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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Se um brasileiro descer num disco voador


Se um brasileiro descer num disco voador

Ao desembarcar ele perguntaria se não se enganou de tempo, lugar ou planeta, pois parecia ter havido mudança na renda dos antigos brasileiros, e para melhor.

Por Urariano Mota (*)

 
Recife (PE) - O que faria um brasileiro de volta ao Brasil, depois de anos em outra estrela ou planeta?  Vamos supor que voltasse pelo aeroporto. A primeira coisa que perguntaria era se não se enganou de tempo, lugar ou pouso. Em vez de aeroporto, não teria pousado em uma estação rodoviária? Avião teria virado ônibus? Pois  espantado e com espanto veria a cara dos que embarcam ou desembarcam. Que é isso? Entre pessoas educadas, aquelas que se distinguem pela altura da voz, tom,  palavras, roupas, modos, cor da pele e, até, um certo ar no andar, veria gente, gentinha, sem modos e classificação. Ali, na mesma fila das melhores, por tradição, gente, descobriria pessoas, pois, por todas as condições do esqueleto nos raios x deviam ser pessoas, enfim, veria indivíduos com caras de subalternos ao lado de pessoas de terno laptop e revista Veja. Que constrangimento. Como podem viver tais dessemelhantes lado a lado?

Talvez acasos do aeroporto nessa hora e semana, pensaria. Então ele, entre absorto e tonto, sentaria no restaurante e pediria uma cerveja. Mas pediria aos gestos e voz de comando, como antes, do antes de sua partida do Brasil. Pois não é que, ao ser atendido, ele notaria que na expressão do antigo e servil empregado existe agora uma feição de contrariedade? Algo como, digamos, “o senhor não é melhor que eu, por que me trata dessa maneira?”. E como o jovem, ou a jovem, abusada ou abusado, já se vê,  conduzia também facas e garfos, ele daria uma gradação mais suave à sua maneira de terráqueo brasileiro de antes. Que constrangimento.  Como é possível que pessoas diferentes recebam trato de remoto semelhante?   

Então ele, antes de ganhar a rua, passaria na revistaria, ou banca de revista, como se diz no Recife. Ah, que bom, o brasileiro que voou para outra estrela e volta notaria que as revistas e jornais são tão boas quanto antes. As capas, mais coloridas, as caras da melhor cara mais bonita, os anúncios dos carros mais avançados, as colunas para a gente que vive na Europa e por acaso habita no Brasil continuam. Aqui o tempo não passou, pensa. É o bom Brasil de antes. E ganharia a rua, pelo caminho do táxi. A outra surpresa é o motorista. Ele pareceria um ser igual a ele, retirada a condição de taxista, of course. Pois não é que o inferior fala de história, de política, até, creia, de cultura e música, como se fosse um homem? O que é isso, que tempos são estes? Então, ao ver um aparelho de televisão, pede ao motorista para se atualizar com o noticiário.

- O senhor não prefere música? A tevê mente muito.

- Não, eu quero ver, por favor. (Em dúvida, rápido, aprendeu a usar “por favor”.)

E viu aparecer um barbudo, “é o Lula!”, ele se disse, mas era um Lula mais sereno, ponderado, a falar algumas coisas estranhas como redistribuição de renda, Brasil respeitado em todo o mundo, e, até mesmo, recomendar uma mulher, ex-presa política, como candidata à presidência do Brasil. Que é isso? Depois veio um careca, de olhos arregalados, sempre assustado, certamente com as coisas que o cidadão do disco voador via. O careca falava dos males da saúde, dos cuidados com a saúde, de educação com dois professores por sala, de segurança, da sujeira dos petistas, ah, sim, aqui, sim, estava o velho Brasil.  

Então o nosso brasileiro foi aos correios, como antes, para dar notícias aos antigos que chegou e está de volta. Para quê? Viu pessoas que nunca viram telegramas, que não sabem nem sequer se isso se come, que se metiam a enviar correspondências, atrapalhadas entre destinatário e remetente, era certo, mas ainda assim mui metidas a gente, perguntando as coisas mais disparatadas, mas metidas onde nunca fora o seu lugar. Em muitos pôde observar que ligavam de celular, tomavam água mineral, até mesmo comiam iogurte. Outros batiam e se batiam fotos. E, ousadia, vestidos em roupa de gente!        

Que tempo, que costumes. O que acontecera? Até parecia ter havido mudança na renda dos antigos brasileiros, e para melhor. Até parecia que todos copiavam a classe média como uma xerox absurda.  Então o nosso extraterrestre pensaria em voltar para o seu casulo, mas que não fosse tão distante. Por isso compraria uma banca de revistas  com televisão e rádio, e passaria a viver nessa estrela todos os dias. No ar e no papel do Brasil tudo estaria como antes. Que sorte, voar para uma nova galáxia sem sair do  ex-mundo. 
(Esse texto à feição de Fernando Soares, jornalista e escritor, vai em sua homenagem. Saúde, amigo.)

*Urariano Mota é jornalista, professor de português e escritor. Autor do livro “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do Cabo Anselmo, executada pela equipe de Fleury com o auxílio de Anselmo. Urariano é pernambucano, nascido em Água Fria e residente em Recife. É colunista do site “Direto da redação” e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”

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