebração dos 65 anos, em discurso emocionado diante do Bundestag, o Parlamento alemão, o presidente de Israel, Shimon Peres, que perdeu quase toda a família no Holocausto, pediu a condenação de todos os envolvidosno extermínio de judeus naquele período.


– Aos poucos, os sobreviventes do Holocausto estão morrendo, mas ao mesmo tempo homens e mulheres que participam do pior dos atos – o genocídio – continuam vivendo na Alemanha, na Europa e em outras partes do mundo – declarou Peres.


O que horroriza mais quando se fala do Holocausto é justamente a configuração de frio planejamento, de estudada estratégia, de lento e progressivo trabalho do ser humano para exterminar e levar à morte irremissível seus semelhantes.


Sessenta e cinco anos após a libertação de Auschwitz pelo Exército russo, em 27 de janeiro de 1945, data escolhida como Dia do Holocausto, há ainda quem hoje ouse esquecer, escamotear, negar, ou minimizar o brutal genocídio cometido pelo regime nazista. Por isso, importa fazer memória, denunciar e não deixar de recordar.


O ser humano é a mais bela e querida criatura de Deus. É capaz de compor sinfonias, poesias.


É capaz dos gestos oblativos mais heroicos em favor dos outros.


Muitos destes gestos foram perpetrados durante a própria Shoa. Basta recordar o pastor Dietrich Bonhoeffer, que em lugar de compor com os membros de sua Igreja que faziam vista gorda para o Führer entrou em um grupo que denunciava as arbitrariedades do nazismo e acabou preso e enforcado. Ou o frade franciscano Maximiliano Kolbe, que se ofereceu para ir para a câmara de gás no lugar de um chefe de família, pai de nove filhos. Ou a jovem judia holandesa Etty Hillesum, que se apresentou voluntariamente no campo de Westerbok, na Holanda, declarando desejar “ajudar a Deus e ser um bálsamo para as feridas de seu povo”, sendo posteriormente executada na câmara de gás em Auschwitz.


Mas esse mesmo ser humano é capaz de horrores insuspeitados.


Enquanto no mundo animal a lei do mais forte prevalece e mata para satisfazer necessidades como a fome, en-tre os seres humanos acontecem coisas como a tortura, a morte lenta e com requintes de sadismo, ou genocídios planejados nos mínimos detalhes como o Holocausto nazista.


O horror do que o homem é capaz deve ser recordado e ensinado, para que as novas gerações saibam que a capacidade e a possibilidade de praticar o mal é intrínseca a todo o ser humano.


É o preço de sua criação em liberdade. Porque é livre, o ser humano pode escolher, e muitas vezes escolhe o mal.Afé cristã nos diz, no entanto, que a graça de Deus se sobrepõe e é maior e mais poderosa do que o mais hediondo dos crimes e dos pecados. Mas, enquanto isso, é importante não esquecer. Recordar para não repetir. Relembrar para purificar a memória e reconciliar mentes e corações.


*Maria Clara Bingemer é teóloga, professora, decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio e autora de ’Deus amor: graça que habita em nós’ (Editora Paulinas), entre outros livros.

Quantos Haitis?


Quantos Haitis?


Por José Saramago, em seu blog "O caderno de Saramago"


No Dia de Todos os Santos de 1755 Lisboa foi Haiti. A terra tremeu quando faltavam poucos minutos para as dez da manhã. As igrejas estavam repletas de fiéis, os sermões e as missas no auge…


Depois do primeiro abalo, cuja magnitude os geólogos calculam hoje ter atingido o grau 9 na escala de Richter, as réplicas, também elas de grande potência destrutiva, prolongaram-se pela eternidade de duas horas e meia, deixando 85% das construções da cidade reduzidas a escombros.


Segundo testemunhos da época, a altura da vaga do tsunami resultante do sismo foi de vinte metros, causando 600 vítimas mortais entre a multidão que havia sido atraída pelo insólito espectáculo do fundo do rio juncado de destroços dos navios ali afundados ao longo do tempo..


Os incêndios durariam cinco dias. Os grandes edifícios, palácios, conventos, recheados de riquezas artísticas, bibliotecas, galerias de pinturas, o teatro da ópera recentemente inaugurado, que, melhor ou pior, haviam aguentado os primeiros embates do terremoto, foram devorados pelo fogo.


Dos 275 mil habitantes que Lisboa tinha então, crê-se que morreram 90 mil. Conta-se que à pergunta inevitável “E agora, que fazer?”, o secretário de Estrangeiros Sebastião José de Carvalho e Melo, que mais tarde viria a ser nomeado primeiro-ministro, teria respondido “Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”.


Estas palavras, que logo entraram na História, foram efetivamente pronunciadas, mas não por ele. Disse-as um oficial superior do exército, desta maneira espoliado do seu haver, como tantas vezes acontece, em favor de alguém mais poderoso.


A enterrar os seus cento e vinte mil ou mais mortos anda agora o Haiti, enquanto a comunidade internacional se esforça por acudir aos vivos, no meio do caos e da desorganização múltipla de um país que mesmo antes do sismo, desde gerações, já se encontrava em estado de catástrofe lenta, de calamidade permanente.


Lisboa foi reconstruída, o Haiti também o será. A questão, no que toca ao Haiti, reside em como se há-de reconstruir eficazmente a comunidade do seu povo, reduzido não só à mais extrema das pobrezas como historicamente alheio a um sentimento de consciência nacional que lhe permitisse alcançar por si mesmo, com tempo e com trabalho, um grau razoável de homogeneidade social.


De todo o mundo, de distintas proveniências, milhões e milhões de euros e de dólares estão sendo encaminhados para o Haiti.


Os abastecimentos começaram a chegar a uma ilha onde tudo faltava, fosse porque se perdeu no terremoto, fosse porque nunca lá existiu.. Como por ação de uma divindade particular, os bairros ricos, em comparação com o resto da cidade de Porto Príncipe, foram pouco afectados pelo sismo.


Diz-se, e à vista do que aconteceu no Haiti parece certo, que os desígnios de Deus são inescrutáveis. Em Lisboa as orações dos fiéis não puderam impedir que o teto e os muros das igrejas lhes caíssem em cima e os esmagassem.


No Haiti, nem mesmo a simples gratidão por haverem salvo vidas e bens sem nada terem feito para isso, moveu os corações dos ricos a acudir à desgraça de milhões de homens e mulheres que não podem sequer presumir do nome unificador de compatriotas porque pertencem ao mais ínfimo da escala social, aos não-ser, aos vivos que sempre estiveram mortos porque a vida plena lhes foi negada, escravos que foram de senhores, escravos que são da necessidade.


Não há notícia de que um único haitiano rico tenha aberto os cordões ou aliviado as suas contas bancárias para socorrer os sinistrados. O coração do rico é a chave do seu cofre-forte.


Haverá outros terremotos, outras inundações, outras catástrofes dessas a que chamamos naturais. Temos aí o aquecimento global com as suas secas e as suas inundações, as emissões de CO2 que só forçados pela opinião pública os governos se resignarão a reduzir, e talvez tenhamos já no horizonte algo em que parece ninguém querer pensar, a possibilidade de uma coincidência dos fenômenos causados pelo aquecimento com a aproximação de uma nova era glacial que cobriria de gelo metade da Europa e agora estaria dando os primeiros e ainda benignos sinais.


Não será para amanhã, podemos viver e morrer tranquilos. Mas, di-lo quem sabe, as sete eras glaciais por que o planeta passou até hoje não foram as únicas, outras haverá.


Entretanto, olhemos para este Haiti e para os outros mil Haitis que existem no mundo, não só para aqueles que praticamente estão sentados em cima de instáveis falhas tectônicas para as quais não se vê solução possível, mas também para os que vivem no fio da navalha da fome, da falta de assistência sanitária, da ausência de uma instrução pública satisfatória, onde os fatores propícios ao desenvolvimento são praticamente nulos e os conflitos armados, as guerras entre etnias separadas por diferenças religiosas ou por rancores históricos cuja origem acabou por se perder da memória em muitos casos, mas que os interesses de agora se obstinam em alimentar.


O antigo colonialismo não desapareceu, multiplicou-se numa diversidade de versões locais, e não são poucos os casos em que os seus herdeiros imediatos foram as próprias elites locais, antigos guerrilheiros transformados em novos exploradores do seu povo, a mesma cobiça, a crueldade de sempre.


Esses são os Haitis que há que salvar. Há quem diga que a crise econômica veio corrigir o rumo suicida da humanidade. Não estou muito certo disso, mas ao menos que a lição do Haiti possa aproveitar-nos a todos.


Os mortos de Porto Príncipe foram fazer companhia aos mortos de Lisboa. Já não podemos fazer nada por eles. Agora, como sempre, a nossa obrigação é cuidar dos vivos.

Charge do Bira

Ubiratan Dantas (ou simplesmente Bira) é um cartunista, chargista, quadrinhista e ilustrador paulistano. Colabora com o blog “Quem tem medo do Lula?”.

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